quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Canção Para Paredes



Bernardo Moreira Sexteto
Ao Paredes Confesso
Universal 2003

De Bernardo Moreira pode dizer-se que nasceu no jazz, filho primogénito do contrabaixista e actual presidente do Hot Club de Portugal, Engº Bernardo Moreira, um dos músicos que participou no aclamado filme de Fernando Lopes, Belarmino (1963) onde actua o conjunto do Hot Club de Portugal (composto por Jean-Pierre Gebler no sax-barítono, Justiniano Canelhas no piano, Bernardo Moreira no contrabaixo, Manuel Jorge Veloso na bateria e o convidado Milou Struvay no trompete) sob direcção musical de Manuel Jorge Veloso.
No entanto os seus estudos musicais apenas se iniciaram aos 16 anos de idade. Frequentou a Academia dos Amadores de Musica de Lisboa e estudou com Fernando Flores, Niels Oersted Pederson, Rufus Reid e Reggie Workman. É professor da Escola de Jazz Luís Villas-Boas, do Hot Club de Portugal, e pelas suas mãos passaram a maioria dos jovens músicos saídos daquela escola desde o final dos anos 80 do século passado. É pois, actualmente, um dos mais reconhecidos músicos de jazz nacionais, não só pelo seu trabalho docente, sempre ligado ao Hot Club de Portugal, mas também pela enorme experiência adquirida no contrabaixo, frutos de inúmeras colaborações com alguns dos melhores músicos nacionais e estrangeiros de que se destacam nomes como Eddie Henderson, Frank Lacy, Daniel Humair, Mário Laginha, Julian Arguelles, Benny Golson, Curtis Fuller, Norma Winstone, Art Farmer, Maria Pia de Vito, Freddie Hubbard, Maria João, Enrico Rava, Perico Sambeat, Phil Markowitz, Naná Sousa Dias, Ana Paula Oliveira, Nguyen Lê ou Mark Turner, entre muitos outros.

Fundou com os irmãos Pedro e João Moreira o Moreiras Quinteto, com quem correu a Europa e os Estados Unidos em concertos, foi solista convidado da Orquestra Metropolitana de Lisboa e faz parte da Big Band do Hot Club de Portugal. Assumiu a direcção musical de inúmeros projectos, como os mais recentes trabalhos de Paula Oliveira e Lena d’Água e faz parte de algumas da mais importantes formações de jazz nacionais como os trios de Mário Laginha, de Filipe Melo ou de Bruno Santos, o quinteto de Pedro Moreira ou os mais recentes projectos musicais de Cristina Branco (sob direcção musical de Ricardo Dias) e de Joana Machado (direcção de Afonso Pais), entre muitos outros.
Com tantos projectos em curso Bernardo Moreira tem tido pouco tempo para se dedicar à sua própria música, de que este disco de homenagem a Carlos Paredes, lançado em 2003 pela Universal, é uma excepção.
O sexteto de Bernardo Moreira é composto, além do contrabaixista, pelo seu irmão João Moreira no trompete e melódica, pelos guitarristas André Fernandes e Nuno Ferreira, pelo baterista André Sousa Machado e pelo percussionista Quiné, além da participação do seu outro irmão, Pedro Moreira, numa faixa (Dança dos Montanheses) e no saxofone soprano. Este disco é uma sentida homenagem ao grande guitarrista Carlos Paredes, editado pouco tempo antes da sua morte (que ocorreu em 2004) e é composto por quatro originais do músico conimbricense (Dança dos Montanheses, Verdes Anos, Sede e Morte e Variações Sobre Uma Dança Popular) com arranjos de Bernardo Moreira, a que se juntam três originais do contrabaixista imbuídos do génio musical de Paredes (Canção Para Carlos Paredes, Casa do Alto e Ao Paredes Confesso).
Longe de constituir um mero repositório do repertório do guitarrista que tocou com Charlie Haden, Ao Paredes Confesso é antes uma homenagem à criatividade do músico de Coimbra que reinventa os sons da balada coimbrã à luz da estética do jazz, através do talento de alguns dos melhores e mais experientes músicos nacionais do género.
A direcção musical de Bernardo Moreira é garantia mais do que suficiente para a idoneidade dessa homenagem, fruto do rigor e sobriedade com que sempre encara os projectos em que se envolve, mormente quando se trata de uma iniciativa pessoal como esta que, antes de ser gravada, já levava mais de três anos de apresentações públicas nos mais reputados festivais de jazz, aquém e além fronteiras. A música de Carlos Paredes funciona aqui sobretudo como inspiração à criatividade dos músicos, também eles sedentos da originalidade que sempre marcou a obra de Paredes e que atravessa gerações, fortemente imbuída na liberdade de improvisação e riqueza temática que devem caracterizar o jazz e que, para Bernardo Moreira, constituem a sua verdadeira essência.
Sem dúvida uma obra ímpar do jazz nacional que permanece porém, inexplicavelmente, pouco conhecida.
Aqui fica pois o meu reconhecimento e divulgação através de um belo tema, Sede e Morte, original de Carlos Paredes com arranjos de Bernardo Moreira, que vai acompanhada de fotografias de Oliver Dienst.

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