sábado, 9 de agosto de 2008

Vocalizando Ellington



Lorraine Feather
Such Sweet Thunder
Sanctuary 2003

Vocalese é um termo que designa, nos meios jazzísticos, o processo de criação de letras para temas de jazz instrumentais. A prática terá sido originalmente utilizada por Eddie Jefferson e King Pleasure quando, em 1952, juntaram uma letra nova ao solo de saxofone de James Moody em “I’m in the Mood For Love”, no seu disco “Moody’s Mood For Love”. Porém o grande ícone do género, no início dos anos 60, foi o trio Lambert, Hendricks and Ross, com elaborados arranjos vocais que conseguiam reproduzir uma secção inteira de metais.

Lorraine Feather retomou o género e homenageou, com letras da sua autoria, a Duke Ellington Orchestra, neste belíssimo trabalho denominado Such Sweet Thunder (Sanctuary, 2003), título de um disco do Duke, de 1957. Perfeitamente integrado no espírito dos temas, este trabalho conta com uma respeitável orquestra a acompanhar a voz de Feather e excelentes arranjos de Bill Elliott, Shelly Berg, Mike Lang e Terry Harrington. Antes dele, em 2001 e também pela editora Sanctuary, tinha já homenageado o pianista Fats Waller vocalizando as suas composições no álbum New York City Drag.

Com formação teatral, Lorraine Feather tentou primeiro a sua sorte no teatro nova-iorquino. Apesar de ter participado em várias produções, designadamente em Jesus Christ Superstar, a experiência revela-se pouco satisfatória e Lorraine dedica-se ao jazz revivalista, cantando para várias orquestras de Nova Iorque e em clubes de Los Angeles. Chega mesmo a gravar um disco de standards para a Concord. É então convidada pelo produtor Richard Perry a integrar o trio Full Swing, com Charlotte Crosley e Steve March Tormé (o filho de Mel Tormé), o qual pretendia recuperar o estilo vocal dos anos 40, para audiências dos anos 80 e com o qual grava três discos. Lorraine revela também nesta fase o seu talento como escritora de canções.

Após a separação do trio em 1990 Lorraine dedica-se exclusivamente a escrever canções, para artistas como Patti Austin e Kenny Rankin, para filmes, programas de televisão (já foi sete vezes nomeada para o Emmy) e para as cerimónias de abertura e encerramento dos jogos olímpicos de Atlanta, em 1996.

Foi a morte do pai, o compositor Leonard Feather, e a redescoberta da sua colecção de discos de jazz (doada à Universidade de Idaho) que fez Lorraine descobrir a obra de Fats Waller e pôr-se a escrever letras para os seus solos. O resultado foi o disco New York City Drag e o renascimento da sua carreira como cantora de jazz.

Deixo-vos com o tema The 101, vocalização do tema instrumental Suburbanite, da Duke Ellington Orchestra, com letra da autoria de Lorraine Feather e arranjo de Bill Elliott, extraído do disco Such Sweet Thunder.

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