quarta-feira, 9 de abril de 2008

A Terra Vermelha de Bamako


Dee Dee Bridgewater
Red Earth - A Malian Journey
Emarcy/Universal
Abril 2007
16/20

Um álbum de regresso às origens da simpática norte-americana radicada em França, que conquistou o público do CCB em Fevereiro de 2006, apresentando então o seu trabalho “J’ai deux amours” dedicado à música francesa (e com novos concertos agendados em Portugal para 2007 e 2008).
Red Earth - A Malian Journey é nas suas próprias palavras um regresso a casa, à terra vermelha de Bamako no Mali. Com ela levou o seu trio formado pelo pianista Edsel Gomez, o contrabaixista Ira Coleman e o baterista Minino Garay, a que se juntaram músicos locais dos quais destaco: Cheik-Tidiane Seck nos arranjos, Hammond e Rhodes, Djelimady Tounkara, na guitarra, Moriba Koïta e Bassekou Kouyate, no ngoni, Moussa Sissikho no djembe, Mare Sanogo no doum-doum e Moussa Sissoko no tama.
O álbum foi produzido pela própria cantora e pelo seu marido Jean-Marie Durand, tocando o filho de ambos, Gabriel Durand, guitarra numa das faixas.
Gravado no Mali a partir de temas tradicionais locais com novos arranjos, aos quais Dee Dee juntou Four Women, de Nina Simone, Afro Blue de Mongo Santamaria e Footprints de Wayne Shorter, clássicos do jazz afro-americano, e Meanwhile original do pianista Edsel Gomez e letra da própria cantora. Contou ainda com as participações vocais de Mamani Keïta, Ramata Diakité, Kabiné Kouyaté, Baba Sissoko e Oumou Sangare.
Mais do que um trabalho de fusão, este disco é uma obra de colaboração entre músicos americanos (Minino Garay é argentino…) e malianos, evocativo da música local e das raízes africanas do blues e do jazz.
É um trabalho extraordinário porquanto é raro ouvir músicos do Mali tocar nestas excelentes condições de produção. O resultado é riquíssimo, sobretudo na percussão, homogéneo e por vezes surpreendente.
O tema mais emblemático do disco é, para mim, o que lhe dá título. Poucas vezes ouvimos o cruzamento do blues e da música africana com a clareza desta faixa. Nela aparecem nuas as raízes africanas do blues. Cantado no dialecto local e tocado com recurso a instrumentos tradicionais, soa como se tivesse sido produzido em Chicago pela Chess Records nos anos 60… com Dee Dee a mostrar a sua garra como cantora de blues!
Afro Blue é uma verdadeira explosão de ritmo, transformado numa pérola mais afro que blues. Destaque igualmente para Bad Spirits, um casamento perfeito, vivo e contagiante entre o lirismo tradicional maliano e o afro-cuban jazz.
Mas não posso terminar sem realçar ainda o tema Compared to What, que consegue ser uma das incursões mais originais e conseguidas do disco: muito ritmo latino acompanham a guitarra e o piano carregados de blues, num fundo de percussão fantástico e contagiante – uma espécie de mambo/blues!? E ainda permitiu a colaboração de músicos de hip-hop francófono… Caramba! Um cocktail explosivo… num disco que não quer ser levado demasiado a sério. Apenas festejar a música…

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