sábado, 26 de abril de 2008

Jazz Impressionista


Marcin Wasilewski Trio
January
ECM 2008
16/20

Marcin Wasilewski é um jovem pianista polaco, nascido em 1975, formado pelo Koszalin High School of Music, onde conheceu Slawomir Kurkiewicz, datando a sua colaboração desde os tempos de escola, com apenas 15 anos de idade. Pouco depois conheceram Michal Miskiewicz e formou-se o trio. O reconhecimento internacional surgiria em 2001, pela sua colaboração na gravação do disco “Soul of Things” de Tomasz Stanko. Desde então passaram a integrar a formação do veterano trompetista polaco, quer em múltiplas digressões internacionais (passaram pela Culturgest em 20 de Fevereiro passado), quer em posteriores registos como o mais recente “Lontano”.
Enquanto trio gravaram em 2004 para a ECM o Simple Acoustic Trio, disco de estreia auspiciosa onde se puderam constatar as enormes capacidades do trio e o seu estilo elegante e coloquial de interpretar o jazz, claramente influenciado pela escola nórdica (ao que não será de todo alheia a produção de Manfred Eicher).
Este novo trabalho foi gravado em 2007 em Nova Iorque, uma vez mais com produção de Eicher para a ECM. É composto por cinco originais de Wasilewski aos quais juntaram os temas Vignette de Gary Peacock, Cinema Paradiso de Ennio Morricone (o tema romântico do filme), King Korn de Carla Bley, Balladyna do seu mentor Tomasz Stanko (gravado originalmente para a ECM no preciso ano do nascimento de Wasilewski) e ainda o inesperado Diamonds & Pearls de Prince.
Se quisesse resumir este trabalho numa única palavra teria se lhe chamar impressionista. Na verdade o modo elegante, sofisticado e por vezes coloquial como os temas são trabalhados pelo trio remetem de imediato para as pinceladas inspiradas de Monet, Degas ou Renoir. Wasilewski é um pianista capaz de transmitir uma profunda beleza nas suas melodias, entendendo-se maravilhosamente com o excelente Kurkiewicz no contrabaixo, com um fraseado atraente e fantasista, capaz de partilhar melodias com o piano ou contrapô-las com enorme à-vontade e a propósito (rubrica solos notáveis nomeadamente nos temas Balladyna, The Cat e The Young and Cinema). Miskiewicz por seu turno é um baterista minimalista que enriquece o som do trio através de subtis mas rebuscadas texturas.
O resultado é um som inconfundível, marcadamente ECM naquilo que a etiqueta alemã melhor representa no jazz moderno. Inspirado e inspirador.
Um disco extremamente homogéneo com dois ligeiros desvios, em Balladyna e sobretudo em King Korn, onde se sentem laivos de jazz mais livre e abstracto e também em The Young and Cinema onde o carácter cinemático do tema remete para ambientes mais swingados e revivalistas dos sixties.
Indiscutivelmente um trabalho maior de três dos melhores representantes da nova geração do jazz polaco e europeu, digno de uma audição atenta e amplamente compensadora.

Veja-se o trio em acção com Tomasz Stanko no tema "Little Thing Jesus" e bem assim no tema "Tale".

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