terça-feira, 30 de setembro de 2008

As Faces da Grande Depressão

Nesta época conturbada de crise financeira vale a pena lembrar as faces da grande depressão. O modo como a irresponsabilidade e ganância de alguns se repercutem na vida da maioria.
Um vídeo da autoria de Dale Caruso comissionado pela Farm Security Administration norte-americana. A partir de fotos de alguns dos melhores fotógrafos americanos, extraídas do catálogo da Biblioteca do Congresso e da Documenting America, e das músicas de Bridges of Madison County, Christopher Peacock, 10,000 miles, Mary Chapin Carpenter, three fisherman, a land filled with wonder e Mark Isham, deixo-vos com o Dust Bowl e o impacto negativo da grande depressão.
Uma lição para todos.

domingo, 28 de setembro de 2008

Herbie Hancock nos Açores



O mestre Herbie Hancock vai estar mais uma vez entre nós, depois das passagens deste Verão pelo Cool Jazz Fest e pelo Allgarve Jazz, desta feita no Angra Jazz.
Nascido em 1940 em Chicago, Hancock chegou ao estrelato ao integrar o quinteto de Miles Davis, no início dos anos 60. Com Miles Davis, Wayne Shorter, Herbie Hancock, Ron Carter e Tony Williams esta formação ocupa, para muitos, o lugar cimeiro não apenas entre as criadas pelo pai do cool, mas de toda a história do jazz!
Hancock revolucionou não apenas a estética jazzística com o seu Fender Rhodes, mas o próprio instrumento, ao adaptar-lhe um pedal de wah-wah e uma câmara de eco que passaram, por determinação de Harold Rhodes, o pai do piano eléctrico, a fazer parte, de série, dos modelos Rhodes vendidos a partir de meados da década de 60.
Nos anos 70 Hancock trilhou caminho pelo electrofunk e pelo fusion, mas também pela música clássica. Poucos pianistas têm ou tiveram uma carreira tão fecunda quanto Hancock, que já atravessa quatro décadas como um dos maiores pianistas da história do Jazz. E a sua popularidade está no auge, após o lançamento em 2007 do disco River: The Joni Letters, de homenagem à compositora canadiana Joni Mitchell, que lhe valeu a conquista do Grammy 2008 para o melhor disco do ano (o que aconteceu apenas pela 2ª vez a um disco de jazz. A primeira foi em 1965 à colaboração de Stan Getz com João Gilberto) além do prémio para o melhor disco de jazz contemporâneo.
Após 47 discos editados como líder, um Óscar (atribuído à banda sonora, da sua autoria, do filme ‘Round Midnight, de Bertrand Tavernier, com Dexter Gordon como protagonista) e 12 Grammys, entre muitos outros prémios, Herbie Hancock é uma referência na história da música e do jazz dos últimos quarenta anos.
A acompanhá-lo nos Açores vão estar Terence Blanchard no trompete, James Genus no contrabaixo, Lionel Loueke na guitarra, Gregoire Maret na hamónica e Kendrick Scott na bateria.
Seguramente o prato forte da edição 2008 do Angra Jazz.

05/10/2008 - 21.30h - Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo – Herbie Hancock Sexteto

Com o Quinteto de Miles Davis em 1963 em Estocolmo
Miles Davis trompete, Wayne Shorter sax, Herbie Hancock piano, Ron Carter contrabaixo e Tony Williams bateria


A dois pianos com Joe Zawinul


Canteloupe Island (Viena, 2004)
Com Dave Holland no e Brian Blade


River (2007) com Corinne Bailey Rae

Sheila Jordan em Portugal



A veterana cantora e compositora norte-americana Sheila Jordan, de 80 anos de idade, vai estar entre nós para uma séria de concertos em Outubro.
Sheila Jeanette Dawson nasceu em 18 de Novembro de 1928 em Detroit, Michigan, onde começou igualmente a sua carreira tocando piano e cantando em clubes locais, nos anos 40 do século passado. Fortemente influenciada por Charlie Parker fez parte do trio Skeeter, Mitch & Jean que compunha letras para os arranjos do Bird. Mudou-se para Nova Iorque em 1951 onde estudou harmonia e teoria musical com Lennie Tristano e Charlie Mingus. De 1952 a 1962 foi casada com o pianista Duke Jordan, que tocava habitualmente com Charlie Parker. No início dos anos 60 tocou no Page Three Club, em Greenwich Village, bem como em diversos bares de Nova Iorque. Em 1962 gravou "You Are My Sunshine" com George Russell e “Portrait of Sheila” para a Blue Note. Posteriores colaborações incluíram músicos como Don Heckman, Lee Konitz, Roswell Rudd e Steve Kuhn.
Nos anos 70 foi artista residente e docente no City College, gravou “Confirmation” pela Eastwind e “Sheila” pela SteepleChase, com o contrabaixista norueguês Arild Andersen. Em 1979 fundou um quarteto com Steve Kuhn, Harvie Swartz e Bob Moses.
Mais recentemente colaborou com George Gruntz, Harvie Swartz, Cameron Brown, Carla Bley e Steve Swallow.
Uma lenda viva do bebop, ao vivo em Portugal.

01/10/2008 - 21.00h – CCB (Lisboa) - Sheila Jordan Quartet
04/10/2008 - 21.30h – Malaposta (Odivelas) – Trio Maria Viana + Sheila Jordan
05/10/2008 - 21.30h – Centro Cultural de Cascais – Sheila Jordan
08/10/2008 - 23.00h – Hot Club (Lisboa) – Sheila Jordan 4teto

Sheila Jordan & Mike Nock (Billie Holliday Tribute)


The water is wide (Paris 2003)
Serge Forté piano, Karl Januska drums, Peter Herbert bass, Paolo Fresu trumpet and David Linx vocal

Agenda Jazz 29 de Setembro a 5 de Outubro


2ª feira 29 de Setembro

23.00h – Café Concerto (Vila Real) - Ana Capicua e Mário Paraíso

3ª feira 30 de Setembro

21.30h – Culturgest (Lisboa) - OrchestrUtopica (Festival Expresso Oriente)
22.00h – Casa da Música (Porto) - Luso-Skandinavian Avant Music Orchestra
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – Ruben Alves
23.00h – Café Concerto (Vila Real) - Duo Pagu

4ª feira 1 de Outubro

15.00h – Galeria Municipal (Marinha Grande) - Maestro Adelino Mota + Quarteto de Jazz da Academia Municipal das Artes da Nazaré
21.00h – CCB (Lisboa) - Sheila Jordan Quartet
22.00h – Cine Teatro de São João da Pesqueira - Fátima Serro/ Paulo Gomes
22.00h – Teatro Miguel Franco (Leiria) - Big Band do Município da Nazaré
22.30h – Ondajazz (Lisboa) - Abel Duërë
23.00h – Café Concerto (Vila Real) - Douro Jazz Marching Band

5ª feira 2 de Outubro

21.30h - Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo - Tom Harrel Quinteto
21.30h – Auditório do Centro Cultural de Chaves - Fátima Serro/ Paulo Gomes Quarteto
21.45h – ACERT (Tondela) - Carlos Barreto Lokomotiv
22.00h – Malaposta (Odivelas) - Duo Fernando Cupertino & Consuelo Quireze
23.00h – Salão Brazil (Coimbra) – Norberto Lobo
23.00h – Lisboa Lounge - Jorge Ferraz Trio
23.00h – Hot Club (Lisboa) - António Bruheim & Francisco Andrade 5teto
23.00h – Ondajazz (Lisboa) - Maria João Matos
23.00h – Café Concerto (Vila Real) - Pedro Cunha e Pedro Nunes
23.30h - Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo - Orquestra Angra Jazz com Mário Barreiros

6ª feira 3 de Outubro

18.00h – Centro Histórico da Régua - Dixie Train
21.30h - Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo – Mário Barreiros Sexteto
21.30h – Teatro Viriato (Viseu) – Pedro Carneiro
21.30h – Museu do Oriente (Lisboa) - LIU FANG
21.45h – ACERT (Tondela) – El Fad
22.00h – Alvaiázere - O'QueStrada + Melech Mechaya
22.00h – Casa das Artes (Famalicão) - Tango Quattro
22.00h – Museu do Chiado (Lisboa) - Aki Onda & César Burago & Sei Miguel
22.00h – Museu do Douro (Régua) - Dixie Train
23.00h – Hot Club (Lisboa) - António Bruheim & Francisco Andrade 5teto
23.30h - Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo - Bennie Wallace’s “Disorder at the Border”
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – Júlio Resende

Sábado, 4 de Outubro

11.00h – Centro Histórico de Vila Real - Dixie Train
18.00h – Centro Histórico de Lamego - Douro Jazz Marching Band
21.30h - Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo - Bobo Stenson Trio
21.30h – Malaposta (Odivelas) – Trio Maria Viana + Sheila Jordan
21.45h – ACERT (Tondela) - Alex Harding Trio Freeflow.
22.00h – Teatro Ribeiro Conceição (Lamego) - Quarteto de Sofia Ribeiro
22.00h – Teatro de Vila Real - Dixie Train
23.00h – Hot Club (Lisboa) - António Bruheim & Francisco Andrade 5teto
23.00h – Bejazz Café (Barreiro) - JB Ensemble
23.30h – Bar Novo Ciclo (Tondela) - Quimera Quinteto
23.30h - Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo - William Parker’s “Raining at the Moon”
23.30h – Ondajazz (Lisboa) - Shortcuts

Domingo, 5 de Outubro

16.00h – Theatro Circo (Braga) - João Frade Trio
21.30h - Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo – Herbie Hancock Sexteto
21.30h – Centro Cultural de Cascais – Sheila Jordan

sábado, 27 de setembro de 2008

Between Us And The Light



Leszek Mozdzer, Lars Danielsson & Zohar Fresco
Between Us And The Light
Outside Music, 2006

Já dei conta, nas presentes notas, do recente trabalho em duo do pianista polaco Leszek Mozdzer e do contrabaixista sueco Lars Danielsson, editado em 2007 pela ACT e denominado Pasodoble. Referi igualmente que essa primeira colaboração do duo sob a chancela da editora alemã ACT sucedia a duas outras colaborações anteriores, dessa feita em trio e com a participação do percussionista israelita Zohar Fresco, editadas na Polónia, ambas pela Outside Music.
É essa segunda obra, editada em 2006 e denominada Between Us And The Light, que vos trago agora.
Abstenho-me de tecer grandes considerações biográficas sobre os músicos, remetendo-vos antes para o artigo anteriormente publicado sob o título Pasodoble. Apenas o israelita Zohar Fresco é estreante nestas páginas.
Nascido em Israel, no ano de 1969 e descendente de judeus turcos, Fresco tornou-se conhecido como percussionista da cantora israelita de origem iemenita Noa. Virtuoso de muitos instrumentos, a sua técnica conjuga influências árabes, persas, indianas e turcas. Colaborou com vários ensembles, entre eles o Bustan Abraham, Ziryab Trio e Of Arabandi, e mostra-se à vontade nos mais variados ambientes musicais, do jazz à música erudita, passando naturalmente pelo pop e pela música tradicional do médio oriente. A sua versatilidade chamou a atenção de músicos de todo o mundo, resultando nas mais variadas colaborações de que são exemplo o Solis String Quartet de Itália, o grupo Efecto Mariposa e os músicos Alboka e Juan Mari Beltran de Espanha, o grupo Krotala da Grécia, o grupo italo-palestiniano Rádio Devish ou o israelita Eyal Sela, além de participações em bandas sonoras de filmes, tais como o 5º elemento e The Beautiful Country. Esta colaboração com Mozdzer e Danielsson sucede ao disco “The Time” gravado pelo trio em 2005.
Comparativamente a Pasodoble a presença de Fresco faz-se notar nesta obra. O universo nostálgico e contemporâneo do duo, surge aqui enriquecido pela composição, voz e percussão do israelita e temperado por um toque oriental que o torna, por vezes, muito sedutor.
Mas a abordagem de Mozdzer nesta obra é também muito diversa da de Pasodoble. Enquanto no disco de 2007 é o seu virtuosismo no piano e composição que se destacam, aqui surge um carácter experimentalista pontuado por frequentes incursões dos sintetizadores e dos samplers, os quais conjugados com a percussão de Fresco, imprimem um ar mais dub ou acid a esta obra.
Um compreensível piscar de olho à popularidade, que consegue em parte justificar o sucesso comercial da obra (vendeu mais de 20.000 exemplares, só nas duas primeiras semanas, após o lançamento!), mas não chega para lhe retirar a enorme valia técnica e artística.
Um disco ousado, que alterna ambientes clássicos e populares, electrónica e música árabe e indiana, tudo muito bem arrumado e servido com inegável maestria por três excelentes músicos de culturas e percursos muito diferentes.
Temos pois os elementos necessários para a criação de um grande disco de jazz, inovador, apelativo e com amplos espaços para o desenvolvimento das reconhecidas capacidades de improvisação dos músicos envolvidos.
Deixo-vos com o tema Psalmem, uma incursão do trio pelo universo salmódico escandinavo, talvez o mais nostálgico tema do disco, mas também um dos mais belos. As fotografias, da autoria de Juanjo Valverde, são da obra “La Vida en Albacete”.
Deixo também uma nova versão do tema “Pasodoble”, desta feita em trio.

Psalmem


Pasodoble

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Pintando com os Dedos



Fingerpainting: The Music of Herbie Hancock
Christian McBride, Nicholas Payton & Mark Whitfield
Verve 1997

Herbie Hancock vai estar de novo entre nós. Depois da sua presença este Verão no Cool Jazz Fest de Oeiras e no Festival Allgarve em Loulé, é a vez do Angra Jazz, na capital açoriana, acolher este grande mestre do jazz, cuja carreira decorre já há mais de 4 décadas. No ano da sua consagração nos Grammys com o álbum River, de homenagem à obra da canadiana Joni Mitchell, Portugal parece ter ficado definitivamente na rota do genial pianista norte-americano.
Mas Hancock nem precisava do Grammy de melhor álbum do ano (num registo que muitos acusam de demasiado discreto, para o incontornável talento do pianista) para entrar nos anais do jazz… Desde 1962 que assina uma carreira notável, com 54 registos como líder, colaborações com músicos como Miles Davis, Wayne Shorter, Grant Green, Lee Morgan, Joni Mitchell, Jaco Pastorius, Ron Carter ou Quincy Jones, entre dezenas de outros e 12 Grammys conquistados! Um músico verdadeiramente ímpar e uma referência incontornável da música norte-americana dos últimos 35 anos.
Os seus temas há muito se transformaram em jazz standards e a sua obra é de tal modo referencial para os amantes do jazz que os discos de homenagens têm-se sucedido ao longo dos anos a um ritmo alucinante.
Um dos mais originais exemplos é este Fingerpainting, The Music of Herbie Hancock, em que a obra do pianista é revisitada por um original trio composto por contrabaixo, guitarra e trompete. Os músicos envolvidos são Christian McBride, Nicholas Payton e Mark Whitfield, os quais gravaram em 1997, sob a chancela da Verve, esta preciosa compilação de 14 temas escritos por Hancock, entre 1962 e 1979. Ao invés de buscarem apenas os mais conhecidos temas do pianista, optaram por injectar juventude a alguns temas imerecidamente mais obscuros na sua longa carreira, tais como Sly ou Fingerpainting, que dá nome ao disco. Entre as composições injustamente esquecidas está o magnífico Driftin’, cujo vídeo (com fotos de Guenter Eh, extraídas do seu trabalho London Street Art) poderão apreciar um pouco adiante.
Christian McBride é um dos mais extraordinários contrabaixistas da sua geração, facto que ressalta, com evidência, na presente gravação e particularmente no tema Driftin’. Nicholas Payton, trompetista de New Orleans e admirador confesso do mestre Louis Armstrong, rubrica aqui também uma notável gravação, plena de técnica e criatividade. Quanto a Whitfield, a figura menos mediática do trio apesar de também ele pertencer à geração dos young lions e ter acompanhado nos anos 80 cantoras tão importantes quanto Betty Carter e Carmen McRae, aparece rejuvenescido e com uma admirável capacidade para manter coeso este estranho trio (sem prejuízo de rubricar também solos de grande valia, como em Tell Me A Bedtime Story), que serve precisamente para demonstrar o valor de um bom desafio à capacidade de improvisação de músicos deste gabarito, sobretudo quanto têm ao seu dispor material da qualidade do produzido por Herbie Hancock.
Uma verdadeira jóia a descobrir.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Howard S. Becker e Robert Faulkner com Carlos Barretto no Salão Brazil


Teoria e prática do jazz em concerto no Salão Brazil

O Salão Brazil, na Baixa de Coimbra, acolhe, na próxima quarta-feira, dia 24 de Setembro, a partir das 16h30, um concerto de jazz onde o contrabaixista Carlos Barretto se juntará aos reputados sociólogos (e músicos) Howard S. Becker (piano) e Robert Faulkner (trompete). O concerto fará parte de uma sessão em torno do jazz e da lógicas de organização colectiva do trabalho artístico, uma temática que tem vindo a ser desenvolvida nos últimos anos por estes dois importantes sociólogos norte-americanos.

Howard S. Becker e Robert Faulkner, autores de "Do you Know? Jazz Repertoire in Action" (Chicago University Press: 2008), livro que será apresentado publicamente pela primeira vez durante esta sessão, tentarão fornecer-nos pistas para a resolução de um simples problema, que identificam da seguinte forma: "Em milhares de lugares, todas as noites, na Europa, nos Estados Unidos e em muitos outros sítios no mundo, algo semelhante a isto acontece. Vários músicos que poderão não se conhecer, encontram-se para tocar. Tocam várias horas, sem qualquer tipo de ensaio, apenas com música escrita de forma rudimentar (se sequer a tiverem), e a sua performance é satisfatória, para o contentamento dos seus empregadores e audiências. A nossa questão é: como é que eles conseguem fazer isto? Que conhecimento e competências precisam para conseguir actuar com sucesso este feito de actividade coordenada?".

Não conhecendo previamente o contrabaixista português, Becker e Faulkner "encenarão" com Carlos Barretto este tipo de encontro entre músicos de jazz, onde a performance acontece mesmo sem pautas. Após o concerto, debater-se-ão algumas das questões que emergirem durante a sessão. O debate contará com a presença de Rui Eduardo Paes, o editor da revista jazz.pt, única publicação em Portugal exclusivamente dedicada ao jazz e às músicas improvisadas.

A presente iniciativa, que se integra nas celebrações dos 30 anos do Centro de Estudos Sociais e dos 20 anos da licenciatura em Sociologia da Faculdade de Economia, conta com a colaboração do Jazz ao Centro Clube.

Programa completo

24 de Setembro, 16.30 horas
Largo do Poço - Baixa de Coimbra
Salão Brazil

Conferência "Os repertórios do jazz americano"
Concerto com H. S. Becker (piano), R. Faulkner (trompete) e Carlos Barretto (contrabaixo)
seguido de debate, com participação de Rui Eduardo Paes (jazz.pt - revista bimestral de Jazz)

25 de Setembro, 17.00 horas
Sala Keynes, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Seminário "O Trabalho de Campo e a Observação Participante"

Organização
Centro de Estudos Sociais
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

Colaboração
JACC - Jazz ao Centro Clube
http://www.jacc.pt

Jazzin’ Tondela 2008


Vai decorrer ainda entre os dias 2 e 4 de Outubro o 5º Festival de Jazz ACERT (Associação Cultural e Recreativa de Tondela), denominado Jazzin' Tondela. Durante três dias celebra-se o jazz naquela cidade beirã, sendo apresentados quatro projectos: Lokomotiv de Carlos Barretto, com Mário Delgado e João Salgueiro; El Fad de José Peixoto (o ex-guitarrista dos Madredeus), com Carlos Zíngaro, Miguel Leiria Pereira e o percussionista Vicky; Freeflow do saxofonista norte-americano Alex Harding, com Chris Dahlgren e Jimmy Weinstein; e ainda o Quimera Quinteto, a fechar, grupo viseense que conta com Nuno Silva no acordeão, Miguel Cardoso no contrabaixo, André Ramos Cardoso na guitarra, Rute Simões no piano e Carlos Ferreira no violino, que se dedica sobretudo à obra do compositor argentino Astor Piazzolla.

O programa completo é o seguinte:

2 de Outubro, 21.45h
Carlos Barretto Lokomotiv

3 de Outubro, 21.45h
El Fad Quarteto

4 de Outubro, 21.45h
Alex Harding Trio Freeflow

4 de Outubro, 23.30h (Bar Novo Ciclo)
Quimera Quinteto

Angra Jazz 2008


O Angra Jazz realiza-se anualmente em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, organizado pela associação cultural Angrajazz e pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. Desde 1999 e sempre por volta do feriado de 5 de Outubro o jazz acontece em Angra, primeiro no claustro setecentista do Museu de Angra e mais recentemente no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo. Pelo Angra Jazz têm passado nomes importantes do jazz nacional e internacional, tais como o Frank Morgan Quinteto, Toots Thieleman, John Scofield, Richard Galliano, Paolo Fresu, Kenny Barron, Karryn Allison, Scott Hamilton, Martial Solal, Regina Carter, Birelli Lagréne, Mark Murphy, Esbjorn Svensson, Dave Holland, Joe Lovano, Enrico Pieranunzi, Roberta Gambarini, Benny Golson, Jim Hall, o Gary Bartz Quarteto, Russell Malone, Benny Green, o Ray Drummond Trio, entre outros, ou os portugueses Mário Delgado, Paula Oliveira, Filipe Melo e a Big Band do Hot Club de Portugal. Mas o festival tem permitido igualmente a apresentação de músicos açoreanos, tendo mesmo constituído a Orquestra Angra Jazz, dirigida por Pedro Moreira e Claus Nymark, mas constituída exclusivamente por músicos da ilha Terceira.
Para esta edição de 2008, estão programados o Quarteto de Tom Harrel, a Orquestra Angrajazz com Mário Barreiros, o Mário Barreiros Sexteto, o Benny Wallace Noneto, o Trio de Bobo Stenson, o William Parker Sexteto e, a fechar, o sexteto de Herbie Hancock.
É pois um programa de luxo, de fazer inveja a muitos festivais de jazz que se vão realizando por esse mundo fora…
Os preços contidos, variam entre os 5 e os 15€ por espectáculo, sendo igualmente possível adquirir a série para todos os espectáculos, com preços que vão dos 20€ aos 40€.
Fica pois o convite, para o que deixo o programa completo:

5ª feira, 2 de Outubro
18.00h – Lançamento do Livro “O Jazz na Terceira – 80 Anos de História” de João Moreira dos Santos e António Rúbio
21.30h – Tom Harrel Quinteto
23.30h – Orquestra Angra Jazz com Mário Barreiros

6ª feira, 3 de Outubro
21.30h – Sexteto de Mário Barreiros
23.30h – Bennie Wallace’s “Disorder at the Border”

Sábado, 4 de Outubro
21.30h – Bobo Stenson Trio
23.30h – William Parker’s “Raining at the Moon”

Domingo, 5 de Outubro
21.30h – Herbie Hancock Sexteto

Durante o festival vai decorrer a venda de artigos Angrajazz, a feira de discos de jazz e uma exposição de fotografia de Jorge Monjardino.

Mais informação poderá ser obtida no site do festival em http://www.angrajazz.com/2008/.

domingo, 21 de setembro de 2008

John Abercrombie na Marinha Grande



O destaque desta semana vai inteirinho para a presença entre nós do guitarrista norte-americano John Abercrombie, cuja actuação está marcada para o próximo Domingo, 28 de Setembro, pelas 22.00h no Sport Operário Marinhense (Marinha Grande), integrado no programa do Festival de Jazz da Alta Extremadura.
Abercrombie nasceu em 1944, em Port Chester, no Estado de Nova Iorque, mas passou a sua infância em Greenwich, no estado de Connecticut. Começou a tocar guitarra aos 14 anos, na altura mais preocupado em imitar os ídolos do rock dos anos 50, como Chuck Berry do que em aperfeiçoar a sua técnica… Formou-se contudo em 1967 pelo Berklee College of Music, de Boston, onde conheceu e tocou com músicos como Johnny Hammond e os irmãos Brecker. Mudou-se para Nova Iorque em 1969. E foi nos bares nova-iorquinos que conheceu e tocou com músicos como Gil Evans, Gato Barbieri e Barry Miles, entre outros, até ser convidado a integrar o grupo de Chico Hamilton. Mas o sucesso apareceu quando integrou o grupo de Billy Cobham, juntamente com os irmãos Michael e Randy Brecker.
Este sucesso levou-o a várias tournées com Cobham. Numa delas, no festival de jazz de Montreux, conheceu Manfred Eicher que o convidou a gravar para a ECM. Assim apresentou em 1975 o seu primeiro disco pela ECM, a que chamou Timeless, com Jan Hammer e Jack DeJohnette. Seguiu-se, ainda em 1975, Gateway, com DeJohnette e o contrabaixista Dave Holland (que tem espectáculo marcado para Portugal, no próximo mês de Outubro no Seixal Jazz) e um segundo Gateway em 1978. Em 1979 fundou o seu quarteto, com o pianista Richie Beirach, o contrabaixista George Mraz e o baterista Peter Donald. O quarteto gravou três discos: Arcade, Abercrombie Quartet, e M. Entretanto colaborou noutras gravações da ECM, com músicos como Jack deJohnette (nos discos Directions e Now Directions) e Ralph Towner (Sargasso Sea e Five Years Later).
Em trio gravou com Mark Johnson e Peter Erskine (Current Events, Getting There, em que participa como convidado Michael Brecker e John Abercrombie/Marc Johnson/Peter Erskine) mas também com Vince Mendoza e John Christensen (Animato)e Dan Wall e Adam Nussbaum (While We're Young, Speak of the Devil, Tactics). Mais recentemente podemos ouvi-lo em quarteto, com Mark Feldman, Marc Johnson & Joey Baron (Class Trip, e The Third Quartet que irá ser apresentado em Portugal).
Pelo caminho ficam outras colaborações importantes com músicos como Henri Texier, Kenny Wheeler, Marc Copland, Jeff Palmer, Lonnie Smith e muitos outros.

É pois um nome incontornável do jazz norte-americano das últimas décadas que vai estar entre nós, num espectáculo onde se vai apresentar ao lado de outros grandes músicos como são inquestionavelmente o contrabaixista Thomas Morgan (infelizmente Marc Johnson não vai estar presente em Portugal), o baterista Joey Baron e o violinista Mark Feldman.
Só tenho pena que esta oportunidade não se estenda com outras apresentações pelo país… (pela grande Lisboa, por exemplo!).
Aos mais ansiosos e bem assim aos que não vão poder deslocar-se à Marinha Grande para ouvir The Third Quartet, deixo quatro vídeos de Abercrombie encontrados no Youtube, referentes a vários períodos e diversas colaborações do guitarrista.
Espero que gostem.

Good Measure & Andy Given Time – Duo com Andy LaVerne


The Well – Com John Patitucci, Peter Erskine & Bob Mintzer


Improvisation #3 (Solar) – Com Greg Osby


Alice In Wonderland – a solo

Agenda Jazz 22 a 28 de Setembro


2ª feira, 22 de Setembro

00.00h – Fábrica Braço de Prata (Lisboa) - Duncan Heinz/ Bruno Margalho

3ª feira, 23 de Setembro

22.30h – Ondajazz (Lisboa) – The Young Cats

4ª feira, 24 de Setembro

16.30h – Salão Brazil (Coimbra) - H. S. Becker/ R. Faulkner/ Carlos Barreto
22.00h – HotFive (Porto) - Jam Session Porto AllStars
22.00h – Jazz ao Norte (Matosinhos) - Samuel Quinto Piano Solo
22.30h – Ondajazz (Lisboa) - Triângulo
23.00h – Hot Club (Lisboa) - Benny Lackner Trio

5ª feira, 25 de Setembro

21.30h – Livraria Trama (Lisboa) - Benny Lackner Trio
23.00h – Hot Club (Lisboa) - Quarteto de Jorge Moniz
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – João Pires
23.00h – Centro Cultural o Século (Lisboa) - LUÍS LOPES + MIGUEL MIRA + GABRIEL FERRANDINI

6ª feira, 26 de Setembro

22.00h - Auditório Municipal Ruy de Carvalho (Carnaxide) - Tom Harrell Quintet
22.00h – Hotfive (Porto) - Groove 4tet
22.00h - Centro de Artes (Sines) - Cristina Branco & Ricardo Dias
22.00h - Centro Cultural Olga Cadaval (Sintra) - Paulo de Carvalho & Mafalda Sacchetti & Agir & Otis
22.00h - Sport Operário Marinhense (Marinha Grande) - André Fernandes Quarteto «Cubo»
22.30h – Livraria Trama (Lisboa) - Concertos Sem GPS
23.00h – Centro Cultural Vila Flor (Guimarães) - Nuno Costa
23.00h – Hot Club (Lisboa) - Quarteto de Jorge Moniz
23.00h – Largo do Chafariz (Lisboa) - Variable Geometry Orchestra
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – Cícero Lee 5teto

Sábado, 27 de Setembro

21.30h - Biblioteca Municipal Santo André (Santiago Cacém) - Melech Mechaya
21.30h - Centro de Artes e do Espectáculo (Sever Vouga) - Ana Paula Sousa Quarteto
21.45h – ACERT (Tondela) - Kunkas Manouche Quartet
22.00h - Teatro Miguel Franco (Leiria) - Tom Harrell Quintet
22.00h - Auditório Municipal Ruy de Carvalho (Carnaxide) - Quarteto Laurent Filipe
22.00h – Hotfive (Porto) - Budda Power Blues
22.00h – Contrabaixo Bar (Mira) - Steven Delannoye/ Lionel Beuvens/ Yannick Peeters
23.00h – Bacalhoeiro (Lisboa) – Farra Fanfarra
23.00h – Hot Club (Lisboa) - Quarteto de Jorge Moniz
23.00h – Elevador do Lavra (Lisboa) - André Santos, Bruno Pernadas, César Cardoso, Zé Maria
23.00h – Bejazz Café (Barreiro) - Mr. Blues
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – Benny Lackner
00.00h – Fábrica Braço de Prata (Lisboa) – João Paulo

Domingo, 28 de Setembro

17.00h - Jardim da Estrela (Lisboa) - Maria João & Mário Laginha
22.00h – Hotfive (Porto) - Alberto Índio & António Mão de Ferro
22.00h - Sport Operário Marinhense (Marinha Grande) - John Abercrombie «The Third Quartet»
23.00h - Centro Cultural O Século (Lisboa) – Kasutera
00.00h – Fábrica Braço de Prata (Lisboa) – Júlio Resende

sábado, 20 de setembro de 2008

Searching For Adam


Rodrigo Amado
19 de Setembro de 2008, 21.30h
Grande Auditório da Culturgest (Lisboa)
***,5

À procura de Adam personifica a busca de Rodrigo Amado de uma linguagem artística própria, enquanto músico e fotógrafo. Através de um espectáculo transdisciplinar este saxofonista português, nascido em 1964 e formado na escola do Hot Club de Portugal, apresenta-nos o resultado dessa busca, efectuada com recurso à música improvisada mas também pela projecção simultânea de uma sequência de fotos, captadas pela lente de Rodrigo Amado e organizada também de forma improvisada pelo fotógrafo Guillaume Pazat, das ruas e gentes de Nova Iorque. Esta cidade, onde Amado residiu, funciona como uma metáfora do mundo inteiro, atentas as suas características de metrópole que une uma enorme variedade de raças, estilos e formas de vida, em aparente completa liberdade.
Rodrigo Amado é o líder dos Lisbon Improvisation Players, formação ímpar na busca de uma estética experimental e totalmente improvisada no jazz nacional. Paralelamente envolveu-se em inúmeros projectos na área do pop (Mão Morta, Plopoplot Pot, RAUM), colaborou com músicos como Jorge Palma, Xutos e Pontapés, Pop del Arte ou Rádio Macau e, na área do jazz, tocou com Dennis Gonzalez, Peter Epstein, Carlos Zíngaro, Steve Swell. Ken Filliano ou Steve Adams, entre muitos outros.
Amado é ainda coordenador para a área de jazz do jornal Público e fundador, juntamente com Pedro e Carlos Costa, da editora de jazz Clean Feed.
Nesta sua viagem interdisciplinar pelas ruas de Nova Iorque trouxe a acompanhá-lo três músicos norte-americanos: o trompetista Taylor Ho Bynum, o baterista Gerald Cleaver e o contrabaixista John Hebert.
Estas três figuras, embora nem todos naturais de Nova Iorque (Cleaver é de Detroit e Hebert da Louisiana), constituem importantes nomes da música improvisada nova-iorquina. Figuras chave da “downtown music scene”, dispostas a contribuir, cada uma de forma marcadamente pessoal, para a construção desta viagem simbólica pelo espírito da cidade que nunca dorme, conduzida pelo saxofone de Amado.
Todos eles são tecnicistas exímios mas com uma apetência inegável pela experimentação, pela busca incessante de novas sonoridades e novas potencialidades musicais dos respectivos instrumentos. John Hebert tem sido aliás visita frequente no nosso país, depois de recentemente ter-se apresentado ao lado de Marc Copland, Michael Attias e Júlio Resende. Contrabaixista de enormes recursos, técnicos e estéticos, é peça fulcral deste improviso nova-iorquino pela irreverência e riqueza rítmica que imprime às suas apresentações. Gerald Cleaver alterna a força pujante dos ritmos afro-americanos com a subtileza textural da música contemporânea, complementando exemplarmente a irreverência rítmica do conjunto. Já nos metais ressalta o contraste. Por um lado a estética abstracta mas melódica do saxofone de Amado, onde o lirismo latino não consegue passar despercebido, mesmo por entre os milhões de apressados nova-iorquinos. Por outro a crua visceralidade do trompete de Bynum, sempre pronto a rasgar convenções e captar, nas mais pequenas nuances, caminhos novos a percorrer nesta busca de uma estética experimental, deste Adam na personificação de Amado, que também aparenta ser a sua.
O resultado, longe da heterogeneidade previsível, aparece pelo contrário unificado sob as fotos de Amado. Nova Iorque é a Big Apple, a cidade das mil luzes, onde todas as culturas, estéticas e raças confluem. Nova Iorque é heterogénea e improvisada como a música deste quarteto.
Por isso não tenho dúvidas em afirmar que senti a presença de Nova Iorque neste Searching For Adam, e isso parece-me o maior elogio que é possível fazer a este trabalho de Rodrigo Amado.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Agenda Braço de Prata


4ª feira, 17 de Setembro

22.30h - Sala Nietzsche - Pocket Trio – Jazz
Massimo Cavalli e convidados

5ª feira, 18 de Setembro

22.30h - Sala Prado Coelho - Kasutera

23.00h - Sala Nietzsche - Flor de Lis
Daniela Varela – voz
Paulo Pereira – Sopros
José Camacho - Guitarra Portuguesa
Jorge Marques – guitarra
Rui Sá – Acordeón
Rolando – Baixo
Pedro Marques – Percussão

6ª feira, 19 de Setembro

22.30h - Sala Prado Coelho - Enigmazz" – JAZZ
Gonçalo Prazeres - Sax Alto
Pedro Pinto - Contrabaixo
Pedro Viana – Bateria

22.30h - Sala Nietzsche - Assim falava Jazzatustra
Com Júlio Resende e convidados

23.00h - Sala Visconti - Estado Sónico

00.00h - Sala Prado Coelho – Nicole Eitner

00.00h - Sala Nietzsche - Pura Mistura

Sábado, 20 de Setembro

22.00h - Sala Prado Coelho - Duas histórias que foram a mesma – JAZZ
Piano - Luís Barrigas
Saxofone - Zé Maria

23.00h - Sala Nietzsche - Penicos de Prata
André Louro: composição, guitarra e voz
João Lima: guitarra portuguesa e voz
Catarina Santana: ukulélé e voz
João Paes: violoncelo e voz

23.30h - Sala Prado Coelho – Fado
Hélder Moutinho e convidados

Domingo, 21 de Setembro

17.00h - Sala Nietzsche - Um Aviãozinho militar!
Nuno – texto e maracas
João – guitarra
Ruizinho – piano
João Pedro - baixo

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Di Meola Plays Piazzolla



Al di Meola
Di Meola Plays Piazzolla
Atlantic 1990

Ainda no rescaldo do magnífico concerto de Al di Meola na Aula Magna, o qual versou sobretudo sobre a obra do compositor argentino Astor Piazzolla, não resisti a uma audição renovada da primeira abordagem discográfica da obra de Piazzolla pelo guitarrista norte-americano, a qual sucedeu em 1990 no disco Di Meola Plays Piazzolla, editado pela Atlantic.
Nesta obra notável, di Meola propõe uma abordagem diferente do "tango nuevo" de Piazzolla. Não circunscrito a um ambiente totalmente acústico, as duas guitarras (a segunda entregue a Chris Carrington) aparecem acompanhadas pelo bandaneon de Dino Saluzzi, pela percussão de Gumbi Ortiz e do arménio Arto Tuncboyaciyan, mas também pelos teclados de Hernan Romero e por um ensemble de cordas, com arranjos de Vince Mendoza.
O ambiente é menos intimista do que o obtido no projecto New World Sinfonia, convidando igualmente menos aos virtuosos arranques de Meola na guitarra. Não obstante é uma abordagem plenamente conseguida, carregada de nostalgia e onde a transposição das complexas partituras de Piazzolla para a guitarra surge impecável, sobrando mesmo espaço para a improvisação dos solistas, sobretudo obviamente para a guitarra de Meola.
A presença sintetizada das teclas pode hoje soar um pouco datada, afinal de contas já passaram 18 anos desde esta gravação, não obstante contribui para a consolidação do ambiente característico de Piazzolla, com um notável trabalho de Hernan Romero que inclui igualmente a presença do piano e do charango, pequeno instrumento de cordas sul-americano, da família do alaúde, e construído tradicionalmente a partir da carapaça de um tatu.
Esta obra serve igualmente para constatar a antiga paixão de Meola por Piazzolla (afinal parece que o guitarrista norte-americano começou por tocar acordeão… E qual é o acordeonista que não ama a obra de Piazzolla?) que tem alimentado diversos projectos da sua carreira, ao mais recente dos quais me rendi ontem na Aula Magna, em Lisboa. Mas também serve de consagração para o seu incontornável talento como arranjador e compositor, usando em sucessivas ocasiões e de modo perfeitamente pertinente, a obra do genial compositor argentino como mote para as suas notáveis composições, designadamente para os trabalhos que desenvolveu para ensembles de maior envergadura e para orquestra de câmara.
Aliás é a partir deste trabalho que surge, um ano depois, o projecto World Sinfonia (na sua primeira versão de 1991), protagonizado exactamente pelos mesmos músicos atrás referidos, subtraída a presença das teclas de Romero e do ensemble de cordas. O repertório incide uma vez mais em Piazzolla, mas desta feita complementado por obras originais de Meola e bem assim de outros compositores como Steve Swallow, Chick Corea, Dino Saluzzi e Augustin Barrios.
Um disco importante, por isso, na carreira de Meola e que se ouve, 18 anos volvidos, com o mesmo prazer de sempre.
A ilustrá-lo deixo o tema “Oblivion”, um dos mais famosos do mestre bandaneonista argentino, hoje convertido num verdadeiro hino à sua genialidade, acompanhado de fotos da autoria de Lorin Niculae, extraídas do seu trabalho “Italy – emotions” e que, a meu ver, se integram muito bem no espírito nostálgico do tema.

Al di Meola na Aula Magna



Al di Meola
Aula Magna (Lisboa)
15 de Setembro de 2008, 22.00h
*****

Um concerto absolutamente fantástico!
Confesso que quando me dirigia para a Aula Magna fervia de dúvidas, quanto ao espectáculo que me iria ser proporcionado por este extraordinário guitarrista, tão virtuoso quanto versátil.
Al di Meola é assim mesmo… Tanto pode tirar da cartola uma espantosa exibição de guitarra eléctrica, com pedal de distorção e tudo, capaz de seduzir os mais acérrimos seguidores da estética hard rock, como pode proporcionar uma noite totalmente acústica, de flamenco, tango ou guitarra clássica.
Aliás essa é, por vezes, a grande dificuldade de vários grandes e raros talentos na guitarra. Demasiado protagonistas (fruto frequente da mitificação a que são sujeitos), perdem-se em exibições gratuitas de técnica, incapazes de desenvolver uma estética própria e coerente.
Felizmente nada disso se passou nesta apresentação na Aula Magna, muito pelo contrário.
Al di Meola apresentou-se de forma simples, com uma única guitarra acústica, e acompanhado de três extraordinários músicos: Fausto Beccalossi no acordeão, Peo Alfonsi na segunda guitarra (que tarefa ingrata…) e Gumbi Ortiz na percussão (sobretudo cajón).
O repertório incidiu sobre a obra de Astor Piazzolla, complementada por vários originais do guitarrista e por dois temas italianos, Cinema Paradiso de Ennio Morricone e No Potho Reposare, tema tradicional sardo, com que Meola fechou o espectáculo, em segundo encore. No entanto o fantasma de Piazzolla pairou sobre toda a apresentação. Mesmo nos temas não compostos pelo mestre argentino, os arranjos, sobretudo assentes na guitarra de Meola e no acordeão de Beccalossi, puxaram sempre para o universo riquíssimo do “nuevo tango” argentino, maravilhosamente temperado pelo salero da guitarra gitana e pela nostalgia mediterrânica.
E estes dois fantásticos protagonistas entenderam-se às mil maravilhas. Um dueto senão improvável pelo menos raro, mas plenamente conseguido. O reconhecido virtuosismo de Meola encontrou um par notável no acordeão de Beccalossi (o norte-americano confessou mesmo ter sido esse o seu primeiro instrumento de eleição, que abandonou contudo por ser demasiado difícil…), originando uma maravilhosa sonoridade latina que funde o tango com o flamenco e com o folclore italiano, sempre com o jazz à espreita nos notáveis solos rubricados por ambos os músicos.
Mas o contributo dos restantes músicos não pode ser menosprezado. O menor protagonismo da segunda guitarra de Alfonsi escondeu todavia uma inegável competência na tarefa essencial de fornecer um cenário harmónico e rítmico às notáveis exibições de virtuosismo dos dois solistas, o mesmo sucedendo com a percussão, entregue a Ortiz, responsável por boa parte do universo flamenco que caracterizou a apresentação e pela força característica que o cajón introduz na mesma.
O resultado foi verdadeiramente notável. Em ambiente informal (dir-se-ia que estávamos numa alegre tertúlia de amigos, num qualquer bar andaluz ou de Buenos Aires), reforçado pela simpatia e acessibilidade de Meola (que não hesitou em cumprimentar o público no final do espectáculo e proporcionar uma descontraída sessão de autógrafos no lobby da Aula Magna), viajámos encantados pelo universo musical de Meola e seus pares, durante duas horas sublimes, que removeram quaisquer dúvidas quanto às enormes capacidades criativas deste grande guitarrista, que se afirmou como compositor e arranjador exímio, cuja valia supera amplamente o mero repositório das suas famosas capacidades técnicas e interpretativas da guitarra. E saí ainda com a convicção de ter presenciado a ascensão de uma nova estrela, que desconhecia por completo (mea culpa…): a do acordeonista italiano Fausto Beccalossi.
Um grande concerto de Al di Meola, que terminou em Lisboa o seu périplo europeu deste Verão, rumando agora aos Estados Unidos onde, provavelmente, novas apresentações deste notável trabalho estarão previstas.
Se entrei com dúvidas na Aula Magna, saí completamente esclarecido por uma exibição única de talento e musicalidade.
Não resisto a deixar-vos um vídeo-amador do tema com que Meola encerrou o espectáculo: No Potho Reposare, do cancioneiro tradicional sardo, com uma chapelada à colega bloguista Ana V. (aka A Mesa de Luz).

Al di Meola, Fausto Beccalossi & Peo Alfonsi - No Potho Reposare

domingo, 14 de setembro de 2008

OJM & Kurt Rosenwinkel



Esta semana vamos ter oportunidade de assistir a dois concertos da Orquestra de Jazz de Matosinhos, versando originais e tendo como solista o guitarrista norte-americano Kurt Rosenwinkel.
Apesar de jovem, nasceu em 1970 em Filadélfia, Rosenwinkel ganhou cedo um lugar de destaque entre os músicos da sua geração. Formado pelo Berklee College of Music, de Bóston, deixou os estudos após pouco mais de dois anos de frequência para acompanhar o deão da academia, à altura, Gary Burton, numa tounée. Foi influenciado no início sobretudo por Pat Metheny e Paul Scofield. No entanto pouco tardou até desenvolver o seu próprio estilo, longo e linear, que muitos comparam a John Coltrane ou Keith Jarrett.
Mudou-se para Brooklyn, onde apurou a sua abordagem da guitarra, tornando-se um dos mais aclamados guitarristas norte-americanos da sua geração. Em Nova Iorque apresentou-se com Human Feel, Paul Motian's Electric Bebop Band, Joe Henderson Group, e o Brian Blade Fellowship. Em 1995, com 25 anos de idade, venceu o prémio de compositor pelo prestigiado National Endowment for the Arts e assinou contrato com a Verve. Desde então tem gravado regularmente como líder e co-líder de projectos com alguns dos mais prestigiados músicos de jazz norte-americanos, tais como Brad Mehldau, Mark Turner, Joshua Redman, Aaron Goldberg ou Eric Harland.
É pois com curiosidade que vamos poder assistir a esta nova colaboração de destaque da Orquestra de Jazz de Matosinhos (depois de Lee Konitz & Ohad Tamor, Chris Cheek, Dee Dee Bridgewater, John Hollenbeck, Perico Sambeat, Thad Jones & Bob Brookmeyer, Dieter Glawischnig e Jim McNeely) a que se seguirão, em Novembro, novas colaborações, já anunciadas, com Chris Cheek, Mark Turner e Joshua Redman.
Como aperitivo deixo um vídeo (em três partes) da actuação do quinteto de Rosenwinkel no Festival de jazz de Viena, em 2004, com Brad Mehldau, Joshua Redman, Larry Grenadier e Ali Jackson.

USE OF LIGHT/THE NEXT STEP
Festival de Jazz de Viena 2004, com Brad Mehldau (piano), Joshua Redman (saxofone), Larry Grenadier (contrabaixo) e Ali Jackson (bateria)


Agenda Jazz 15 a 21 de Setembro


2ª feira, 15 de Setembro
22.00h – Aula Magna (Lisboa) – Al di Meola
00.00h – Braço de Prata (Lisboa) - Variable Geometry Orchestra

3ª feira, 16 de Setembro
22.30h – Ondajazz (Lisboa) - Mick Mengucci Duo

4ª feira, 17 de Setembro
22.00h – Hotfive (Porto) - Jam Session Porto AllStars
22.30h – Ondajazz (Lisboa) - Triângulo

5ª feira, 18 de Setembro
21.30h – Institut Franco-Portugais (Lisboa) - Couleur Café
21.30h – Livraria Trama (Lisboa) - B (Fachada) + Kobanga-te Trio
22.00h – Casa da Música (Porto) - Rodrigo Amado “Searching For Adam”
22.00h – Horfive (Porto) - MD Quarteto
22.00h – Centro Cultural de Estremoz - Jeff Davis trio
23.00h – Hotclub (Lisboa) - Rodrigo Gonçalves 5teto
23.00h – Ondajazz (Lisboa) - Carlos Barretto Solo Pictórico

6ª feira, 19 de Setembro
21.30h – Culturgest (Lisboa) - Rodrigo Amado Searching for Adam
21.30h - Auditório da Biblioteca Municipal (Aljustrel) - Orquestra Jazzmin
21.30h - Teatro José Lúcio da Silva (Leiria) - Maria João e Mário Laginha + Big Band do Hot Club de Portugal
21.30h – Auditório da Biblioteca Municipal (Aljustrel) – Orquestra Jazzmin
21.30h – Teatro Municipal de Bragança - ANDY McKEE e DAN LaVOIE
22.00h – Biblioteca Municipal Barcelos - Quinteto Diana Martínez
22.00h - Regueirão dos Anjos (Lisboa) – Kasutera
22.00h - Auditório Municipal Ruy de Carvalho (Carnaxide) – Fly Trio
22.00h – Centro Cultural de Estremoz - Sérgio Pelágio & Mário Franco 4teto
22.00h – Museu Douro (Régua) - COTTAS CLUB JAZZ BAND
23.00h - Centro Cultural Vila Flor (Guimarães) - Duo Maria João Matos e Bárbara Miranda
23.00h - Centro Cultural O Século (Lisboa) - Luís Lopes & Miguel Mira & Gabriel Ferrandini
23.00h – Hotclub (Lisboa) - Rodrigo Gonçalves 5teto
23.30h – Ondajazz (Lisboa) - Júlio Resende

Sábado, 20 de Setembro
11.00h – Elevador da Bica (Lisboa) - André Santos, Bruno Pernadas, Daniel Vieira, Pedro Pinto
21.30h - Auditório da Biblioteca Municipal (Aljustrel) - Doris Cales Quartet
22.00h - Fórum Cultural Alcochete - Melech Mechaya
22.00h - Auditório Municipal Ruy de Carvalho (Carnaxide) - Orquestra de Jazz de Matosinhos & Kurt Rosenwinkel
22.00h – Hotfive (Porto) - Talk Box
22.00h – Teatro Vila Real (Grande Auditório) - ANDY McKEE e DAN LaVOIE
22.00h – Centro Cultural de Estremoz - Maria João 4teto «João»
22.00h - Teatro Miguel Franco (Leiria) - Fly Trio
23.00h – Hotclub (Lisboa) - Rodrigo Gonçalves 5teto
23.30h – Ondajazz (Lisboa) - Trio de Vítor Zamora
00.00h – Braço de Prata (Lisboa) - Quarteto Mário Franco

Domingo, 21 de Setembro
17.00h – Jardim da Estrela (Lisboa) – Yeti
17.00h - Teatro Miguel Franco (Leiria) - Orquestra do Festival de Jazz da Alta Estremadura
21.30h - Auditório da Biblioteca Municipal (Aljustrel) - André Fernandes Quarteto «Cubo»
22.00h – Casa da Música (Porto) - 22.00h - Orquestra de Jazz de Matosinhos & Kurt Rosenwinkel
22.00h – Hotfive (Porto) - Alberto Índio & António Mão de Ferro
22.00h - Teatro Miguel Franco (Leiria) - Marta Hugon Quarteto + Mário Delgado

sábado, 13 de setembro de 2008

Festival Internacional Douro Jazz (5ª Edição)



O Festival Internacional Douro Jazz entra na sua quinta edição, apresentando 56 espectáculos em seis cidades de Trás-os-Montes e Alto Douro. Durante um mês, realizam-se concertos em Vila Real, Régua, Bragança, Lamego, Chaves e São João da Pesqueira, com base em parcerias estabelecidas em edições anteriores, às quais agora se associam o Museu do Douro e o Teatro Ribeiro Conceição, de Lamego.
E porque o jazz é uma inspiração sem fronteiras, o programa deste ano junta 80 músicos de seis países, tendo como cabeça de cartaz Vicente Amigo. Usualmente considerado um dos maiores guitarristas vivos e sucessor de Paco de Lucia, Vicente Amigo tem experimentado diversas formas musicais, levando o flamenco a limites sem precedentes. A abertura do Festival estará a cargo do norte-americano Andy McKee, aclamado por muitos críticos e músicos como o mais promissor guitarrista fingerstyle. Christian Brewer, considerado um dos mais estimulantes saxofonistas britânicos, regressa ao Douro Jazz para nos apresentar o seu novo quinteto.
O dixieland é talvez a mais festiva das variações do jazz. Tendo isso em conta, a edição de 2008 do Douro Jazz integra três formações dixie, sendo uma delas a banda residente do Festival. A Douro Jazz Marching Band percorrerá as localidades que integram o roteiro do Festival, evocando as tradicionais parades ou desfiles, bem ao estilo de Nova Orleães.
O guitarrista norte-americano Dan LaVoie orientará um workshop de guitarra no Teatro de Vila Real, proporcionando ainda uma abordagem ao curioso instrumento que é a harpguitar.
Como em anteriores edições do Festival, decorrem este ano actividades complementares em diferentes locais e datas, como é o caso da feira de objectos culturais, que permite conhecer ou adquirir diversas produções culturais da região duriense. Uma banca com as quatro colheitas do vinho Douro Jazz (de 2004 a 2007 – que a seu modo também contam a história do Festival) circulará por algumas das cidades envolvidas, pretexto para uma vez mais reforçar a ligação do Douro Jazz à região demarcada mais antiga do mundo.
A programação complementar integra ainda a exposição “Douro Jazz 2007 – Retrospectiva” (um trabalho fotográfico de David Araújo), o lançamento do livro Jukebox 2, do poeta Manuel de Freitas, e uma prova de vinhos organizada pela Lavradores de Feitoria, a decorrer antes do concerto de encerramento do Festival.

Programa completo

Setembro

6ª feira, 19 de Setembro
21.30h – Teatro Municipal de Bragança - ANDY McKEE e DAN LaVOIE
22.00h – Museu Douro (Régua) - COTTAS CLUB JAZZ BAND

Sábado, 20 de Setembro
22.00h – Teatro Vila Real (Grande Auditório) - ANDY McKEE e DAN LaVOIE

2ª feira, 22 de Setembro
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - BOSSA IN JAZZ

3ª feira, 23 de Setembro
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - GABRIEL PINTO

4ª feira, 24 de Setembro
21.30h – Cine-Teatro de São João da Pesqueira - ANDY McKEE e DAN LaVOIE
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - URIEL e CLÁUDIA FIER

5ª feira, 25 de Setembro
21.30h – Auditório do Centro Cultural de Chaves - ANDY McKEE e DAN LaVOIE
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) – SALBLUES

6ª feira, 26 de Setembro
21.30h – Teatro Municipal de Bragança - COTTAS CLUB JAZZ BAND
22.00h – Museu Douro (Régua) - FÁTIMA SERRO / PAULO GOMES QUARTETO

Sábado, 27 de Setembro
22.00h – Teatro Ribeiro Conceição (Lamego) - COTTAS CLUB JAZZ BAND
22.00h – Teatro Vila Real (Grande Auditório) - FÁTIMA SERRO / PAULO GOMES QUARTETO

2ª feira, 29 de Setembro
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - ANA CAPICUA e MÁRIO PARAÍSO

3ª feira, 30 de Setembro
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - DUO PAGU

Outubro

4ª feira, 1 de Outubro
21.30h – Cine-Teatro de São João da Pesqueira - FÁTIMA SERRO / PAULO GOMES QUARTETO
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - DOURO JAZZ MARCHING BAND

5ª feira, 2 de Outubro
21.30h – Auditório do Centro Cultural de Chaves - FÁTIMA SERRO / PAULO GOMES QUARTETO
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - PEDRO CUNHA e CARLOS NUNES

6ª feira, 3 de Outubro
22.00h – Museu Douro (Régua) - DIXIE TRAIN

Sábado, 4 de Outubro
22.00h – Teatro Ribeiro Conceição (Lamego) - QUARTETO SOFIA RIBEIRO
22.00h – Teatro Vila Real (Grande Auditório) - DIXIE TRAIN

2ª feira, 6 de Outubro
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - URIEL e JOÃO MORTÁGUA

3ª feira, 7 de Outubro
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - SILVÉRIO DUO

4ª feira, 8 de Outubro
21.30h – Cine-Teatro de São João da Pesqueira - PROYECTO ENTRECUERDAS
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - ELEGANCE DUO

5ª feira, 9 de Outubro
21.30h – Auditório do Centro Cultural de Chaves - PROYECTO ENTRECUERDAS
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - CARLOS AZEVEDO

6ª feira, 10 de Outubro
21.20h – Teatro Municipal de Bragança - PROYECTO ENTRECUERDAS
21.30h – Teatro Municipal de Bragança – Samuel Quinto Quarteto

Sábado, 11 de Outubro
22.00h – Teatro Ribeiro Conceição (Lamego) - PROYECTO ENTRECUERDAS
22.00h – Teatro Vila Real (Grande Auditório) - CHRISTIAN BREWER / ALEX GARNETT QUINTET

2ª feira, 13 de Outubro
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - JOAQUIM CARVALHO

3ª feira, 14 de Outubro
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - SANDRO NORTON

4ª feira, 15 de Outubro
21.30h – Cine-Teatro de São João da Pesqueira - QUARTETO SAMUEL QUINTO
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - DUO JAZZ

5ª feira, 16 de Outubro
21.30h – Auditório do Centro Cultural de Chaves - QUARTETO SAFFRON
23.00h – Teatro Vila Real (Café Concerto) - ALEX LIBERALI e BUDDA

6ª feira, 17 de Outubro
21.30h – Teatro Municipal de Bragança - FÁTIMA SERRO / PAULO GOMES QUARTETO
22.00h – Teatro Ribeiro Conceição (Lamego) - QUARTETO SAMUEL QUINTO

Sábado, 18 de Outubro
22.00h – Teatro Vila Real (Grande Auditório) - VICENTE AMIGO

ARRUADAS NOS CENTROS HISTÓRICOS

19 SETEMBRO | COTTAS CLUB JAZZ BAND | 16h00 | Vila Real
19 SETEMBRO | DOURO JAZZ MARCHING BAND | 18h00 | Bragança
19 SETEMBRO | COTTAS CLUB JAZZ BAND | 21h00 | Régua
20 SETEMBRO | DOURO JAZZ MARCHING BAND | 11h00 | Vila Real
24 SETEMBRO | DOURO JAZZ MARCHING BAND | 18h00 | Pesqueira
25 SETEMBRO | DOURO JAZZ MARCHING BAND | 18h00 | Chaves
26 SETEMBRO | COTTAS CLUB JAZZ BAND | 18h00 | Bragança
26 SETEMBRO | DOURO JAZZ MARCHING BAND | 18h00 | Régua
27 SETEMBRO | DOURO JAZZ MARCHING BAND | 11h00 | Vila Real
27 SETEMBRO | COTTAS CLUB JAZZ BAND | 18h00 | Lamego
3 OUTUBRO | DIXIE TRAIN | 18h00 | Régua
4 OUTUBRO | DIXIE TRAIN | 11h00 | Vila Real
4 OUTUBRO | DOURO JAZZ MARCHING BAND | 18h00 | Lamego
11 OUTUBRO | DOURO JAZZ MARCHING BAND | 11h00 | Vila Real
18 OUTUBRO | DOURO JAZZ MARCHING BAND | 11h00 | Vila Real

Workshop de Guitarra
orientado por Dan LaVoie
Inscrições gratuitas mediante marcação prévia
23 de SETEMBRO | 21h30 | TVR

Exposição de fotografia
“DOURO JAZZ 2007 – Retrospectiva”
de David Araújo
A partir de 1 de OUTUBRO (Dia Mundial da Música) | MSI

Jazz às Onze


Em Setembro há jazz nos elevadores e ascensores de Lisboa. Um evento organizado pela Egeac e pela Carris, leva a música do Hot Clube de Portugal aos ascensores da Lavra, da Glória, da Bica e também ao elevador de Santa Justa. Ao preço de um bilhete normal, até 27 de Setembro, todos os sábados, às 11h00.

Aqui fica o programa:

6 SETEMBRO | 23H00 | ASCENSOR DA GLÓRIA
Rua Câmara Pestana – Largo da Anunciada
Gonçalves Marques (trompete), Manuel Brito (contrabaixo), Nuno Martinho (guitarra) e Tiago Batista (guitarra).

13 SETEMBRO | 11H00 | ELEVADOR DE SANTA JUSTA
Largo do Carmo – Rua do Ouro
André Carvalho (contrabaixo), André Santos (guitarra), Mariana Norton (voz), Miguel Moreira (bateria) e Zé Maria (saxofone)

20 SETEMBRO | 11H00 | ASCENSOR DA BICA
Largo do Calhariz – Rua de S. Paulo
André Santos (guitarra), Bruno Pernadas (guitarra), Daniel Vieira (saxofone) e Pedro Pinto (contrabaixo)

27 SETEMBRO | 11H00 | ASCENSOR DO LAVRA
Rua Câmara Pestana – Largo da Anunciada
André Santos (guitarra), Bruno Pernadas (guitarra), César Cardoso (saxofone) e Zé Maria (saxofone)

Est'Jazz 2008


Estremoz entra definitivamente no calendário dos amantes do jazz com a terceira edição do Est'Jazz. Conta com a presença de Jeff Davis Trio, Maria João, Sérgio Pelágio e Mário Franco Quarteto. Outras actividades incluem exposição de fotografia, jazz sessions, cinema, conversas e uma feira temática.

Os espectáculos vão decorrer no Teatro Bernardim Ribeiro - Av. 25 de Abril, em Estremoz
Preços: 5€ a 10€. Passe 3 dias: 15€. Desconto 50% para -18 e +65 anos. Entrada livre -6 anos.

Programa:

5ª feira, dia 18, 22.00h - Jeffery Davis Trio
6ª feira, dia 19, 22.00h - Sérgio Pelágio/Mário Franco Quarteto
Sábado, dia 20, 22.00h - Maria João Quarteto

Jazzmin 2008 (Aljustrel)


Vai decorrer esta semana em Aljustrel a sétima edição do JazzMin, com espectáculos no auditório da Biblioteca Municipal de Aljustrel.
O programa inclui a Orquestra JazzMin, o quarteto da cantora Doris Cales e encerra com o quarteto do guitarrista André Fernandes, com Mário Laginha (piano), Nelson Cascais (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria).
Entre 15 e 19 de Setembro decorrem ainda os habituais workshops de instrumentos e voz orientados pelo maestro Adelino Mota.
Decorre igualmente a partir de hoje, às 18.00h, na Galeria Módulo - Centro Difusor de Artes em Aljustrel, a exposição "Searching for Adam", do saxofonista e fotógrafo Rodrigo Amado, que serviu igualmente de inspiração para o último trabalho do músico, a apresentar esta semana da Casa da Música, no Porto, e no Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa.

Programa

6ª feira, 19 de Setembro, 21.30h – Orquestra Jazzmin
Sábado, 20 de Setembro, 21.30h – Quarteto Doris Cales
Domingo, 21 de Setembro, 21.30h – Quarteto André Fernandes “Cubo”

Al diMeola em Portugal



Começa hoje a série de três concertos que o guitarrista norte-americano Al di Meola vai dar entre nós. Às 22 horas, na Casa da Música, vai apresentar-se na cidade do Porto. Amanhã, pelas 21.30h, será a vez do Teatro Aveirense na cidade de Aveiro. Na segunda-feira termina esta mini-tour com um concerto às 22.00h na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa.
Al di Meola nasceu em 22 de Julho de 1954 em Jersey City, no estado norte-americano de New Jersey, onde ainda reside. Em 1971, com 17 anos de idade, entrou para o Berklee College of Music em Bóston e, escassos três anos mais tarde, em 1974, fazia parte da banda de Chick Corea, os Return to Forever, à época, uma das mais importantes bandas de jazz fusion, partilhando o topo com os Mahavishnu Orchestra de John McLaughlin e os Weather Report de Wayne Shorter.
Durou apenas dois anos e três discos a colaboração, até 1976, após o que o espírito independente de Meola o levou em busca de novos projectos. Os anos seguintes mostraram colaborações com Stanley Clarke, Jan Hammer, Jean-Luc Ponty, John McLaughlin, Paco de Lucia e até Paul Simon. Mais recentemente vimo-lo ao lado de George Dalaras, Larry Coryell e Biréli Lagrène, Aziza Mustafa Zadeh, Manuel Barrueco, Derek Sherinian, Leonid Agutin, Andrea Parodi, Miklos Malek e Eszter Horgas.
Com 24 álbuns editados como líder, seis milhões de discos vendidos e quatro prémios da prestigiada Guitar Player Magazine, Al di Meola é seguramente um dos mais importantes intérpretes deste instrumento no mundo.
Vai apresentar-nos a sua última criação: New World Sinfonia, que, tal como o nome indica, é a continuação do seu disco de 1990, World Sinfonia.
A não perder.

Para abrir o apetite deixo-vos com alguns vídeos de Meola bem demonstrativos da versatilidade deste genial guitarrista ítalo-americano:

Mediterranean Sundance com o russo Roman Miroshnichenko


Libertango, em Abril de 2007 no Festival de Jazz de Casablanca, em Marrocos


Cuba Africa, com Agutin


Egyptian Danza, em 2004 ao vivo em Ludwigsburg na Alemanha

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

The Bad Plus Amanhã em Albufeira



Os Bad Plus actuam amanhã em Albufeira. O trio, formado pelos norte-americanos Ethan Iverson no piano, Reid Anderson no contrabaixo e David King na bateria, constituem um dos mais originais projectos do jazz americano actual.
A afirmação é polémica admito, mas é sentida. Na verdade, alguns não conseguem perdoar a este trio do Midwest a ousadia de pegar em temas de rock como Smells Like Teen Spirit dos Nirvana e dar-lhes a volta, através de arranjos originais a puxar ao jazz.
No entanto o espírito do jazz é isso mesmo! Ousadia, liberdade criativa e improvisação.
O grupo foi fundado em 2000, num clube de Minneapolis, e o sucesso não se fez esperar. Com o disco homónimo, lançado em 2001 pela Fresh Sound, levaram o jazz para os tops de vendas. Chegou então a oportunidade junto da editora Columbia e desde então mais cinco discos foram lançados pelo trio: These Are The Vistas (2003), Give (2004), Suspicious Activity? (2005), Blunt Object - Live in Tokyo (2005) e Prog (2007), este já pela editora Emarcy, sempre com enorme sucesso.
Pelo caminho outros compositores estranhos ao jazz levaram o tratamento Bad Plus, como os ABBA, Black Sabbath, Bee Gees, Queen, Blondie, Aphex Twin, Neil Young, e Bjork. Para terror dos puristas…
Da parte que me toca aprecio e recomendo.
Só tenho pena de estar tão longe de Albufeira e não poder apreciá-los ao vivo.
Ficam aqui alguns vídeos para outros que partilhem a minha sorte.


Anthem For the Earnest


Everywhere You Turn


Prehensile Dream


Flim!!

EST, por Ulf Wakenius



Ulf Wakenius
Love Is Real
ACT, 2008

Ulf Wakenius nasceu em Halmstad, na Suécia, em Abril de 1958. Começou a tocar guitarra aos 11 anos de idade, influenciado sobretudo por outros guitarristas de Gotemburgo, onde residia. As suas primeiras influências musicais vêm do universo rock e blues. Nomes como Eric Clapton, Jack Bruce ou Johnny Winter aparecem entre as principais referências do guitarrista sueco, até que descobre John McLaughlin e a Mahavishnu Orchestra, o que origina uma mudança substancial na sua carreira rumo ao jazz.
Com 17 anos de idade já se tinha estabelecido como um guitarrista aclamado no jazz sueco. No início dos anos 80 fundou o duo “Guitars Unlimited” com Peter Almqvist, de grande sucesso na Suécia e com concertos em todo o mundo (em 1985 um programa antológico da carreira do duo foi visto por 600 milhões de espectadores!).
O passo seguinte de Wakenius levou-o ao Brasil, gravando um disco a solo no Rio de Janeiro e trabalhando com músicos como Sivuca, Luizão, Paolo Braga e Nico Assumpção (colaboradores regulares de artistas como Milton Nascimento e Elis Regina).
No final dos anos 80 Wakenous trabalhou com Niels-Henning Ørsted Pedersen, o virtuoso contrabaixista dinamarquês com quem gravou vários discos e correu o mundo em concertos (um deles oferecido ao presidente norte-americano Bill Clinton).
Já nos anos 90 fundou o grupo Grafitti, com o baterista Dennis Chambers, o contrabaixista Gary Grainger (ex-secção rítmica de John Scofield) e o teclista Haakon Graf. Colaborou ainda com o contrabaixista Ray Brown em dois trabalhos: Seven Steps To Heaven, gravado pela Telarc e Summertime, em que colaborou ainda o saxofonista Michael Brecker.
O seu talento levou-o a trabalhar com músicos de jazz tão importantes quanto os já mencionados e ainda Randy Brecker, Herbie Hancock, Steve Coleman, Joe Henderson, Phil Woods, Clark Terry, Johnny Griffin, Toots Thielemans, Jack DeJohnette, Max Roach, Jim Hall, Art Farmer, Benny Golson, James Moody, Roy Hargrove ou Milt Jackson. E, suprema honra, fez parte do quarteto de Óscar Peterson desde 1997, até à recente morte do mítico pianista canadiano, em Dezembro de 2007, ocupando o lugar anteriormente preenchido por guitarristas como Barney Kessel, Herb Ellis e Joe Pass. Com ele regressou ao Brasil onde teve oportunidade de actuar perante uma audiência de 35.000 pessoas, em São Paulo.
Os anos mais recentes de Ulf, coincidindo com o contrato assinado com a editora alemã ACT, caracterizaram-se por uma “cruzada melódica”, nas suas próprias palavras. Um regresso às origens.
No seu álbum de estreia pela ACT, Notes From The Heart, pegou na música de Keith Jarrett e arranjou-a, de modo redutor, para um trio de guitarra, em que apenas usou a guitarra acústica.


Neste trabalho, Love is Real, volta a pegar no repertório de um pianista, no caso do seu compatriota recente e precocemente falecido, Esbjorn Svensson, e volta a arranjá-lo para guitarra. Porém desta feita a preocupação não foi de redução mas antes de ampliação do universo musical dos EST. Wakenius usa várias guitarras, metálicas e de madeira, acústicas e eléctricas e chama ao ensemble o contrabaixo e violoncelo de Lars Danielsson, o piano de Lars Jansson e a bateria, caixa flamenca e percussão de Morten Lund. Conta ainda nalguns temas com a presença do radio.string.quartet.vienna, formado por Bernie Mallinger e Johannes Dickbauer no violino, Cynthia Liao na viola e Asja Valcic no violoncelo. Como convidados surgem ainda os trompetes de Till Brönner (no tema Seven Days of Falling), de Paolo Fresu (em Viaticum) e o trombone de Nils Landgren (em Good Morning Susie Soho). Conta ainda com a participação da guitarra eléctrica do filho, Eric Wakenius, no tema Dodge The Dodo.
Longe de uma estética redutora ou minimalista o tratamento de Wakenius à obra de Svensson é, pelo contrário, amplamente enriquecedora. Seja pelos elaborados arranjos introduzidos, visando a presença de um quarteto de cordas, da guitarra ou dos metais, não presentes nas versões originais, seja ainda pelo carácter menos intimista e compacto desses mesmos arranjos. Confesso que, nalguns deles, um seguidor da estética EST, como é o meu caso, continua fiel ao original (veja-se o arranjo mais cosmopolita de When God Created the Coffeebreak, por exemplo). Mas noutros sou forçado a reconhecer a valia introduzida por Wakenius com um trabalho amplamente meritório e rubricando solos e improvisações de grande classe que, ora lembram universos mais folk como o de Bill Frisell (por exemplo em Shinning on You ou sobretudo em Believe, Beleft, Bellow), ora exibem uma exuberância digna de John Scofield (como em Dodge the Dodo ou Good Morning Susie Soho), ora ainda acrescentam uma nota mais jazzística, evocativa de um John McLaughlin, aos temas ritmados dos EST, como em Seven Days of Falling ou Elevation of Love. Noutros ainda é o universo deconstrutivo de Svensson que é evocado com maestria e originalidade pela adição das cordas e dos metais, que elevam arranjos mais ou menos fiéis ao original, como em Tuesday Wonderland, Pavane “Thoughts Of A Septuagenarian”, Eighthundred Streets By Feet ou ainda Viaticum.
Um excelente trabalho que acaba por funcionar como uma merecida homenagem, ainda que imprevista (foi editado escassos dois meses antes da sua morte), ao original pianista sueco recentemente desaparecido (e que contribuiu ainda com um dos arranjos de cordas para o radio string quartet vienna, incluído neste trabalho de Ulf Wakenius).
O vídeo que se segue é do tema Believe, Beleft, Bellow (Love Is Real) interpretado em trio, com Ulf Wakenius na guitarra, Lars Danielsson no contrabaixo e Morten Lund na bateria. As fotos das ilhas britânicas são da autoria de Paul L-R.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Os Desertos de Valhalla (Pintados por Vermeer de Delft)



Jan Garbarek
In Praise Of Dreams
ECM 2004

In Praise of Dreams foi o primeiro disco, como líder, lançado por este extraordinário saxofonista norueguês, de origem polaca, depois de um longo interregno de seis anos. E a aposta foi arrojada. Para acompanhá-lo escolheu a excelente violista norte-americana, de origem arménia, Kim Kashkashian, mais habituada a contextos eruditos do que ao jazz, além do inevitável e exuberante baterista francês Manu Katché, parceiro habitual de Jan Garbarek no seu quarteto. Nas teclas, habitualmente entregues ao alemão Rainer Brüninghaus, surge o próprio Jan Garbarek e a viola de Kashkashian é chamada a ocupar a função do contrabaixo, usualmente nas mãos do também alemão Eberhard Weber.
Mas são por vezes estas ousadias que fazem os grandes discos. O lirismo introduzido pela viola casa na perfeição com o som primordial característico do druida Garbarek e o resultado é um dos mais belos discos da carreira, já longa e recheada de sucessos, do saxofonista.
Até a insistência de Garbarek nos samplers e sintetizadores, anátema numa época em que o “tudo acústico” está na moda, consegue ter momentos verdadeiramente sublimes, contribuindo de forma decisiva para a criação do ambiente onírico, tão característico do som a que nos habituou. Os sonhos de Garbarek, que o título evoca, são construídos de forma quase cinemática por ambientes nórdicos de fogo e gelo, por combates titânicos entre os Deuses de Ragnarök, mas também pela suavidade encantadora dos desertos de Valhalla, para onde as valquírias de Garbarek nos transportam, quais almas de guerreiros mortos em combate, para junto do todo poderoso Odin e seus pares, no Olimpo gelado de Asgard.
Neste disco Garbarek mostra-se profundamente melódico, enfatizando as suas enormes capacidades como compositor e orquestrador e apostando claramente na adição de novas cores e texturas à sua já ampla paleta musical, construídas pela brilhante fusão de elementos acústicos e electrónicos. Peça fundamental dessa construção é a viola de Kashkashian. A sensibilidade do seu fraseado, a subtileza e a riqueza introduzida pelo som produzido pela viola parece elevar a música de Garbarek, inspirando-o para alguns solos e improvisações notáveis.
Os dois músicos já tinham colaborado anteriormente, com a grega Eleni Karaindrou, na gravação das composições desta para a banda sonora dos filmes “The Beekeeper” e “Ulysses’ Gaze”, do realizador Theo Angelopoulos e ainda com o compositor georgiano Giya Kancheli, no seu trabalho orquestral “Night Prayers”. A mais recente colaboração ocorreu contudo no Festival de Bergen, em 1999, em que os dois músicos homenagearam o compositor arménio Tigran Mansurian com uma apresentação em duo versando o repertório deste, inspirado no folclore tradicional daquele país. Mais tarde Mansurian compôs a peça “Lachrymae”, incluída no seu álbum “Monodia”, especialmente para o saxofone de Garbarek e a viola de Kashkashian. A química foi instantânea, deixando no par a vontade de agendar novas colaborações. A ocasião surgiu finalmente em 2003 com a gravação deste “In Praise of Dreams”, agora sob a batuta experiente e mais swingada de Jan Garbarek.
O trio completa-se com Manu Katché, o baterista que Garbarek conheceu em 1987, através de Manfred Eicher, e que desde então não tem deixado de integrar nos seus sucessivos ensembles. A natureza ambiental e poética do seu trabalho, mas sobretudo a sua enorme capacidade para construir padrões rítmicos e desenvolvê-los através de pequenas, quase minimalísticas, nuances, fazem deste francês, com raízes na Costa do Marfim, o complemento ideal para o onirísmo musical de Garbarek e Kim Kashkashian.
Um disco fundamental.
O seu título advém, segundo Garbarek, de um poema de Wislawa Syzmborska, que começa assim: "Nos meus sonhos, eu pinto como Vermeer de Delft". Dificilmente encontraríamos uma imagem mais adequada para ilustrar este trabalho.

Deixo como habitualmente um vídeo a fechar esta minha crónica. O tema, da autoria de Garbarek, chama-se “One Goes There Alone” e está acompanhado de belas fotografias das terras altas escocesas, da responsabilidade de Dimitri V.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Festival Jazz.pt entra na segunda semana




Depois de uma primeira semana marcada pela grande afluência de público e pelas reacções muito positivas à abertura do jardim do Hot Club de Portugal, o Festival jazz.pt prepara-se para o seu segundo e último fim-de-semana. Dos sete concertos agendados, três serão apresentações dos novos trabalhos discográficos de André Matos, Afonso Pais e da formação luso-italiana Teterapadequ. São motivos de sobra para participar na celebração do terceiro aniversário da revista jazz.pt.

Programa

Quinta-feira, 11
22:30 (jardim) / André Matos "Rosa Shock" (Argentina/Brasil/Portugal)
00:30 (bar) / Afonso Pais Trio "Subsequências" (Brasil/Portugal)

Sexta-feira, 12
22:30 (jardim) / Jason Stein's Locksmith Isidore (EUA)
00:30 (bar) / Happening e convidada especial Maria João (Portugal)

Sábado, 13
22:00 (jardim) / José Peixoto "El Fad" (Portugal)
23:00 (jardim) / Quinteto de Pedro Moreira (Portugal)
00:30 (bar) / Tetterapadequ (Itália/Portugal)

Entradas: pacote especial segunda semana

Bilhete fim de semana
Assinatura anual da jazz.pt
Um CD em lançamento
40,00€

Agenda da Semana no Braço de Prata


4ª feira, 10 de Setembro
22.00h – Sala Nietzsche - Longitude Zero – Jazz
Guida Costa - voz / trombone de varas
Carlos Azevedo - piano
Cicero Lee - contrabaixo
Paleka – bateria

5ª feira, 11 de Setembro
20.15h – Sala Nietzsche - BABILÓNIA REDUZIDA
Beatriz Nunes - Voz, gaitas de foles
Miguel Ribeiro - guitarra
Vítor – teclas

22.00h – Sala Visconti - Diego Armes + Samuel Uria + Jorge Cruz

22.00h – Sala Prado Coelho - Recital de guitarra por João Bastos

22.30h – Sala Nietzsche - »HAPPENNING» - JAZZ
João Paulo – piano
Luís Cunha – trombone
Júlio Resende – fender rhodes
Mário Franco – contrabaixo
João Lobo – bateria

6ª feira, 12 de Setembro
22.00h – Sala Prado Coelho - Recital de guitarra por Tiago Alexandre

22.00h – Sala Visconti - Neil Leyton + Jim Clements

Sábado, 13 de Setembro
22.00h – Sala Prado Coelho - Duas histórias que foram a mesma – JAZZ
Piano Luís Barrigas
Contrabaixo Massimo Cavalli

22.30h – Sala Nietzsche - RED Trio – Jazz
Rodrigo Pinheiro: piano
Hernâni Faustino: contrabaixo
Gabriel Ferrandini: bateria

23.30h – Sala Prado Coelho - Fados com Hélder Moutinho e convidados

00.00h – Tenda - CARLOS BARRETTO “IN LOKO”
Carlos Barretto - contrabaixo
João Moreira – trompete
Bernardo Sassetti – piano fender rhodes
Mário Delgado – guitarra eléctrica
José Salgueiro – bateria
Sebastian Scheriff – percussões

00.00h – Sala Nietzsche - Duo Terilene - Canções de Charme
Francisco Ferro – voz
Rui Correia - guitarra

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Poemas do Deserto, por Stephan Micus



Stephan Micus
Desert Poems
ECM, 2001

Stephan Micus é um caso ímpar na música contemporânea. Multi instrumentista e compositor, Micus é antes de mais um viajante, intrépido aventureiro que ousa explorar influências oriundas das mais recônditas e esquecidas regiões do planeta, na descoberta (por vezes redescoberta) de estéticas musicais e instrumentos tradicionais, quantas vezes esquecidos.
Nasceu na Alemanha em 1953, mas desde os 16 anos de idade que corre mundo em busca de novas sonoridades. Já percorreu (muitas vezes a pé…) a maioria dos países da Ásia, de África, da Europa e das Américas. Em cada um deles preocupou-se em estudar com os mestres locais um número interminável de instrumentos tradicionais, muitos deles praticamente desconhecidos no ocidente. O seu objectivo declarado é usá-los, numa mescla transcultural, na elaboração da sua música. Preferencialmente buscando novas combinações, geográfica e culturalmente improváveis.
Solitário no processo criativo, cria os seus discos através de gravações sobrepostas de sucessivas interpretações instrumentais e vocais, previamente registadas por si.
Ao longo de três décadas e 18 álbuns já gravados pela ECM, desenvolveu um som único e facilmente identificável, contemporâneo mas intemporal, construído a partir de inúmeras referências culturais e geográficas através de uma miríade de instrumentos tradicionais que, metodicamente, foi acrescentando às suas inesgotáveis capacidades interpretativas.
Desert Poems é o seu 15º álbum pela ECM, gravado na ilha espanhola de Maiorca, onde reside, entre 1997 e 2000, e lançado em 2001 pela editora alemã. Um disco onde Stephan Micus se dedicou especialmente aos instrumentos africanos. O doussn' gouni ou sinding (harpa tradicional da África ocidental), o kalimba (instrumento tradicional da Tanzânia, tocado com os polegares) e o dondon (instrumento de percussão oriundo do Gana) fazem a sua estreia em discos de Micus. Reintroduz igualmente o sarangi (instrumento de corda arqueada, oriundo da Índia) depois de um longo interregno, mas desta feita rearranjado por si e usado quase como um instrumento de percussão. Outros instrumentos utilizados neste disco são o shakuhachi (flauta de bambu japonesa), o dilruba (outro instrumento de cordas indiano), o nay (flauta tradicional egípcia), o sattar (violino tradicional do Turquemenistão chinês - Xinjiang) e o steel drum ou steelpan (instrumento de percussão originalmente oriundo de Trinidad e Tobago).

O resultado, para o músico alemão, é um disco austero e simples como os desertos que percorreu, do Gobi, Sinai, Saara, Takla Makan e Arábia. O silêncio esmagador desses espaços vazios inspirou um disco contemplativo e místico, profundamente envolvente.
Mas também a voz de Micus aparece aqui de forma profunda, como mais um dos muitos instrumentos por si utilizados. A capella ou acompanhado, Micus soa autêntico e seguro mesmo quando canta numa língua fantasista, por si inventada, como sucede em temas como “The Horses of Nizami” ou “Mikhail's Dream”. Mas surgem temas cantados em inglês e até em japonês Noh.
Surge ainda neste trabalho um arranjo instrumental de um tema coral polifónico georgiano “Shen Khar Venakhi," com mais de 750 anos de idade, o primeiro tema não original por si gravado até à data. Apesar de Micus ter estado na Geórgia, por duas vezes, a aprender duduki (um oboé tradicional da região) e a sua antiga tradição coral, optou por arranjar o tema para seis dilrubas e seis sattar.
Micus revela também uma faceta experimentalista porquanto raramente se contenta com as capacidades sonoras originais dos seus instrumentos. Quase todos eles são modificados de forma a produzirem novas sonoridades ou melhor se adaptarem ao universo criativo do compositor. Acrescenta novos buracos aos instrumentos de sopro, adiciona ou remove cordas aos de arco, altera as formas de afinação ou, simplesmente, cria novos instrumentos musicais para o que recorre frequentemente a artesãos na Alemanha, Espanha ou Japão para com ele desenvolverem as suas ideias criativas. Para ele vale tudo na busca incessante de novas possibilidades sonoras escondidas.
Micus é assim um dos melhores representantes da world music na sua essência primordial. Não apenas porque funde influências oriundas das mais distantes culturas, mas também porque claramente não se limita a respeitar as suas ricas heranças musicais, que conhece como poucos. Cria algo de novo e contemporâneo a partir desses legados.
A música de Stephan Micus tem sido escolhida por muitas companhias de dança europeias para as suas produções. E ao longo de 30 anos de carreira já apresentou centenas de concertos a solo pela Europa, Ásia e Américas.
Deixo-vos com um vídeo elaborado a partir do tema “Mikhail’s Dream” com fotos da região do Pushkar, na Índia, da autoria de Vikas Malhotra. Neste tema Micus canta na sua língua imaginária e acompanha-se a ele próprio com dois kalimba, um sinding, dois steel drum e percussão mais convencional.