domingo, 31 de agosto de 2008

Festival de Jazz da Alta Estremadura 2008



Vai ter lugar de 19 de Setembro a 1 de Outubro mais uma edição do Festival de Jazz da Alta Estremadura, iniciativa conjunta da Associação Cooperação e Desenvolvimento Atlântida e das Câmaras Municipais de Leiria e Marinha Grande. Antes, no dia 17 de Setembro, inicia-se um workshop, de inscrição gratuita e destinada a todos os músicos interessados, oriundos ou não da região, dirigida pelos músicos Marta Hugon (voz), Filipe Melo (piano), Bruno Santos (guitarra), André Sousa Machado (bateria) e Luís Cunha (trombone), a decorrer até ao dia 21 de Setembro, nas instalações da SAMP (Sociedade Poisos), em Leiria.
Quanto aos concertos, que vão ter lugar em Leiria e na Marinha Grande, iniciam-se a 19 de Setembro, segundo o programa seguinte, no qual se destaca a presença do guitarrista John Abercrombie no dia 28 de Setembro, na Marinha Grande:

Concerto 1

Leiria - Sexta, 19 de Setembro. 21h30 - Teatro José Lúcio da Silva
Mario Laginha & Maria João + Big Band do Hot Clube de Portugal

Concerto 2

Leiria - Sábado, 20 de Setembro. 22h00 - Teatro Miguel Franco
FLY”(EUA)
Mark Turner (saxofone tenor)
Larry Grenadier (contrabaixo)
Jeff Ballard (bateria)

Concerto 3

Leiria - Domingo, 21 de Setembro. 17h00 - Teatro Miguel Franco. Entrada Livre.
OFJAE - Orquestra do Festival de Jazz da Alta Estremadura (Portugal), com os participantes no Workshop do Festival.

Concerto 4

Leiria - Domingo, 21 de Setembro. 22h00 - Teatro Miguel Franco
Marta Hugon Quarteto + Mário Delgado (Portugal)

Concerto 5

Marinha Grande - Sexta, 26 de Setembro. 22h00.- Sport Operário Marinhense
André Fernandes Quarteto “Cubo” (Portugal)

Concerto 6

Leiria - Sábado, 27 de Setembro. 22h00 - Teatro Miguel Franco
Tom Harrell Quintet (EUA)
Tom Harrell (trompete; fliscorne)
Wayne Escoffery (saxofone tenor)
Danny Grissett (piano; fender rhodes)
Ugonna Okegwo (contrabaixo)
Jonathan Blake (bateria)

Concerto 7

Marinha Grande - Domingo, 28 de Setembro. 22h00 - Sport Operário Marinhense
John Abercrombie “The Third Quartet” (EUA)
John Abercrombie (guitarra)
Mark Feldman (violino)
Thomas Morgan (contrabaixo)
Joey Baron (bateria)

Concerto 8

Leiria – Quarta-feira, 1 de Outubro. 22h00 - Teatro Miguel Franco. Entrada Livre
Big Band do Município da Nazaré (Portugal)

Concerto 9

Marinha Grande – Quarta-feira, 1 de Outubro. 15h00 - Escola
Aprender a Ouvir Jazz”- Concerto Comentado
Maestro Adelino Mota + Quinteto de Jazz da Academia Municipal das Artes da Nazaré.
Adelino Mota (direcção)
Susana Gomes (voz)
João Capinha (sax alto)
Márcio Silvério (guitarra)
Tiago Lopes (baixo)
Vítor Copa (bateria)

Exposição de Fotografia de Luís Aguiar
Leiria
19 de Setembro a 1 de Outubro - Teatro Miguel Franco

Feira do Disco de Jazz
Nos locais dos espectáculos

Agenda Jazz 1 a 7 de Setembro de 2008


2ª feira, 1 de Setembro

22.00h – Largo da Oliveira (Guimarães) - ArtBrass Ensemble de Trompetes

5ª feira, 4 de Setembro

21.30h - Choupana Hills Resort (Funchal) - David Binney Quintet & Mark Turner + Bruno Santos Trio Angular
22.00h – Cafetaria Quadrante CCB (Lisboa) – Afterfall
22.00h – Hot Club (Lisboa) - Ohad Talmor (st), Steve Swallow (b-el), Adam Nussbaum (bat)
23.45h – Hot Club (Lisboa) - Rodrigo Pinheiro (p), Hernani Faustino (ctb), Gabriel Ferrandini (bat)

6ª feira, 5 de Setembro

21.30h - Choupana Hills Resort (Funchal) - Steve Swallow & Ohad Talmor & Adam Nussbaum + Julian Argüelles Quartet & André Fernandes
22.00h – Hot Club (Lisboa) - Stephan Meidell (g), Hugo Antunes (ctb), Luís Candeias (bat)
23.00h – Maxime (Lisboa) - Farra Fanfarra
23.45h – Hot Club (Lisboa) - David Binney (sa), Mark Turner (st), Jacob Sacks (p), Thomas Morgan (ctb), Dan Weiss (bat)

Sábado, 6 de Setembro

10.00h – Festa do Avante (Atalaia – Seixal) - Kumpania Algazarra + Nuno Mindelis Blues Band + Krissy Mathews Blues Band + Júlio Resende Quarteto
21.30h – Museu do Oriente (Lisboa) - Trio Sangam (Charles Lloyd & Zakir Hussain & Eric Harland)
21.30h - Choupana Hills Resort (Funchal) - Enrico Rava Generations + Maria João & Mário Laginha & Julian Argülles
22.00h – Hot Club (Lisboa) - After Fall
23.45h – Hot Club (Lisboa) - David Binney Quintet featuring Mark Turner

Domingo, 7 de Setembro

10.00h - Festa do Avante (Atalaia – Seixal) - David Binney Quintet & Mark Turner + André Fernandes Quarteto & Mário Laginha + Kumpania Algazarra
17.00h – Jardim da Estrela (Lisboa) - Filipe Melo Trio

Woods no Centro Cultural O Século



O Grupo Woods é composto por Bruno Parrinha no clarinete alto, João Pedro Viegas no clarinete baixo, Miguel Mira no violoncelo, João Camões na viola e João Parrinha na bateria e objectos.
Os interesses dos seus elementos vão do jazz à música electro-acústica e das novas correntes reducionistas à música mais orgânica, concentrando a sua atenção na música de câmara improvisada.
As suas apresentações ao vivo compreendem a interpretação de peças escritas pelos elementos do grupo e a improvisação livre, sempre num registo intimista que joga incessantemente com as componentes tímbricas dos instrumentos que tocam. Podemos falar assim de um ensemble que privilegia a composição espontânea e a exploração micro-tonal e a atonalidade.
A desfrutar gratuitamente no próximo dia 2 de Setembro, pelas 22.00h, no centro cultural “O Século”, na Rua de O Século, 78 a 84, em Lisboa.
Com o apoio do Centro das Artes e da Associação Cultural CriaActividade.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Trioangular na Rentrée do Hot



Bruno Santos TrioAngular
Hot Club de Portugal – Lisboa
28 de Agosto de 2008, 23.00h
****

Entre os vários guitarristas de enorme qualidade que povoam o actual panorama do jazz português, Bruno Santos destaca-se como um dos mais originais. Dono de uma técnica notável, a sua música conjuga uma estética fortemente abstracta com uma suavidade e rigor de execução francamente apelativas. Se a isto juntarmos a sua rara aptidão como compositor (esta apresentação foi integralmente constituída por originais do guitarrista, excepção feita ao tema “Think of One” de Thelonious Monk, que já se transformou num ex-libris do músico madeirense) percebemos porque razão o seu nome é insistentemente mencionado como um dos mais promissores guitarristas nacionais.
Nascido em 1976, no Funchal, inicia os seus estudos musicais aos 17 anos naquela cidade, através de aulas particulares com Humberto Fournier, professor do Conservatório do Funchal. Aos 19 anos passa a residir em Faro onde frequenta o Conservatório local e, paralelamente, aulas particulares com Zé Eduardo, contrabaixista e antigo director da escola do Hot Clube de Portugal. Ingressa nesta instituição em Fevereiro de 1998 e aí estuda guitarra com Mário Delgado, Vasco Agostinho, André Fernandes e Nuno Ferreira. Integra nesse mesmo ano a Big Villas Band (Orquestra do HCP) e participa em vários workshops de jazz. Em 1999 é destacado para representar o HCP no meeting anual da IASJ (International Association of Schools of Jazz), associação presidida pelo saxofonista David Liebman, e que teve lugar em Santiago de Compostela.
Em Fevereiro de 2000 começa a sua carreira docente, no Hot Club de Portugal e no Conservatório do Funchal, escolas onde ainda se mantém, com passagens também pela escola de jazz do Barreiro, Conservatório de Alhandra e Orfeão de Leiria, e por inúmeros workshops (o último dos quais este Verão no CCB). Além de manter o seu trio, com Bernardo Moreira no contrabaixo e Bruno Pedroso na bateria, toca regularmente nas seguintes formações musicais: 7teto do Hot Clube de Portugal (sendo presentemente o seu principal impulsionador), Ensemble de Saxofones HCP, Trio Filipe Melo, Claus Nymark Big Band, Laurent Filipe, Santos/Melo 5tet, 4teto de Marta Hugon, Paula Oliveira, Pedro Moreira 5teto e Lena D´Água.
Este espectáculo no Hot apresentava-se como uma previsível revisita ao seu último trabalho discográfico (editado em 2007 pela TOAP) denominado precisamente TrioAngular. Porém Bruno Santos aproveitou a oportunidade para tocar vários temas novos, na sua maioria em premiére, que lhe trouxe um especial destaque, permitindo levantar um pouco o véu sobre o seu actual percurso criativo e deixando antever o que poderá vir a ser o próximo trabalho discográfico do trio. Paralelamente foram igualmente apresentados alguns dos temas mais emblemáticos de Trioangular e bem assim originais de Bruno Santos que já tinham sido objecto de apresentação pública noutros contextos (pelo Septeto do HCP), agora rearranjados para o trio.
Se os novos temas, agora apresentados, são representativos da estética musical pretendida pelo guitarrista para os seus futuros trabalhos, direi que está seguramente no bom caminho. Nota-se um claro apuramento do estilo apresentado em Trioangular (por sua vez já bastante apurado quando comparado com o seu primeiro trabalho, Wrong Way, editado em 2005, também pela TOAP), mantendo Bruno Santos a predilecção pelos originais em detrimentos dos covers e revelando um rigor técnico e uma suavidade de execução na guitarra (por vezes soam ecos de bossanova nas complexas e abstractas improvisações do músico) em manifesto crescendo. A acompanhá-lo nesta rentrée do Hot (depois de duas semanas de férias) estiveram Bernardo Moreira e Bruno Pedroso particularmente inspirados, o primeiro proporcionando um permanente contraponto à guitarra de Bruno Santos que muito enriqueceu este universo musical intimista e feito de pequenas, mas deliciosas, subtilezas nas cordas, o segundo contribuindo, no seu modo expressionista de explorar as sonoridades da percussão, para o desenvolvimento da estética abstracta tão característica deste trio.
Em suma, um trabalho de grande mérito que deixa adivinhar novos projectos no horizonte próximo deste original trio.
Deixo-vos com um vídeo do tema Submerso, integrante do álbum TrioAngular, com fotos de Galarneau extraídas do seu trabalho The Gray Days of Rain.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Jazz na Nova Temporada da Culturgest



Já foi apresentado o programa da nova temporada da Culturgest onde, como não poderia deixar de ser, as sugestões musicais aparecem em quantidade e qualidade, várias delas oriundas do universo do jazz.
Desde logo se destaca a continuidade do ciclo “Isto é Jazz?”, comissariado por Pedro Costa, da Trem Azul, onde se tem dado voz a alguns dos mais irreverentes experimentalistas músicos nacionais e estrangeiros. Desta feita estão agendados concertos no pequeno auditório da Culturgest para Ernesto Rodrigues, Christine Sehnaoui e Axel Dörner, para o grupo 4 Corners e ainda para Carlos Zíngaro. No grande auditório vão actuar Rodrigo Amado, acompanhado pelos norte-americanos Taylor Ho Bynum, John Hebert e Gerald Cleaver e ainda Steve Coleman e os seus 5 elements (Jonathan Finlayson, Tim Albright, Jen Shyu, Thomas Morgan e Tyshawn Sorey). Fora do jazz (ou talvez nem tanto…) destaca-se ainda uma grandiosa apresentação de José Mário Branco acompanhado pelos Gaiteiros de Lisboa, por um quarteto de cordas composto por Luís Morais e Jorge Vinhas nos violinos, Joana Moser na viola e João Pires no violoncelo e ainda por José Peixoto na guitarra, Carlos Bica no contrabaixo, Rui Júnior na percussão, Filipe Raposo no piano e Guto Lucena nos sopros. Há ainda lugar para o tango do jovem argentino Cristóbal Repetto, para o Festival Expresso Oriente, onde os sons do oriente se vão cruzar com a música erudita ocidental pela mão da Orchestrutopica e da pianista Elsa Silva e ainda para a ópera “Outro Fim” de António Pinho Vargas com Libreto de José Maria Vieira Mendes.
Relembro que, além de preços atractivos, a Culturgest proporciona 40% de desconto a quem adquirir entradas para quatro espectáculos (passe que permite igualmente o acesso gratuito às exposições patentes nas galerias da Caixa Geral de Depósitos). Um negócio da China para quem gosta de boa música!

Aqui fica o calendário dos espectáculos, sempre com início às 21.30h:


SEXTA 19 DE SETEMBRO DE 2008
Searching for Adam – Rodrigo Amado


SÁBADO 27 E TERÇA 30 DE SETEMBRO E QUINTA 2 DE OUTUBRO DE 2008
Festival Expresso Oriente


QUINTA 30 E SEXTA 31 DE OUTUBRO DE 2008
Mudar de Vida 2 – José Mário Branco


SEXTA 31 DE OUTUBRO DE 2008
Ernesto Rodrigues, Christine Sehnaoui, Axel Dörner


SEGUNDA 3 DE NOVEMBRO DE 2008
Cristóbal Repetto


SÁBADO 15 DE NOVEMBRO DE 2008
Steve Coleman & Five Elements


SEXTA 28 DE NOVEMBRO DE 2008
4 Corners


SEXTA 5 DE DEZEMBRO DE 2008
Carlos Zíngaro


SÁBADO 20 E DOMINGO 21 DE DEZEMBRO DE 2008
Outro fim
Ópera De António Pinho Vargas. Libreto de José Maria Vieira Mendes

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Canção Para Paredes



Bernardo Moreira Sexteto
Ao Paredes Confesso
Universal 2003

De Bernardo Moreira pode dizer-se que nasceu no jazz, filho primogénito do contrabaixista e actual presidente do Hot Club de Portugal, Engº Bernardo Moreira, um dos músicos que participou no aclamado filme de Fernando Lopes, Belarmino (1963) onde actua o conjunto do Hot Club de Portugal (composto por Jean-Pierre Gebler no sax-barítono, Justiniano Canelhas no piano, Bernardo Moreira no contrabaixo, Manuel Jorge Veloso na bateria e o convidado Milou Struvay no trompete) sob direcção musical de Manuel Jorge Veloso.
No entanto os seus estudos musicais apenas se iniciaram aos 16 anos de idade. Frequentou a Academia dos Amadores de Musica de Lisboa e estudou com Fernando Flores, Niels Oersted Pederson, Rufus Reid e Reggie Workman. É professor da Escola de Jazz Luís Villas-Boas, do Hot Club de Portugal, e pelas suas mãos passaram a maioria dos jovens músicos saídos daquela escola desde o final dos anos 80 do século passado. É pois, actualmente, um dos mais reconhecidos músicos de jazz nacionais, não só pelo seu trabalho docente, sempre ligado ao Hot Club de Portugal, mas também pela enorme experiência adquirida no contrabaixo, frutos de inúmeras colaborações com alguns dos melhores músicos nacionais e estrangeiros de que se destacam nomes como Eddie Henderson, Frank Lacy, Daniel Humair, Mário Laginha, Julian Arguelles, Benny Golson, Curtis Fuller, Norma Winstone, Art Farmer, Maria Pia de Vito, Freddie Hubbard, Maria João, Enrico Rava, Perico Sambeat, Phil Markowitz, Naná Sousa Dias, Ana Paula Oliveira, Nguyen Lê ou Mark Turner, entre muitos outros.

Fundou com os irmãos Pedro e João Moreira o Moreiras Quinteto, com quem correu a Europa e os Estados Unidos em concertos, foi solista convidado da Orquestra Metropolitana de Lisboa e faz parte da Big Band do Hot Club de Portugal. Assumiu a direcção musical de inúmeros projectos, como os mais recentes trabalhos de Paula Oliveira e Lena d’Água e faz parte de algumas da mais importantes formações de jazz nacionais como os trios de Mário Laginha, de Filipe Melo ou de Bruno Santos, o quinteto de Pedro Moreira ou os mais recentes projectos musicais de Cristina Branco (sob direcção musical de Ricardo Dias) e de Joana Machado (direcção de Afonso Pais), entre muitos outros.
Com tantos projectos em curso Bernardo Moreira tem tido pouco tempo para se dedicar à sua própria música, de que este disco de homenagem a Carlos Paredes, lançado em 2003 pela Universal, é uma excepção.
O sexteto de Bernardo Moreira é composto, além do contrabaixista, pelo seu irmão João Moreira no trompete e melódica, pelos guitarristas André Fernandes e Nuno Ferreira, pelo baterista André Sousa Machado e pelo percussionista Quiné, além da participação do seu outro irmão, Pedro Moreira, numa faixa (Dança dos Montanheses) e no saxofone soprano. Este disco é uma sentida homenagem ao grande guitarrista Carlos Paredes, editado pouco tempo antes da sua morte (que ocorreu em 2004) e é composto por quatro originais do músico conimbricense (Dança dos Montanheses, Verdes Anos, Sede e Morte e Variações Sobre Uma Dança Popular) com arranjos de Bernardo Moreira, a que se juntam três originais do contrabaixista imbuídos do génio musical de Paredes (Canção Para Carlos Paredes, Casa do Alto e Ao Paredes Confesso).
Longe de constituir um mero repositório do repertório do guitarrista que tocou com Charlie Haden, Ao Paredes Confesso é antes uma homenagem à criatividade do músico de Coimbra que reinventa os sons da balada coimbrã à luz da estética do jazz, através do talento de alguns dos melhores e mais experientes músicos nacionais do género.
A direcção musical de Bernardo Moreira é garantia mais do que suficiente para a idoneidade dessa homenagem, fruto do rigor e sobriedade com que sempre encara os projectos em que se envolve, mormente quando se trata de uma iniciativa pessoal como esta que, antes de ser gravada, já levava mais de três anos de apresentações públicas nos mais reputados festivais de jazz, aquém e além fronteiras. A música de Carlos Paredes funciona aqui sobretudo como inspiração à criatividade dos músicos, também eles sedentos da originalidade que sempre marcou a obra de Paredes e que atravessa gerações, fortemente imbuída na liberdade de improvisação e riqueza temática que devem caracterizar o jazz e que, para Bernardo Moreira, constituem a sua verdadeira essência.
Sem dúvida uma obra ímpar do jazz nacional que permanece porém, inexplicavelmente, pouco conhecida.
Aqui fica pois o meu reconhecimento e divulgação através de um belo tema, Sede e Morte, original de Carlos Paredes com arranjos de Bernardo Moreira, que vai acompanhada de fotografias de Oliver Dienst.

sábado, 23 de agosto de 2008

II Xôpana Jazz


Já é conhecido o programa do II Xôpana Jazz a realizar-se no Choupana Hills, no Funchal, nos dias 4, 5 e 6 de Setembro de 2008, pelas 21h30.

5ª feira, 4 de Setembro

Bruno Santos TRIoANGULAR
Bruno Santos (guitarra)
Bernardo Moreira (contrabaixo)
Bruno Pedroso (bateria)

David Binney Quintet featuring Mark Turner
David Binney (sax alto)
Mark Turner (sax tenor)
Jacob Sacks (piano)
Thomas Morgan (contrabaixo)
Dan Weiss (bateria)

6ª feira, 5 de Setembro

Julian Argüelles Quartet featuring André Fernandes
Julian Argüelles (saxofones)
André Fernandes (guitarra)
Bernardo Moreira (contrabaixo)
Alexandre Frazão (bateria)

Steve Swallow | Ohad Talmor | Adam Nussbaum
Ohad Talmor (sax tenor)
Steve Swallow (baixo eléctrico)
Adam Nussbaum (bateria)

Sábado, 6 de Setembro

Maria João & Mário Laginha featuring Julian Argüelles
Maria João (voz)
Julian Argüelles (saxofones)
Mário Laginha (piano)
Bernardo Moreira (contrabaixo)
Alexandre Frazão (bateria)

Enrico Rava Generations
Enrico Rava (trompete)
Mauro Negri (clarinete e saxofone)
Giovanni Guidi (piano)
Stefano Senni (contrabaixo)
Fabrizio Sferra (bateria)

Bilhetes à venda na FNAC e no local, Choupana Hills da Madeira
20€ por noite, com dois concertos
Pack 3 noites: 40€ até 8 dias antes
Desconto 50% alunos do Conservatório

Som da Surpresa 2008 - Ciclo Internacional de Jazz de Oeiras


Em Setembro o JAZZ volta a Oeiras.
Na 5ª edição do Ciclo Internacional de Jazz de Oeiras, os organizadores tentaram justapor a música de dois nomes norte-americanos, frequentadores habituais de Nova Iorque, particularmente cotados, com a música de dois nomes portugueses cujo percurso no jazz tem sido particularmente dignificante.
Estamos a referir-nos ao Trio FLY, que reúne dois acompanhantes do pianista Brad Mehldau, Larry Grenadier e Jeff Ballard e o inspirado saxofonista Mark Turner, e ao Quinteto do trompetista TOM HARRELL, cujo mais recente disco “Light On” (2007) tem recebido as mais elogiosas críticas quer nos EUA quer na Europa.
Do nosso lado, são a OJM - Orquestra de Jazz de Matosinhos num projecto dedicado à música do guitarrista americano Kurt Rosenwinkel, que se apresenta igualmente como solista, e o Quarteto do mais conhecedor e importante trompetista português, LAURENT FILIPE, com o seu mais recente projecto “The Song Band”.
São quatro grupos de músicos de elevada qualidade, que irão complementar-se no trabalho criativo, mas abordando a improvisação, característica fundamental do jazz, através de linguagens bem diversificadas.

Programa: (Aud. Municipal Ruy de Carvalho - Carnaxide)

19 de Setembro, 22.00h - Trio FLY (Larry Grenadier, Jeff Ballard e Mark Turner)
20 de Setembro, 22.00h - ORQ. JAZZ DE MATOSINHOS e Kurt Rosenwinkel
26 de Setembro, 22.00h - TOM HARRELL QUINTET
27 de Setembro, 22.00h - QUARTETO LAURENT FILIPE

Plateia: 8,00€; Balcão: 6,00€.

Agenda Jazz 25 a 31 de Agosto



2ª feira, 25 de Agosto

23.30h – Catacumbas (Lisboa) - Quarteto de Paulo Lopes

3ª feira, 26 de Agosto
23.30h – Catacumbas (Lisboa) - Messias & The Crossroads Blues Band

4ª feira, 27 de Agosto

23.30h – Catacumbas (Lisboa) - Trio de Carl Nevitt

5ª feira, 28 de Agosto

21.30h – Livraria Trama (Lisboa) _ La Chanson Noire
22.00h – Cafetaria Quadrante CCB (Lisboa) – André Matos Trio
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Bruno Santos Trioangular
23.00h – Ondajazz (Lisboa - Bruno Pernadas Ensemble

6ª feira, 29 de Agosto

19.30h - Hotel Le Meridien Dona Filipa (Vale de Lobo) – Orquestra Jazz de Lagos
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Bruno Santos Trioangular
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – João Paulo Trio

Sábado, 30 de Agosto

22.00h - Convento dos Capuchos (Almada) – Mikado Lab
23.00h – Ondajazz (Lisboa) - Wynton´s Place Quintet
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Bruno Santos Trioangular

Domingo, 31 de Agosto

17.30h – Parque Eduardo VII (Lisboa) – Carlos Bica Single

Festival jazz.pt em Setembro no Hot Club



Para comemorar o terceiro ano de edições da jazz.pt – revista bimestral de Jazz, única publicação periódica especializada em jazz editada no nosso país, o JACC – Jazz ao Centro Clube, associação cultural sem fins lucrativos responsável por esta publicação, lança o desafio à direcção do Hot Club de Portugal, para que acolha no seu mítico espaço na Praça da Alegria, em Lisboa, a primeira realização do festival jazz.pt.
Fiel à orientação editorial da revista (fortemente centrada na promoção e divulgação do Jazz em Portugal) o evento congrega proeminentes nomes da cena Jazz nacional e internacional, sendo palco para o lançamento de diversos registos discográficos.
Em ano de celebração do 60º aniversário do Hot Club de Portugal, os seus responsáveis acolheram com entusiasmo esta iniciativa, que se integra assim no programa de comemorações.
Agendado para os dois primeiros fins de semana de Setembro, este festival propõe dois concertos por noite (excepto no dia de encerramento, para o qual estão programadas três actuações), no bar e no jardim do Hot (seguramente uma agradável surpresa para os assíduos frequentadores daquele Clube).
Olhando a números, para os dois palcos do festival estão programados 13 concertos, com quatro novos discos em lançamento, assim como uma programação paralela constituída por exposições fotografia e design gráfico.

Aqui fica o programa:

QUI 4 Setembro 2008

23:00 (jardim)
Talmor/Swallow/Nussbaum EUA/Suíça
Ohad Talmor - saxofone tenor
Steve Swallow - baixo eléctrico
Adam Nussbaum - bateria
00:30 (bar)
Red Trio Portugal
Rodrigo Pinheiro - piano
Hernani Faustino - contrabaixo
Gabriel Ferrandini - bateria

SEX 5 Setembro 2008

23:00 (jardim)
Fundbureau Noruega/Portugal
Stephan Meidell - guitarra
Hugo Antunes - contrabaixo
Luís Candeias - bateria
00:30 (bar)
David Binney Quintet featuring Mark Turner EUA
David Binney - saxofone alto
Mark Turner - saxofone tenor
Jacob Sacks - piano
Thomas Morgan - contrabaixo
Dan Weiss - bateria

SÁB 6 Setembro 2008

23:00 (jardim)
After Fall EUA/Portugal
Luís Lopes - guitarra
Joe Giardullo - saxofone soprano
Sei Miguel - trompete
Ken Filiano - contrabaixo
Harvey Sorgen - bateria
00:30 (bar)
David Binney Quintet featuring Mark Turner EUA

QUI 11 Setembro 2008

23:00 (jardim)
André Matos “Rosa Shock” Argentina/Brasil/Portugal
André Matos - guitarra
Sara Serpa - voz
Demian Cabaud - contrabaixo
Alexandre Frazão - bateria
(Lançamento de disco pela Tone Of A Pitch)
00:30 (bar)
Afonso Pais Trio “Subsequências” Brasil/Portugal
Afonso Pais - guitarra
Nelson Cascais - contrabaixo
Alexandre Frazão - bateria
(Lançamento de disco pela ENJA Records)

SEX 12 Setembro 2008

23:00 (jardim)
Jason Stein’s Locksmith Isidore EUA
Jason Stein - clarinete baixo
Jason Roebke – contrabaixo
Mike Pride - percussão
00:30 (bar)
Happenning Portugal
Carlos Bica - contrabaixo
João Paulo - piano
Júlio Resende - piano
João Lobo - bateria
Luís Cunha - trombone

SÁB 13 Setembro 2008

22:30 (jardim)
José Peixoto “El Fad” Portugal
José Peixoto - guitarra
Carlos Zíngaro - violino
Miguel Leiria Pereira - contrabaixo
José Salgueiro - percussão
(Pré-lançamento de disco)
23:30 (jardim)
Quinteto de Pedro Moreira Portugal
Pedro Moreira - saxofones tenor e soprano
Susana Silva - trompete
André Fernandes - guitarra
Nelson Cascais - contrabaixo
André Sousa Machado – bateria
00:30 (bar)
Tetterapadequ Itália/Portugal
João Lobo - bateria
Gonçalo Almeida - contrabaixo
Daniele Martini - saxofone
Giovanni Di Domenico - piano

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Um Brisa Mediterrânica



Alboran Trio
Near Gale
ACT 2008

Tem-se assistido nos últimos anos a um ressurgimento e aprofundamento do conceito do trio clássico de piano jazz, particularmente no jazz europeu. Muito por culpa do sucesso alcançado por trios nórdicos, como o Esbjorn Svensson Trio ou o Tord Gustavsen Trio, as respectivas editoras (no caso as alemãs ECM e ACT) apostaram em novas formações, lançando músicos jovens de inquestionável talento, como o polaco Marcin Wasilewski ou o grego Vassilis Tsabropoulos, mas também recuperando nomes experientes até então dedicados a diferentes projectos musicais, como o sueco Bobo Stenson ou o britânico John Taylor.
O conceito alastrou a diferentes editoras e ambientes jazzísticos e as presentes páginas têm sido testemunho de muitos e meritórios projectos em trio de piano.
Ao contrário da nova geração de pianistas norte-americanos, que buscaram renovação no aprofundamento da raízes bopistas do seu jazz ou então incorporando elementos oriundos da pop, como sucedeu com Brad Melhdau ou Ethan Iverson (dos Bad Plus), na Europa essa renovação de valores envolveu geralmente uma aproximação aos universos eruditos clássico e contemporâneo, mas também à World Music, seja ela o folclore europeu ou de outras proveniências.
Mesmo em Portugal foi possível assistir ao ressurgimento do trio de piano, através de músicos consagrados como Mário Laginha ou Bernardo Sassetti, mas também pelo lançamento de novos valores como Filipe Melo e Júlio Resende.
Venho agora falar-vos mais um trio de piano europeu, desta feita italiano mas editado pela alemã ACT, o Alboran Trio. É composto por Paolo Paliaga no piano, Dino Contenti no contrabaixo e Gigi Biolcati na bateria. O seu estilo segue de perto projectos semelhantes editados recentemente, como os vários supracitados entre outros, no entanto sente-se o lirismo latino e a melancolia do Mediterrâneo na música de Paolo Paliaga (o compositor do trio, embora os arranjos sejam elaborados pelos três músicos, que assim se afirmam verdadeiramente como um projecto colectivo, e não apenas como o trio de Paolo Paliaga).
Auto didacta durante muito tempo Paliaga encontrou finalmente o caminho do jazz através de workshops com Nando De Luca, Ettore Righello, Enrico Pieranunzi no seminário do Siena Jazz e sobretudo em aulas particulares com Arrigo Cappelletti.
Paliaga licenciou-se em Ciências Políticas e partiu para Paris para um doutoramento em Sociologia. Foi aqui que editou o seu primeiro disco, Faena (Buda, 1993) com os músicos franceses Marco Quesada, Olivier Besenval, Philippe Leiba, Khalid Kouhen e Ravy Magnifique. Depois de uma primeira fase bopista, sob influência de Stefano Colnaghi, partiu em busca de um novo som, um som à ECM (nas palavras do próprio músico), que encontrou na companhia dos músicos Stefano Dall’Ora, Gianni Rossi, Ettore Lupini e Simonetta Artuso. Surge então o seu primeiro disco como líder, Giro-Vago (Caligula, 1996), com Ares Tavolazzi, Giulio Visibelli e Nicola Stranieri. Participa no projecto Splasc(h) com quem grava dois discos, Azul (1999) com o Horizon Quartet composto por Massimo Vescovi, Nicola Stranieri, Stefano Dall'Ora e Carlos Buschini e no ano seguinte Meriggi e Ombre, desta feita a solo. Projectos radiofónicos e de acompanhamento musical de cinema mudo ajudam-no ao apuramento do seu estilo, que se revela progressivamente mais impressionista.

O Alboran Trio nasce em 2004 quando encontra o contrabaixista Dino Contenti e o baterista e percussionista Gigi Biolcati e o grupo assume desde logo um entendimento de tal forma apurado que pareceria que tocavam juntos há anos. Segue-se o contrato com a ACT e o primeiro disco do trio Meltemi, editado em 2006. Near Gale é o seu segundo trabalho que viu os escaparates alemães já em 2008.
Trata-se de uma mistura ideal de formas oriundas do jazz tradicional com elementos retirados da world music, numa fusão disciplinada, bem definida, que combina o simples com o complexo, sem nunca perder a liberdade criativa, na composição (o repertório é integralmente composto por originais) e na interpretação que recorre, sempre que possível, à improvisação.
Uma fresca brisa mediterrânica… nas palavras da editora ACT.
Apesar de não produzir um som profundamente original, este Alboran Trio distingue-se dos muitos outros projectos similares precisamente pelo lirismo latino que consegue introduzir na sua música. Por vezes pulsante e quente, outras melancólico e introspectivo, mas nunca frio ou cerebral, como por vezes sucede com algum projectos escandinavos. Um jazz de câmara bem elaborado e interpretado, simples e apelativo como convém.
Nota bem positiva, da parte que me toca, para este Alboran Trio. Um grupo a seguir com atenção.
Deixo-vos com o tema Rrock in the dark, original de Paolo Paliaga incluído neste trabalho, Near Gale, com fotos de Michael Shpuntov extraídas do seu trabalho denominado "Toronto Painted Black & White".

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Liberdade Criativa



Júlio Resende
Da Alma
Cleanfeed, 2007

Júlio Resende é, indiscutivelmente, um dos mais promissores jovens pianistas portugueses.
Nascido em Faro começa os seus estudos de piano aos quatro anos de idade. Estuda no Conservatório Maria Campina, com a professora de piano Oxanna Anikeeva e o professor de formação musical, Paulo Cunha. Mas cedo descobre que a sua vocação é a improvisação, pelo que ruma ao jazz pela mão do contrabaixista e pedagogo Zé Eduardo. Em 2000 muda-se para Lisboa e estuda com Rodrigo Gonçalves, Pedro Moreira e Mário Laginha na escola do Hot Club de Portugal. Fez parte da primeira Big Band Nacional da Juventude e do Ensemble do Hot Clube. Participou em vários workshops internacionais, nos quais trabalhou com professores de prestigiadas Universidades de Jazz dos EUA, como a New School for Jazz and Contemporary Music e a Berklee College of Music: Aaron Goldberg, Gary Versage, Greg Tardy, Matt Penman, Frank Tiberi, Mark Ferber, Jonathan Kreisberg, Omer Avital. Trabalhou ainda com Paulo Gomes e Pedro Guedes. Em 2004 desloca-se a Paris por uma temporada à Université de S.Denis, estudando com Yves Torchinsky, Phillipe Michel, Fréderic Saffar e Lillian Dericq (professor da Bill Evans Academy). Em 2006, licencia-se em Filosofia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e em 2007 lecciona o curso de Piano-Jazz na Escola JBJazz, em Lisboa.
Antes ainda de formar o seu quarteto, tocou com reputados músicos nacionais como Carlos Bica, João Paulo Esteves da Silva, Pedro Moreira, Bernardo Moreira, Alexandre Frazão, Nuno Ferreira, André Fernandes, Afonso Pais, Matt Lester, Hugo Alves, Bruno Pedroso, Alexandre Frazão e Maria Viana, entre outros.


Só em 2007 edita o seu primeiro disco como líder, precisamente este Da Alma, pela Cleanfeed, gravado no Forum Cultural do Seixal por Luís Delgado a 3 e 4 de Julho de 2007. Conta, para além dele no piano, com João Custódio no contrabaixo, Alexandra Grimal e Zé Pedro Coelho no saxofone tenor, João Lobo e João Rijo na bateria.
Apesar de se tratar da sua primeira obra discográfica Júlio Resende assina todos os temas incluídos no disco à excepção de Wise Up, um original da norte-americana Aimee Mann, fruto do seu incontornável talento como compositor e também de um intenso e prolongado trabalho no estudo da composição, auxiliado por Pedro Moreira.
Mas basta ouvir o disco de Júlio Resende para perceber que a sua opção foi tudo menos arrojada. Ao invés de uma primeira obra, cheia de indefinições, de naturais receios e suportada na maior experiência dos músicos convidados, surge um trabalho maduro, claramente liderado pelo jovem pianista algarvio que vai buscar, para o acompanhar, outros jovens talentos do jazz nacional. O seu conterrâneo João Rijo na bateria, que se revela um dos mais promissores bateristas nacionais da sua geração, seleccionado para a European Movement Orchestra; o também jovem, mas já consagrado, baterista João Lobo, que ainda recentemente ouvimos acompanhar Enrico Rava e Gianluca Petrella no CCB, integrado no quinteto do trompetista italiano; o experiente saxofonista nortenho José Pedro Coelho, membro da Orquestra Orff do Porto, da Orquestra Jazz de Matosinhos, do Sexteto de Mário Barreiros e dos quintetos de Jacinta e Mário Santos, além de liderar o seu próprio quarteto; o brilhante contrabaixista João Custódio, um dos mais arrojados intérpretes do contrabaixo da sua geração, que apesar de quase auto-didacta (começou tardiamente a sua educação musical no contrabaixo, apenas aos 19 anos, mas passou pelas mãos de Zé Eduardo, Manuel Rego, Bernardo Moreira e Nelson Cascais) se converteu, em poucos anos, num dos mais requisitados contrabaixistas nacionais, colaborando com músicos como Nuno Ferreira, Rui Caetano, Rodrigo Gonçalves, Afonso Pais, Filipe Melo, Bruno Santos, Paulo Bandeira, Maria Viana, Matt Lester, Miguel Martins, André Matos, Alexandre Frazão, Mário Delgado, Vasco Agostinho, André Fernandes, Jorge Reis e fazendo parte do quinteto de Jacinta, além deste quarteto de Júlio Resende e ainda dos grupos Irmãos Catita e Corações de Atum, na área do pop; e ainda a saxofonista parisiense Alexandra Grimal.
Este projecto Da Alma, como já tive ocasião de referir nestas páginas, é construído pela apropriação jazzística de um património musical nacional pós-revolucionário, num reconhecimento simbólico da riqueza cultural que a liberdade criativa e de expressão trouxe à geração de 70, de que fazem parte os músicos envolvidos. O tema mais sintomático disso mesmo aparece logo na abertura do disco e denomina-se precisamente “Filhos da Revolução”. Mas ao contrário de outros projectos com idênticos propósitos, Júlio Resende não se limitou a pegar em meia dúzia de originais dos compositores de Abril e adaptá-los às suas enormes capacidades improvisadoras. Este talentoso pianista pegou antes na essência musical e criativa desses anos e desenvolveu-a pela sua própria voz e à luz de um percurso pós-revolucionário de que ele (e os restantes músicos envolvidos) já foi protagonista. Assim, longe do saudosismo de alguns trabalhos, Da Alma surge com uma frescura e criatividade ímpares no actual panorama musical português. A evocação de Abril exprime reconhecimento mas não seguidismo. É um ponto de partida e não de chegada.
E será seguramente o ponto de partida para uma carreira que se adivinha brilhante para este grande músico nacional, que se afirma desde logo como um nome maior entre os excelentes pianistas de jazz portugueses como Mário Laginha, João Paulo ou Bernardo Sassetti.
Entretanto tenho seguido atentamente o trabalho de Júlio Resende que, nos últimos meses, passou por importantes colaborações com grandes músicos internacionais de jazz como o espanhol Perico Sambeat ou o norte-americano John Hebert (sempre integrados no seu próprio quarteto, o que diz bem da capacidade de liderança de Júlio Resende). Espera-se pois que o segundo disco não tarde, tal como a internacionalização deste grande pianista de jazz. Talento não lhe falta, nem tão pouco o reconhecimento, que vai surgindo gradual e qualitativamente.
Deixo-vos com um tema do disco Da Alma, curiosamente o único que não é da autoria de Júlio Resende… No entanto acreditem que tal é apenas expressão da minha paixão pelo mesmo e nunca de desconfiança face às enormes qualidades criativas do pianista. Chama-se Wise Up e é da autoria da cantora norte-americana Aimee Mann (que vai actuar em Lisboa, no Coliseu dos Recreios a 18 de Outubro) e está acompanhado de fotografias da autoria de Gonzalo Garcia de Viedma, extraídas do seu trabalho denominado “Quidam” (aquele que passa).

Jazz Renascentista



Knut Rössler & Johannes Vogt
Between The Times
With Miroslav Vitous
ACT, 2007

Quando a música antiga encontra o jazz…
É este o prelúdio deste magnífico trabalho que junta os alemães Johannes Vogt no alaúde e Knut Rössler, no saxofone e flauta, acompanhados ainda pelo checo Miroslav Vitous no contrabaixo e pelo percussionista, também alemão, Mani Neumeier.
Oriundos de universos musicais distintos, Vogt dedicado ao estudo da música antiga e Rössler saxofonista de jazz, encontraram-se em Heidelberg, quando ambos foram convidados a colaborarem numa apresentação de uma nova exposição de arte. O resultado superou amplamente as expectativas de ambos e conduziu-os a uma extensa colaboração posterior.
Vogt e Rössler fundaram este ensemble “Between The Times” com vista a explorar antigas melodias da tradição musical europeia, em especial dos particularmente criativos períodos de transição. É já o quarto trabalho que editam deste projecto, embora seja o primeiro com a ACT, e neste volume dedicaram-se em particular a uma viagem musical no tempo à Paris do século XVII. Obras de compositores como Ennemond Gaultier, Pierre Dubut, Denis Gaultier e Jacques Gallot, entre outras anónimas, serviram de base a um apurado trabalho de adaptação e justaposição, melódica e harmónica, para o alaúde, a que juntaram um amplo trabalho de composição e arranjo, introduzindo elementos estranhos a este universo barroco, como o saxofone de Rössler logo anuncia. A improvisação surge assim naturalmente, numa aproximação ao universo do jazz que o fabuloso contrabaixo de Vitous complementa na perfeição e ocasionalmente também a percussão de Neumeier.


O resultado é simplesmente fabuloso! Um universo musical simultaneamente novo e antigo, com belas melodias fortemente informadas dos sons barrocos e mesmo renascentistas, introduzidas sobretudo pelo alaúde, a descobrirem novas profundidades nos arranjos para o saxofone e contrabaixo, de uma forma misteriosamente bela.
O cruzamento do jazz com a música clássica e contemporânea é algo, actualmente, usual, particularmente na escola nórdica, sem esquecer as incursões dos franceses Claude Bolling e Jacques Loussier ou do italiano Gianluigi Trovesi. No entanto esta aproximação revela-se profundamente original porquanto aborda uma época musical específica e pouco usual no jazz. E fá-lo recorrendo a um instrumento antigo e, também ele, praticamente alheio ao jazz: o alaúde.
Temos assim um repertório constituído por temas barrocos tocados num alaúde, que os remete para ambientes musicais ainda mais antigos, mas também por um saxofone que os puxa para um jazz lírico contemporâneo, no que é maravilhosamente complementado pelo extraordinário trabalho de Vitous no contrabaixo. A esta total subversão conceptual junta-se ainda, nalguns temas, a percussão de Neumeier a realçar o insólito deste ensemble…
Não é um disco para agradar a puristas, sejam eles oriundos da música antiga, barroca ou do jazz. Mas a mim, confesso que me encantou! Belo como poucos, soberbamente interpretado e arranjado, constitui uma provocação extraordinariamente estimulante ao ouvinte capaz de se abstrair de conceptualismos musicais e encantar-se simplesmente pela beleza daquilo que lhe é oferecido.
Seja isto jazz, música clássica ou aquilo que for!
É simplesmente maravilhoso. Um verdadeira obra-prima!
Não resisto a deixar-vos dois vídeos deste magnífico trabalho. O primeiro denomina-se Kuna e é acompanhado de belas fotos de Richard Calmes, integrantes do seu trabalho denominado Square Dancers. O segundo chama-se Canaries e vai acompanhado de belas fotos das costas islandesas da autoria de Örvar Atli (The Icelandic Coastline).



domingo, 17 de agosto de 2008

Agenda Jazz 18 a 24 de Agosto



2ª feira, 18 de Agosto

19.30h – Hotel D. Filipa (Loulé) - Orquestra de Jazz de Lagos
23.30h – Catacumbas (Lisboa) - Quarteto de Paulo Lopes

3ª feira, 19 de Agosto

22.30h – Ondajazz (Lisboa) - Hipster 6tet
23.30h – Catacumbas (Lisboa) - Messias & The Crossroads Blues Band

4ª feira, 20 de Agosto

23.30h – Catacumbas (Lisboa) - Catman & Friends Play The Blues

5ª feira, 21 de Agosto

22.00h – Cafaria Quadrante (CCB-Lisboa) - Miguel Martins Kaleidoscópio
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – Pedro Moreno & Raspa do Tacho
23.30h – Catacumbas (Lisboa) - A Jazz Ensemble

6ª feira, 22 de Agosto

21.30h - Tomar - Aldeia de Cem Soldos - Kumpania Algazarra
22.00h – Fábrica da Pólvora (Barcarena-Oeiras) – Juan Pinilla
23.00h – Ondajazz (Lisboa) - Quinteto de Afonso Pais

Sábado, 23 de Agosto

17.30h - Tomar - Aldeia de Cem Soldos - Tora Tora Big Band & Rão Kyao
22.00h – Convento dos Capuchos (Almada) - A4 Band Jazz Quartet
22.00h - Vila Nova da Cerveira - Auditório Municipal - Wim Mertens Duo
22.00h – Jardim Palácio Cristal (Porto) - Jacinta «Convexo»
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – Jandira Silva
23.00h - Villa Praia - Castanheira de Pêra - Lydie Carell & Júlio Resende

Domingo, 24 de Agosto

17.00h – Parque Eduardo VII (Lisboa) - António Bruheim Trio

sábado, 16 de agosto de 2008

As Melodias de Meron



Eyal Sela & Song of the Mountain
15 de Agosto de 2008, 22.00h
Fábrica da Pólvora – Barcarena
****

Integrado na XVI edição do festival Sete Sóis Sete Luas, evento promovido por uma rede cultural de 30 cidades de 9 países diferentes (Cabo Verde, Croácia, Espanha, França, Grécia, Israel, Itália, Marrocos e Portugal) com apoio da União Europeia e presidência honorária dos prémios Nobel da literatura José Saramago e Dário Fo, teve lugar uma apresentação na Fábrica da Pólvora de Barcarena, Oeiras, do grupo israelita Song of the Mountain, liderado pelo clarinetista e saxofonista Eyal Sela.
Apesar de ter recebido formação clássica no Conservatório de Tel-Aviv, Eyal Sela dedicou-se, há mais de uma década, à música étnica, não apenas israelita, de onde é natural, mas também de outros pontos do mundo, dos Balcãs à Índia, com particular incidência nas regiões onde a diáspora israelita deixou marcas mais profundas.
Foi membro do grupo "Al-Ol" e realizou colaborações com o músico Yair Dalal. Pelo caminho actuou um pouco por todo o mundo, tendo tido o privilégio de tocar em Oslo, na cerimónia de entrega do prémio Nobel da Paz a Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Yasser Arafat, no ano de 1994. Outras colaborações passaram pelo projecto Sejera da Inbal Dance Troupe, com Shlomo Bar, com o oudista palestiniano Adel Salame ou o lirista Ross Daly. Mais recentemente foi director musical do espectáculo indiano Bharati, que tem sido apresentado com grande sucesso na Europa e compõs ainda parte da banda sonora do filme Secrets, de Avi Nesher.


No seu disco, Sela (Magda, 2001), usa o clarinete para traçar as influências judaicas na música dos Balcãs. Já em Darma (Magda, 1999), é a flauta e o misticismo da Índia que o atrai e que cruza, a propósito, com a música turca e israelita, na companhia de Yair Dalal e Avi Agababa.
Nas suas próprias palavras, Israel é uma interacção diária entre várias nações, religiões e culturas etno-musicais. Esta realidade oferece-lhe a oportunidade para criar um mosaico musical no qual ocidente e oriente possam viver em paz.
Pelo caminho tornou-se um virtuoso de inúmeros instrumentos de sopro: clarinete, saxofone, flauta, mas também muitas das suas variantes regionais, turcas, árabes e indianas. É professor no Conservatório de Tel-Aviv, onde ensina música dos Balcãs, da Turquia e Índia.



Eyal Sela & Darma Ensemble
Call Of The Mountain
2004 Nada Records

O seu mais recente projecto, agora apresentado em Portugal, é desenvolvido com o grupo Darma e denomina-se Song of the Mountain por versar sobre a música característica das celebrações que têm lugar no Monte Meron, na Galileia.
Desde há 200 anos que têm lugar as festas anuais de Lag B’Omer, junto do Monte Meron, em Israel. Este local é onde está sepultado o Rabbi Simon Bar Yochai, alegado autor do Sefer Hazohar (Livro do Esplendor) que constitui a base da doutrina mística judaica do cabalismo. Estas festividades têm, desde sempre, um carácter cosmopolita, atraindo à Galileia judeus oriundos dos mais variados cantos do mundo, tal como árabes, druzos e circassianos (comunidade muçulmana adiguésia, originária do Cáucaso). O ambiente vivido é assim de festa multicultural onde a música, dança e poesia destes povos convive em paz e harmonia à volta das fogueiras acesas no místico e misterioso deserto da Galileia.
Musicalmente o festival exibe influências de quase todos os locais onde o judaísmo floresceu: asquenazitas do leste europeu, sefarditas do Mediterrâneo, mizrahim da África judaica mas também árabes, cristãs orientais e centro-asiáticas. Este variado repertório é conhecido como Nigunei Meron (melodias de Meron) e constitui uma verdadeira world music, criada séculos antes do termo ter sido inventado…
Recorrendo a instrumentos tradicionais como o clarinete turco, o oud árabe ou a kamancha (violino tradicional persa, que se toca na vertical) o projecto Song of the Mountain, liderado por Sela, propõe-se precisamente recriar perante os palcos do mundo este ambiente multicultural e multisecular das festividades do Monte Meron na Galileia. Conta com Eyal Sela no clarinete (normal e turco), flautas e bansuri (flauta indiana de madeira), Avi Agababa na percussão, Gershon Waiserfirer no oud, Gilad Ephrat no baixo e Marc Elyahu na kamancha.
Uma viagem inesquecível à Galileia, sem precisar de sair de casa!
Depois desta actuação em Oeiras e da do dia 11 de Agosto na Manta Rota, o grupo vai actuar mais duas vezes em Portugal, concertos que recomendo vivamente: já hoje, 16 de Agosto, em Ponte de Sôr e dia 14 de Setembro em Castro Verde (esta de Eyal Sela com o ensemble 7 sóis).
Deixo-vos com um vídeo elaborado a partir do tema An Arabic, incluído no disco Song of the Mountain, com belas fotos da Eritreia, da autoria de Johan Gerrits.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Canções Labirínticas



Sting & Edin Karamazov
Songs From The Labyrinth
Deutsche Grammophon, 2006

De Sting já toda a gente ouviu falar. E arrisco mesmo afirmar que poucos não saberão trautear pelo menos um dos seus muitos sucessos, dos Police ou da já sua longa e prolífica carreira a solo.
O que já nem todos conhecerão é a versatilidade musical do ex-vocalista e baixista dos Police, que o tem levado a temerárias incursões por territórios musicais pouco usuais em músicos pop, como sejam o jazz, a world music ou a música clássica.
Uma das mais insólitas incursões de Gordon Matthew Thomas Sumner (assim se chama o senhor, nascido em Wallsend em Inglaterra, no ano de 1951) por territórios musicais menos conhecidos deu-se em 2006, quando gravou um disco pela Deutsche Grammophon (a famosa editora alemã de música clássica) dedicado ao compositor britânico renascentista John Dowland (1563-1626), na companhia do alaúde do músico bósnio Edin Karamazov.
Este trabalho não terá contribuído em muito para os mais de 100 milhões de discos vendidos por Sting, nem tão pouco para os 16 Grammys já conquistados por si, mas é seguramente revelador de uma versatilidade invulgar.
Songs from the Labyrinth, assim se denomina o disco, foi acolhido de forma irregular, entre aclamações seguidistas e críticas dos mais canónicos puristas.
Confesso que achei o trabalho interessante, não me sentindo minimamente intimidado ao ouvir a inconfundível voz rouca de Sting arranhar as melancólicas melodias elizabetianas de Dowland. Além de um notável trabalho de Karamazov no alaúde, o disco revela apurados arranjos vocais que, além de tornarem porventura mais acessível, aos não iniciados nos meandros da música antiga (onde modestamente me incluo), a obra de Dowland, a exprimem de forma particularmente bela e apelativa.
O estimado leitor que julgue por si.

Sting & Edin Karamazov - Come Again

Ventos de Nova Iorque



Já aqui deixei alguns comentários ao excelente trabalho desenvolvido pelo trompetista suiço Franco Ambrosetti com o Uri Caine Trio (composto por Uri Caine no piano, Drew Gress no contrabaixo e Clarence Penn na bateria), denominado “The Wind” e lançado em 2007 pela editora ENJA. Para mais detalhes consultem o artigo entitulado “Brisa Contagiante”, publicado em 20 de Maio passado.
Faltou na altura deixar-vos um vídeo, elaborado a partir de um dos temas do álbum, que melhor ilustrasse as numerosas considerações tecidas a respeito deste.
Colmatando essa lacuna, aqui fica o tema que dá nome ao álbum, acompanhado das extraordinárias fotografias de bailarinos da Broadway, tiradas pelo fotógrafo Richard Calmes, pelas ruas (e céus) de Nova Iorque.
Uma rara e dupla preciosidade!

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Agenda Braço de Prata



4ª feira, 13

22.00h - Sala Nietzsche
Recital de guitarra de Fredo Merzner

5ª feira, 14

22.00h - Sala Nietzsche
Daniel Hewson (piano)

6ª feira, 15

22.00h - Sala Prado Coelho - Marta Plantier e Luis Barrigas
23.00h - Sala Nietzsche - Júlio Resende Trio
00.30h - Sala Prado Coelho - The Ballis Band
Chico Ballis – Bateria; Ana Mira – Voz; João Vieira – Guitarra; João Costa – Guitarra; James – Baixo

Sábado, 16

23.00h - Sala Visconti - Raspa de Tacho
Tércio Borges – cavaquinho; João Vaz – saxofone soprano; Gabriel Godoi – violão 7 cordas; João Fião – percussão
23.00h - Sala Nietzsche - " Future Now " Quarteto de Zeca Neves
Zeca Neves - Baixo Eléctrico e Contrabaixo; Daniel Vieira – Saxofone; Toni Pinto – Guitarra; Carlos Miguel - Bateria.
00.00h - Sala Nietzsche - YAMI - “Aloelela”
YAMI: Voz e Guitarras; Nelson Canoa: Teclas e Acordeão; Tiago Santos: Guitarras; Ciro Cruz: Baixo; Vicky: Percussões.

O Misticismo Sufi de Dhafer Youssef



Dhafer Youssef
Malak
Enja, 1999

Dhafer Youssef é um cantor, compositor e tocador de oud, nascido em 1967 em Teboulb, uma cidade portuária da Tunísia. Desde 1990 que está radicado na Europa (primeiro em Viena e mais recentemente em Paris) onde tem desenvolvido colaborações memoráveis com grandes músicos, das mais variadas proveniências, como o guitarrista vietnamita Nguyên Lê, o trompetista alemão Markus Stockhausen, o contrabaixista francês Rénaud Garcia-Fons ou ainda o saxofonista israelita Gilad Atzmon, o trompetista sardo Paolo Fresu, o pianista norueguês Bugge Wasseltoft, o guitarrista austríaco Wolfgang Muthspiel ou o baterista francês Patrice Héral, entre muitos outros.
Começou a cantar, na tradição islâmica, aos 5 anos de idade, mas a maturidade levou-o à tradição mística Sufi. Com uma rara abordagem poética ao Oud, demonstrou ainda uma notável capacidade de fusão, aproximando-se quer dos universos musicais de outras paragens (designadamente da Índia), ao sabor das inúmeras colaborações desenvolvidas, quer ainda ao jazz. É possuidor de uma das mais notáveis vozes surgidas nos últimos anos.


Malak foi o seu primeiro disco como líder, gravado em 1999 pela editora Enja e é uma notável afirmação de lirismo árabe, ritmo, misticismo, influências multiculturais e improvisação jazzística. Uma verdadeira ponte entre os universos musicais ocidental e oriental.
Conta com um elenco de luxo: ele próprio na voz, oud e composição, Markus Stockhausen no trompete e fliscórnio, Nguyên Lê na guitarra, Renaud Garcia-Fons no contrabaixo, Deepak Ram no bansuri, Zoltan Lantos no violino, Achim Tang no baixo, Jatinder Thakur na tabla e dolak, Patrice Héral na bateria e Carlo Rizzo no tamborim.
Nos últimos anos, mercê da sua ligação privilegiada ao ocidente e às inúmeras colaborações desenvolvidas, nomeadamente com artistas israelitas e palestinianos, Dhafer Youssef converteu-se num símbolo da tolerância cultural e de uma visão alternativa da cultura árabe e islâmica.
Deixo-vos com o maravilhoso tema L’Ange Aveugle (O Anjo Cego) inserido no seu trabalho Malak. As referências indianas do tema (decorrentes do uso da tabla por Jatinder Thakur, o fantástico instrumento de percussão indiano com uma rara capacidade melódica, e do misticismo que brota dos sopros, designadamente do bansuri, a flauta indiana entregue a Deepak Ram) levaram-me a escolher, para complemento, as espectaculares fotos indianas de Claude Renault. Espero que gostem.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Lagos Jazz 2008



Se estiver de férias no Algarve não desespere porque também aí vai poder ver e ouvir bom Jazz.
De 13 a 17 de Agosto vai ter lugar a 7ª edição do Festival Lagos Jazz, organizado pela Câmara Municipal de Lagos, este ano numa preciosa colaboração com o Festival italiano de Orsara que permite o intercâmbio da maioria dos professores que vão colaborar nos workshops de jazz, que vão decorrer em simultâneo com o Festival, e proporcionar aos alunos uma apresentação pública, no último dia do certame.

Dia 13 de Agosto, apresenta-se a Orquestra de Jazz de Lagos com o convidado Luís Cunha, jovem trombonista português, formado pela Escola Profissional de Música de Almada. A Direcção Musical, como habitualmente e desde o primeiro dia, estará a cargo de Hugo Alves.

Dia 14 de Agosto, Miguel Martins Kaleidoscópio "The Newcomer", um trio liderado pelo guitarrista que lhe dá o nome, e que editou este seu primeiro trabalho em finais de 2007. Trará consigo o contrabaixista Carlos Barretto e o baterista José Salgueiro, ambos nomes incontornáveis do Jazz Português.

Dia 15 de Agosto, Orsara-Lagos Jazz Summit. O colectivo de professores apresenta-se em concerto, com um "preparado" de temas originais. Antonio Ciacca (USA, piano), Kengo Nakamura (USA, contrabaixo), Ulysses Owen (USA, bateria), Lucio Ferrara (ITA, guitarra), Stacy Dillard (USA, saxofone), Luís Cunha (POR, trombone), Hugo Alves (POR, trompete).

Dia 16 de Agosto, Mulgrew Miller Trio. O pianista que foi companheiro de nomes como Woody Shaw, Art Blakey, Benny Golson ou Tony Williams. apresenta-se acompanhado pelo trio que o tem seguido nas últimas tours mundiais, composto por Ivan Taylor(contrabaixo) e Rodney Green (bateria);

Dia 17 de Agosto... apresenta-se o combo dos alunos dos Workshops do Festival.

Os concertos acontecem sempre às 22.00h, no Centro Cultural de Lagos.

Paralelamente terão lugar os workshops, de 13 a 17 de Agosto, 14:00 - 17:00, no Centro Cultural de Lagos e vasta animação de rua, com The New Orleans Jazz Band (13 Agosto: Centro Histórico de Lagos; 15 Agosto: Vila da Praia da Luz) e Jam Sessions a decorrem no Stevie Rays Blues Jazz Bar: 13, 14, 15 e 16 de Agosto, a partir das 22:30h, com Diogo Vida (piano), Rodrigo Monteiro (Contrabaixo)e Filipe Sequeira (bateria).

Mais informações podem ser obtidas no site http://www.lagosjazz.com/.

Jazz no Mar Alto



Venho por esta lembrar que está a decorrer no Círculo Cultural «Mar Alto», na Nazaré, mais uma edição do Jazz no Mar Alto. Os concertos, com jovens e consagrados músicos de jazz nacionais, têm lugar às 23.00h no Círculo Cultural da Nazaré - Mar Alto - Largo Afonso Zuquete (junto ao Hotel Nazaré), e a entrada tem o módico custo de 2.00€. Pelo que, se está de férias na região Oeste, aproveite a iniciativa da Lusitanus Ensemble Produções e da Câmara Municipal da Nazaré, e passe umas boas férias ao som do jazz.

Deixo-vos o programa dos próximos concertos:

13-08-2008 Quarteto de Miguel Fevereiro
João Cabrita – saxofone tenor / Miguel Fevereiro – guitarra
Tó Olivença – baixo / José Vilão – bateria

14-08-2008 2Tubas & Friends
Sérgio Carolino & Anne Jelle Visser – Tuba
Michael Lauren – bateria + convidados surpresa

15-08-2008 Groove Station Trio
Hugo Trindade – guitarras e loops
Hugo Antunes – contrabaixo / Bruno Pedroso – bateria

16-08-2008 NIP Jazz Version
Susana Gomes – voz / João Capinha – saxofone alto e flauta
Márcio Silvério – guitarra / Tiago Lopes – baixo / Vítor Copa – bateria

domingo, 10 de agosto de 2008

Contos Mediterrânicos



Racconti Mediterranei
Enrico Pieranunzi, Marc Johnson e Gabriele Mirabassi
Egea, 2000

Racconti Mediterranei é um hino ao Mediterrâneo, em toda a sua nostalgia, beleza e história. Gravado em 2000, no Teatro Comunale di Gubbio (pequena comuna da Úmbria, na província de Perugia), este disco é uma colecção de humores e sugestões mediterrânicas, tocantes, delicadas e emocionantes.
Ao leme desta viagem inesquecível está o pianista romano Enrico Pieranunzi, autor de todos os temas incluídos no disco. Nascido em 1949 é dono de uma técnica prodigiosa que aplica virtuosamente ao jazz com o mesmo à-vontade que o faz em ambientes clássicos, contemporâneos ou populares. Acompanham-no o norte-americano Marc Johnson no contrabaixo e o virtuoso perugiano do clarinete Gabriele Mirabassi.
Editado em 2000 pela Egea (também ela sediada em Perugia), é uma obra fascinante e por isso mesmo, recomendada com veemência.
Para aperitivo deixo-vos o tema de abertura da mesma, The Kingdom (Where Nobody Dies) – até o título é delicioso -, da autoria de Pienanunzi, acompanhado de belas fotos mediterrânicas do grego Petros Labrakos.

Agenda Jazz 11 a 17 de Agosto



2ª feira, 11

19.30h - Hotel Le Meridien Dona Filipa (Vale de Lobo) - Hugo Alves & Amigos
22.00h – Zona Poente Casino Monte Gordo - Be Dom + Kumpania Algazarra

3ª feira, 12

22.00h - Zona Poente Casino Monte Gordo - Los Piratas + Kumpania Algazarra

4ª feira, 13

22.00h – Centro Cultural Lagos - Orquestra de Jazz de Lagos & Luís Cunha
22.30h - Stevie Rays Blues Jazz Bar (Lagos) - Diogo Vida & Rodrigo Monteiro & Filipe Sequeira
23.00h - Academia Municipal das Artes da Nazaré - Quarteto de Miguel Fevereiro
23.30h – Rossio (Lisboa) - Trio Bárbara Lagido

5ª feira, 14

21.30h – Livraria Trama (Lisboa) - Quarteto Maria João Matos
22.00h – Centro Cultural de Lagos - Miguel Martins Kaleidoscópio
22.00h – Cafetaria Quadrante – CCB (Lisboa) – Fundbureau
22.30h - Stevie Rays Blues Jazz Bar (Lagos) - Diogo Vida & Rodrigo Monteiro & Filipe Sequeira
23.00h – Hot Club (Lisboa) - Pedro Viana "Invitation"
23.00h - Academia Municipal das Artes da Nazaré - 2Tubas & Friends

6ª feira, 15

22.00h – Centro Cultural de Lagos - Orsara-Lagos Jazz Summit
22.30h - Stevie Rays Blues Jazz Bar (Lagos) - Diogo Vida & Rodrigo Monteiro & Filipe Sequeira
23.00h - Hot Club (Lisboa) - Pedro Viana "Invitation”
23.00h - Academia Municipal das Artes da Nazaré - Groove Station Trio
23.30h – Rossio (Lisboa) – Yemanjazz

Sábado, 16

22.00h – Hotel Tivoli Almansor (Lagoa) - Camané & Mário Laginha & David Fonseca
22.00h – Convento Capuchos (Almada) – Sonic Motion
22.00h – Jardim Palácio Cristal (Porto) - The Postcard Brass Band
22.00h – Centro Cultural de Lagos - Mulgrew Miller
22.30h - Stevie Rays Blues Jazz Bar (Lagos) - Diogo Vida & Rodrigo Monteiro & Filipe Sequeira
23.00h - Hot Club (Lisboa) - Pedro Viana "Invitation”
23.00h - Academia Municipal das Artes da Nazaré - NIP Jazz Version
23.30h – Ondajazz (Lisboa) - André Carvalho Quarteto

Domingo, 17

17.00h – Parque Eduardo VII (Lisboa) - Johannes Krieger Quartet
22.00h – Centro Cultural de Lagos - Alunos do Workshop LagosJazz

sábado, 9 de agosto de 2008

Sons de Sefarad (9)



Gilad Atzmon &
The Orient House Ensemble

Enja, 2000

Gilad Atzmon é um músico de jazz, nascido em Tel-Aviv em 1963. Recebeu formação na Rubin Academy of Music, em Jerusalém, mas, ao cumprir o serviço militar, revoltou-se contra o regime israelita que acusa de se ter transformado num Estado militarizado, controlado por extremistas. Emigra para Londres, onde se dedica ao estudo da filosofia (estudou também na Alemanha), convertendo-se num activista anti-sionista, com vasta obra publicada. Paralelamente desenvolve também uma importante carreira musical, a qual, curiosamente, a partir dos anos 90, quando funda este Orient House Ensemble (composto por ele próprio no saxofone, clarinete e flauta, Asaf Sirkis na bateria, Yaron Stavi no baixo e Frank Harrison no piano), afasta-se um pouco do universo criativo de Miles Davis, John Coltrane ou Wayne Shorter, que tanto o marcaram, para incidir de forma acentuada na tradição musical judaica e do médio oriente.
Colaborou igualmente com músicos de rock, como Ian Dury & The Blockheads, Shane McGowan, Robbie Williams, Sinéad O'Connor, Robert Wyatt e Paul McCartney.
Atzmon dirigiu também importantes colaborações com músicos árabes e palestinianos, como Reem Kelani e o tunisino Dhafer Youssef.
Escreve regularmente para publicações como CounterPunch, Al Jazeera, Uruknet, Middle East On Line e Dissident Voice e foi um dos fundadores do site Palestinian Think Tank, que promove o debate a favor de uma Palestina livre.
Desde 2001 dedicou-se ainda à ficção, com duas obras publicadas: A Guide to the Perplexed (2001) e My One and Only Love (2005), ambas fortemente anti-sionistas e já traduzidas em 22 línguas.



Musicalmente Gilad Atzmon espelha bem as suas ideias políticas. Não renegando a herança cultural judaica, encontrou porém no jazz a sua forma natural de expressão, recorrendo à fusão, sobretudo com a música árabe e do médio oriente, como modo de melhor exprimir os seus ideais de coexistência pacífica entre a comunidade judaica e palestiniana.
Exímio saxofonista, o seu instrumento de eleição é o sax alto, exprime-se com igual destreza nos sax soprano, tenor e barítono, mas também no clarinete, na flauta e na zurna (instrumento tradicional da Anatólia e Balcãs).

Deixo-vos com o tema Pardonnez-Nous, canção tradicional ladina com um arranjo de forte influência árabe, extraída do álbum de estreia do quarteto, editado em 2000 pela Enja, e com belíssimas fotos do Yemen, da autoria de Maciej Dakowicz.



É de realçar que o Yemen possuía uma das mais antigas comunidades judaicas da história da diáspora do povo israelita. A lenda remonta-a à Rainha de Sabá, que teria casado com o Rei Salomão, levando assim o judaísmo até aos seus domínios do Yémen, Eritreia e Etiópia.
Região remota e isolada (situa-se no extremo sul da península arábica) desenvolveu por isso um rito próprio e distinto de todos os outros, diferenciando-se quer do asquenazita, quer do sefardita.
Uma figura máxima do judaísmo sefardita teve contudo extrema importância no desenvolvimento do rito yemenita, a do Rabbi Moshe ben Maimon, mais conhecido como Maimónides, o famoso médico de Córdoba.
Quando Saladino ascendeu ao sultanato, no século XII, os xiitas revoltaram-se e começaram a perseguir os judeus yemenitas, os quais se encontravam sob domínio aiúbida. Um profeta judaico (foram muitos os Messias yemenitas ao longo da história do judaísmo naquela região arábica) pregou então uma nova religião que fundia judaísmo e islamismo, aproveitando o caos reinante na comunidade israelita. Tal levou a que um dos poucos notáveis judeus yemenitas da época, Jacob ben Nathanael al-Fayyumi, pedisse conselho e ajuda ao sábio andaluz, ao tempo residente no Egipto. A resposta foi a epístola Iggeret Teman (a Epístola do Yemen) que se tornou rapidamente um dos textos mais importantes daquela comunidade judaica, quer pelo seu conteúdo doutrinário, quer ainda pela força, consolo e apoio que transmitiu à comunidade judaica yemenita, naquele momento difícil. Parece que Maimónides conseguiu mesmo intervir directamente junto de Saladino, o qual terá, em consequência, posto fim às perseguições.
O conjunto de regras estabelecidas na epístola de Maimónides, denominado Rambam pela comunidade local, foi codificada na Mishneh Torah, que ainda hoje constitui a base da liturgia yemenita, se bem que harmonizada, por Mori Ha-Rav Yihye Tzalahh, com o misticismo cabalista de Isaac Luria, a partir do séc. XVII. Contudo existem ritos judaicos yemenitas que não aceitam a Cabala e seguem fielmente a doutrina epistolada por Maimónides (os Rambamitas), ou mesmo o rito sefardita ibérico, espalhado pelo norte de África após a expulsão dos judeus da península ibérica (os Shami).
Assim não admira a forte ligação existente entre a tradição musical sefardita e a yemenita, sendo frequente que temas tradicionais do Yémen surjam no cancioneiro sefardita ibérico, anterior e posterior à diáspora e vice-versa.
É pois de toda a pertinência o casamento que vos proponho, de uma canção ladina com a fantástica paisagem yemenita, ainda para mais com as fortes influências árabes introduzidas pelo arranjo de Gilad Atzmon.
Afinal de contas a globalização é um só um novo nome para um fenómeno muito antigo…

Vocalizando Ellington



Lorraine Feather
Such Sweet Thunder
Sanctuary 2003

Vocalese é um termo que designa, nos meios jazzísticos, o processo de criação de letras para temas de jazz instrumentais. A prática terá sido originalmente utilizada por Eddie Jefferson e King Pleasure quando, em 1952, juntaram uma letra nova ao solo de saxofone de James Moody em “I’m in the Mood For Love”, no seu disco “Moody’s Mood For Love”. Porém o grande ícone do género, no início dos anos 60, foi o trio Lambert, Hendricks and Ross, com elaborados arranjos vocais que conseguiam reproduzir uma secção inteira de metais.

Lorraine Feather retomou o género e homenageou, com letras da sua autoria, a Duke Ellington Orchestra, neste belíssimo trabalho denominado Such Sweet Thunder (Sanctuary, 2003), título de um disco do Duke, de 1957. Perfeitamente integrado no espírito dos temas, este trabalho conta com uma respeitável orquestra a acompanhar a voz de Feather e excelentes arranjos de Bill Elliott, Shelly Berg, Mike Lang e Terry Harrington. Antes dele, em 2001 e também pela editora Sanctuary, tinha já homenageado o pianista Fats Waller vocalizando as suas composições no álbum New York City Drag.

Com formação teatral, Lorraine Feather tentou primeiro a sua sorte no teatro nova-iorquino. Apesar de ter participado em várias produções, designadamente em Jesus Christ Superstar, a experiência revela-se pouco satisfatória e Lorraine dedica-se ao jazz revivalista, cantando para várias orquestras de Nova Iorque e em clubes de Los Angeles. Chega mesmo a gravar um disco de standards para a Concord. É então convidada pelo produtor Richard Perry a integrar o trio Full Swing, com Charlotte Crosley e Steve March Tormé (o filho de Mel Tormé), o qual pretendia recuperar o estilo vocal dos anos 40, para audiências dos anos 80 e com o qual grava três discos. Lorraine revela também nesta fase o seu talento como escritora de canções.

Após a separação do trio em 1990 Lorraine dedica-se exclusivamente a escrever canções, para artistas como Patti Austin e Kenny Rankin, para filmes, programas de televisão (já foi sete vezes nomeada para o Emmy) e para as cerimónias de abertura e encerramento dos jogos olímpicos de Atlanta, em 1996.

Foi a morte do pai, o compositor Leonard Feather, e a redescoberta da sua colecção de discos de jazz (doada à Universidade de Idaho) que fez Lorraine descobrir a obra de Fats Waller e pôr-se a escrever letras para os seus solos. O resultado foi o disco New York City Drag e o renascimento da sua carreira como cantora de jazz.

Deixo-vos com o tema The 101, vocalização do tema instrumental Suburbanite, da Duke Ellington Orchestra, com letra da autoria de Lorraine Feather e arranjo de Bill Elliott, extraído do disco Such Sweet Thunder.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Amor de Terceiro Mundo



Third World Love
New Blues
Anzic Records 2007

Third World Love é um quarteto de jazz israelo-norte americano. Formado em Barcelona, em 2003 e por iniciativa do baterista Daniel Freedman, para uma jam session que revelou, quase instantaneamente, as enormes sintonias dos músicos envolvidos.
É composto pelos israelitas Avishai Cohen no trompete (não confundir com o homónimo contrabaixista e pianista, que fez parte do sexteto Origin, de Chick Corea), Yonatan Avishai no piano, Omer Avital no contrabaixo e pelo baterista norte-americano Daniel Freedman.
Quatro anos depois, e outros tantos discos (Third World Love Songs, Avanim, Sketch of Tel Aviv), surge este New Blues, gravado em 2007 e editado, já em 2008, pela Anzic Records. Um disco brilhante onde, sob o cada vez mais abrangente chapéu do jazz, se fundem influências diversas: africanas, latino-americanas, flamencas, do médio-oriente e até uma valsa musette francesa.
No seguimento de outros trabalhos de músicos israelitas (como o já citado contrabaixista Avishai Cohen) este New Blues exprime, através do jazz, as raízes musicais judaicas do quarteto, na decomposição das suas várias influências e componentes, africanas, latinas e norte-americanas. O resultado é um verdadeiro mosaico onde se encaixam jazz, blues, melodias e ritmos sefarditas e klezmer, flamenco, pasodobles, sambas e rumbas sem esquecer os ritmos africanos. Um desafio permanente ao ouvinte.
Uma obra omnívora na absorção das inúmeras influências recolhidas pelo grupo, mas ainda assim de uma invejável coerência.
Esta enorme riqueza musical, brilhantemente composta e interpretada pelos quatro músicos envolvidos (a excepção é o tema So, de Duke Ellington, que fecha o álbum), é reforçada por um apurado sentido melódico que nunca se revela redutor ou simplista, e por uma invejável secção rítmica que imprime uma pulsação contagiante à obra, tornando-a sedutora, alegre e acessível a um alargado leque de públicos.
Third World Love convida-nos a uma viagem global e poética pelos ritmos, canções, danças e celebrações da cultura mediterrânica.
Um trabalho maduro e consistente deste quarteto que, progressivamente, se vai afirmando como um nome maior do jazz internacional actual.
Vivamente recomendado.



Deixo-vos com o tema La Camarona, um original de Daniel Freedman que, nas palavras do compositor, corresponde a um cruzamento onírico da música da brasileira Clara Nunes e de cantor de flamenco, Cameron de La Isla. As fotos de Espanha são da autoria de Chris Spracklen.

Agenda Braço de Prata



4ª feira, 6 de Agosto

22.30h - Sala Prado Coelho
JB ensemble

Maria José Leal- voz
Telmo Campos-saxofones
Filipe Duraes- trompetes
Nuno Salvado -acordeão
João Roque- guitarra
Diana Almeida- piano
Antonio Quintino-contrabaixo
Paulo Monteiro-bateria
Direcção e arranjos - Pedro Madaleno

23.00h - Sala Nietzsche
Francisco Pais Quartet Tour 2008

Francisco Pais - guitarra
Josefine Lindstrand - voz
Demian Cabaud - contrabaixo
Bruno Pedroso – bateria

5ª feira, 7 de Agosto

22.30h - Sala Prado Coelho
Miguel Leiria Pereira + Jean Michel Micallef + Teppe Watanabe

23.00h - Sala Nietzsche
La Chanson Noire

6ª feira, 8 de Agosto

22.00h - Sala Prado Coelho
Free Fucking Notes
Marta Plantier (voz) e Luís Barrigas (piano)

22.30h - Sala Nietzsche
Júlio Resende Trio

23.00h - Sala Visconti
Playground
Nuno Biscaia, Alcides Miranda, Paulo Muiños, Isaac Achega

Sábado, 9 de Agosto

22.00h - Sala Prado Coelho
Nicole Eitner

22.00h - Sala Nietzsche
Longitude Zero – Jazz
Guida Costa - voz / trombone de varas
Carlos Azevedo - piano
Cicero Lee - contrabaixo
Paleka – bateria

23.30h - Sala Prado Coelho
Fados, com Hélder Moutinho e convidados

00.00h - Sala Visconti
o erro!
João Palma (guitarra, voz) e João Pedro Almeida (guitarra)

00.00h - Sala Nietzsche
Quinteto Nuno Costa - Jazz

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O Regresso de Mr. Gone



Wayne Shorter é um dos mais importantes e influentes saxofonistas e compositores norte-americanos das últimas décadas. Nascido em 1933 em Newark, New Jersey, frequentou em jovem a Newark Arts High School antes de ingressar, no início dos anos 50, na Universidade de Nova Iorque. Em 1956 foi para o exército, onde tocou com Horace Silver e, dois anos depois, já terminado o serviço militar, com Maynard Ferguson. Foi nesta altura que lhe foi atribuída a alcunha de Mr. Gone, que haveria, anos mais tarde, de servir de título para um álbum dos Weather Report. Em 1959 juntou-se aos Jazz Messangers de Art Blakey, onde permaneceu durante cinco anos, terminando como director musical do grupo. Em 1964 deixou os Jazz Messangers e juntou-se ao quinteto de Miles Davis, onde tocavam Herbie Hancock, Ron Carter e Tony Williams, para muitos o melhor quinteto de sempre do mítico trompetista. Foi durante os anos que tocou com Davis que Shorter compôs temas que viriam a alcançar o estatuto de standards, como Prince of Darkness, ESP, Footprints, Sanctuary ou Nefertiti. Esta colaboração duraria até 1970, mesmo depois do fim do quinteto, tendo Shorter participado em ambos os projectos de fusão gravados por Davis em 1969, In a Silent Way e Bitches Brew.
Paralelamente aos seus trabalhos com Miles Davis, Wayne Shorter gravou muito para a Blue Note com inúmeras formações, incluindo músicos como Freddie Hubbard, Lee Morgan, McCoy Tyner, Reggie Workman, Elvin Jones, Curtis Fuller, James Spaulding ou Joe Chambers, entre outros.
Em 1971, juntamente com o teclista Joe Zawinul, fundou os Weather Report onde tocavam igualmente o contrabaixista Miroslav Vitous (após a saída deste em 1973 o baixo foi entregue a Jaco Pastorius), o percussionista Airto Moreira e o baterista Alphonse Mouzon, um dos mais aclamados e influentes grupos de fusão dos anos 70. Mesmo durante os atarefados anos dos Weather Report, Wayne Shorter continuou a encontrar tempo para se dedicar a projectos pessoais e de colaboração com outros músicos, como Herbie Hancock, Milton Nascimento, Joni Mitchell ou Steely Dan.
Em 1986 participou no filme de culto de Bertrand Tavernier, Round Midnight, com Dexter Gordon no papel principal.
Mais recentemente Wayne Shorter colaborou com Carlos Santana em 1988, com os seus ex-colegas do Quinteto de Miles Davis num álbum de homenagem ao trompetista, logo após a sua morte, e ainda com Joni Mitchell. Em 1995 gravou High Life pela Verve, disco co-produzido por Marcus Miller.
Uma tragédia pessoal (a morte da mulher Ana Maria num acidente de aviação em 1996) afastou-o vários anos dos estúdios, abraçando Shorter a religião budista. Mas a partir de 2002 voltámos a assistir ao lançamento regular de discos de Wayne Shorter, primeiro Footprints Live em 2002, depois Alegria em 2003 e finalmente, em 2005, Beyond the Sound Barrier.
Shorter foi já galardoado com nove Grammys. Recebeu ainda o NEA Jazz Masters em 1998 e foi doutorado honoris causa pelo Berklee College of Music em 1999.



Wayne Shorter
Alegría
Verve 2003

Deixo-vos com um memorável dueto de Shorter com Herbie Hancock, gravado em Paris em Janeiro de 2004. O tema é Meridianne, de Wayne Shorter.