terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Neve do Cáucaso



Stephan Micus
Snow
ECM, 2008

Stephan Micus tem um novo disco. O décimo oitavo editado pela ECM.
Fiel ao seu estilo inconfundível de reinventar as tradições musicais, o bardo alemão desta feita rumou ao Cáucaso, prosseguindo os seus estudos no canto coral georgiano e bem assim no duduk, um maravilhoso oboé, oriundo da Arménia, capaz de nos transportar à primeira nota para os trilhos da milenar rota da seda e das estepes da Ásia Central.
Mas como é seu apanágio isso não basta. A curiosidade e mestria de Micus permitiram-lhe elevar as potencialidades sonoras do instrumento. Fazendo uso de um duduk baixo, utilizado tradicionalmente para funções meramente rítmicas, explorou belas melodias inventadas ao sabor das sensações colhidas nas suas inúmeras viagens, acompanhadas por uma cítara da sua Baviera natal (em Midnight Sea), por címbales e gongos tibetanos e harpas africanas (em Snow) ou por gongos do Pacífico e cavaquinhos andinos (em For Ceren and Halil). O resultado é conhecido, chama-se a música de Stephan Micus e é verdadeiramente única no mundo!
O uso da voz, o instrumento que Micus reputa como mais difícil e que demorou anos a incluir nas suas gravações, aparece agora pleno de força e de expressão. No tema Almond Eyes, uma inspirada fantasia baseada nos coros tradicionais búlgaros e georgianos, Micus simula um ensemble de onze vozes, todas interpretadas e arranjadas por si. O resultado é uma maravilhosa balada, acompanhada por uma guitarra tradicional de cordas de aço e por um "maung", gongo oriundo de Burma, que ora parece uma versão masculina das magistrais obras do grupo Le Mistére des Voix Bulgares, ora descobre nos solos instrumentais uma orientalidade inesperada mas profundamente bem vinda.
Em Brother Eagle, o tema que fecha o disco, são quinze as vozes clonadas de Micus que se sobrepõem num tema misterioso e perturbador e onde o duduk baixo reaparece imponente, qual saxofone nas mãos de um Jan Garbarek, também ele um conhecido cultivador destas sonoridades primordiais.
Nas mãos de Micus todos estes instrumentos tradicionais modificados ganham vida (o próprio músico afirma que os seus inúmeros instrumentos adquirem uma personalidade própria quando integram a sua colecção, deixam de ser meros objectos para constituírem uma personificação do som que produzem).
Através de um intenso e solitário trabalho de estúdio, levado a cabo pelo alemão na sua casa em Maiorca, permitem-lhe atingir um resultado final que é verdadeiramente crescente e orgânico. A música de Stephan Micus é como um organismo criado no seu laboratório de sons, a partir de fatias de sonoridades importadas das mais variadas regiões do mundo, e que, uma vez libertado em disco, se entranha e desenvolve no espírito dos ouvintes, incutindo bem estar e tranquilidade.
Uma experiência viciante e vivamente recomendada.
Vejam um vídeo elaborado a partir do tema Midnight Sea, interpretado no duduk e na cítara bávara, com fotos da Turquia e do Mar Negro da autoria de Brian Lai e que podem ser visitadas em http://www.pbase.com/brian_lai/turkey.
Para mais informações sobre este extraordinário músico alemão podem ler a minha crítica ao disco Desert Poems bem como visitar a página do músico no sítio da ECM em http://www.ecmrecords.com/Catalogue/Artists/micus_stephan.php.

Midnight Sea

domingo, 26 de outubro de 2008

Bill Frisell & Buster Keaton no CCB


Bill Frisell
2 de Novembro, 21.00h
Grande Auditório do CCB (Lisboa)

Bill Frisell nasceu em Baltimore, Maryland, em 18 de Março de 1951. Desde meados dos anos 80 que alcançou o estatuto de um dos mais reputados guitarristas de jazz da sua geração. Com um repertório eclético que vai desde o jazz ao country, passando pela música clássica, pelo blues e pelo folk, Frisell ganhou tantos seguidores quanto detractores, um pouco ao sabor da sua inspiração do momento.
É igualmente famoso pelo uso abundante de efeitos que tornam o som produzido pela sua guitarra verdadeiramente único.
Frisell foi aluno de Dale Bruning na University of Northern Colorado e mais tarde de Jim Hall no Berklee School of Music. Em 1982 foi chamado a substituir Pat Metheny na gravação do disco Psalm de Paul Motion iniciando então a sua carreira para a ECM que o levou a colaborações com os noruegueses Jan Garbarek e Arild Andersen. Mais tarde fundou em Nova Iorque o seu quarteto com Kermit Driscoll, Joey Baron e Hank Roberts e colaborou com John Zorn e novamente com Paul Motian, integrando o seu trio de que faz igualmente parte Joe Lovano.
A partir de 1988 instalou-se em Seattle e iniciou uma nova carreira como líder e compositor abraçando também repertório tão variado como o composto por Charles Ives, Aaron Copland, John Hyatt, Bob Dylan, Madona ou Ryuchy Sakamoto.
Recebeu um Grammy pelo seu trabalho Unspeakable em 2005.
No espectáculo que apresenta no Grande Auditório do CCB, Bill Frisell estará acompanhado pelo baixista Tony Scherr e pelo baterista Kenny Wollesen e interpretará composições originais que acompanham a projecção de curtas-metragens do lendário Buster Keaton, do experimentalista Bill Morrison e do cartoonista e ilustrador Jim Woodring.

Outlaws (Montreal, 2002),
com Greg Liesz, Billy Drewes, Curtis Fowlkes, Ron Miles, David Piltch e Matt Chamberlain


Londres 2004, com Djelimandy Tounkara, Greg Leisz, Jenny Scheinman e Sidiki Camara

O Fantasma de Count Basie no Campo Pequeno


Count Basie Orchestra
29 de Outubro, 22.00h – Campo Pequeno (Lisboa)

A Count Basie Orchestra nasceu em 1936 em Kansas City, Michigan. Basie era pianista da Orquestra de Bennie Moten e, após a morte deste, fundou a sua própria orquestra levando consigo vários dos seus colegas. O grupo inicial compunha-se de apenas 9 elementos: Joe Keys e Oran “Hot Lips” Page nos trompetes, Buster Smith e Jack Washington nos saxofones alto, Lester Young no saxofone tenor, Dan Minor no trombone, Jo Jones na bateria e Walter Page no contrabaixo, além de Count Basie no piano e direcção musical.
A orquestra tornar-se-ia uma das mais populares da "swing era" e sobreviveria mesmo ao declínio de popularidade das grandes orquestras de jazz, produzindo durante as décadas de 50 e 60 importantes colaborações com cantores como Frank Sinatra e Ella Fitzgerald que lhe asseguraram popularidade até à morte de Basie, que ocorreu em 1984.
Depois disso a banda continuou a tocar como “ghost band” sob a direcção de alguns dos músicos que tocaram com Basie, como Eric Dixon, Thad Jones, Frank Foster, Grover Mitchell ou ainda Bill Hughes. O repertório mantém-se fiel aos temas clássicos da orquestra, surgindo novas gravações, a última das quais Basie is Back de 2006 e novas colaborações com músicos como Ray Charles (Ray Sings Basie Swings, 2006) ou Allyn Ferguson (Swing Shift, 1999)
Pela orquestra de Count Basie passaram nomes como Joe Newman, Lester Young, Herschel Evans, Billie Holiday ou John Clayton.
O desafio lançado pela Incubadora d’Artes para esta apresentação da orquestra em Lisboa passa pelo acompanhamento de vários cantores portugueses de nomeada, como Carlos do Carmo, Maria João, Camané, Manuela Azevedo e Lula Pena.

One O'Clock Jump (1943)


Count Basie Orchestra (Basileia 2004)

Dave Holland Quintet no Seixal Jazz


Dave Holland Quintet
29 de Outubro, 21.30h e 23.30h
Auditório Municipal – Forúm Cultural do Seixal

Dave Holland é hoje um dos mais aclamados contrabaixistas do jazz norte-americano e mundial. Líder do Dave Holland Quinteto e do Dave Holland Big Band, integra igualmente o grupo Scolohofo (com John Scofield, Joe Lovano e Al Foster) e o quarteto de Herbie Hancock (com Hancock, Wayne Shorter e Brian Blade). Formações que são verdadeiras dream teams do jazz norte-americano.
Outras colaborações recentes incluem nomes como Roy Haynes, Geri Allen e Kenny Wheeler.
Holland nasceu em Wolverhampton, em Inglaterra, a 1 de Outubro de 1946, e ganhou projecção como sideman de dois grandes nomes do jazz: Thelonious Monk e Miles Davis. Foi nos anos 70 que começou a liderar os seus próprios projectos musicais, com Music for Two Basses, com Barre Phillips (1971) e Conference of the Birds, com Sam Rivers e Anthony Braxton (1972).
Nesta apresentação no Seixal Jazz vai estar acompanhado por Chris Potter (saxofone tenor e soprano), Robin Eubanks (trombone), Steve Nelson (vibrafone) e Nate Smith (bateria).

Solo em Viena (2008)


Mister PC – outro solo


Cymbalism com John Scofield, Joe Lovano e Al Foster

JazzAlémTejo 2008


Um projecto Quadricultura.
O objectivo de mais este projecto, é o de aumentar o número de iniciativas culturais já existentes na área da música, mas preenchendo um espaço até aqui inexistente no concelho de Santiago. O da realização de um evento periódico a realizar no Verão, com um formato semelhante ao de um festival.
Havendo já outras ofertas noutros tipos de música, existia a lacuna de uma área específica. E a via escolhida foi o Jazz, reconhecendo ao Jazz um incremento substancial nestes últimos anos, quer pela via dos projectos musicais existentes, quer ainda pelo número de diversos festivais que se realizam em todo o país.
Mas para que não se tratasse de mais um festival de jazz, havia que encontrar uma solução diferente.
Primeiro, tinha que ser um projecto internacional, para melhor projectar a iniciativa, segundo ter um formato de encontro. Ou seja, permitir que se possam cruzar ideias e propostas musicais de diferentes sensibilidades dentro do Jazz, garantindo sempre a integração de projectos portugueses.
Como proposta acrescida no âmbito do Encontro, pretende-se que ao longo do período da sua realização, se possam desenvolver outras actividades nomeadamente, palestras, debates e workshops, sobretudo direccionados para estudantes de música ou para jovens que integram bandas de música.
E é com este espírito que surgiu o projecto Jazz AlémTejo – Encontro internacional de Jazz do Litoral Alentejano

Programa


Bar Clube de Ténis (Santo André)
30 de Outubro
22.00h - Noite de Blues – Maria Viana Trio

31 de Outubro
22.00h - Marilena Paradisi (Itália)
23.00h - Quinteto Sara Valente

1 de Novembro
22.00h – Vânia Fernandes Quarteto, com Júlio Resende

Jazz After Hours
Bar Fragateira (Lagoa de Santo André)

31 e Outubro e 1 de Novembro
23.00 – Quinteto Jazz nos Dedos

Agenda Jazz, 27 de Outubro a 2 de Novembro


2ª feira, 27 de Outubro
21.30h – Cine Teatro Torres Vedras – Daniel Mille
23.30h – Catacumbas (Lisboa) - Quarteto de Paulo Grilo

3ª feira, 28 de Outubro
23.00h – Cine Teatro de Estarreja - Moondogs Blues Party
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – Daniel Mille
23.30h – Catacumbas (Lisboa) - Catman & Friends Play The Blues

4ª feira, 29 de Outubro
17.30h – Estação de Metro Cais do Sodré (Lisboa) – Quarteto de Jazz
21.30h – Fórum Cultural do Seixal – Dave Holland Quintet
22.00h – Campo Pequeno (Lisboa) – Count Basie Orchestra com Carlos do Carmo, Maria João, Manuela Azevedo, Camané e Lula Pena
22.00h – Hotfive (Porto) - Jam Session Porto AllStars
22.30h – Ondajazz (Lisboa) – Triângulo
23.00h – Seixal Jazz Clube – The Electrics
23.30h – Catacumbas (Lisboa) - Cícero Lee Trio

5ª feira, 30 de Outubro
21.30h – Fórum Cultural Seixal – Cindy Blackman Quartet
22.00h – Casa da Música (Porto) – Maria João e Mário Laginha
22.00h – Centro Cultural Olga Cadaval (Sintra) – Vinicius Cantuária e Couple Coffee
22.00h - Auditório da Escola Secundária P. António Macedo (Santo André) – Maria Viana Trio
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Paula Oliveira & João Paulo
23.00h – Lounge (Lisboa) - Jooklo Fire Quartet
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – Vânia Fernandes & Júlio Resende
23.00h – Seixal Jazz Clube – BRP
23.30h – Catacumbas (Lisboa) - Carlos Sério Trio

6ª feira, 31 de Outubro
21.30h – Teatro das Figuras (Faro) – Vinicius Cantuária e Couple Coffee
21.30h – Culturgest (Lisboa) - Ernesto Rodrigues & Christine Sehnaoui & Axel Dörner
21.30h – Centro Cultural do Seixal - The Leaders
22.00h – Hotfive (Porto) - Johnny Blues Band
22.00h - Auditório da Escola Secundária P. António Macedo (Santo André) - Marilena Paradisi & Giacomo Aula
22.00h – Teatro São Luiz (Lisboa) – Bernardo Sassetti solo
22.30h – Casa da Eira (Paços de Ferreira) - Bukowski Blues Trio
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Paula Oliveira & João Paulo
23.00h – Seixal Jazz Clube - The Fringe
23.30h – Centro Cultural Vila Flor (Guimarães) – Groove 4tet
23.30h - Auditório da Escola Secundária P. António Macedo (Santo André) - Quinteto de Sara Valente

Sábado, 1 de Novembro
21.30h – Centro Cultural do Seixal – Guy Barker Jazz Orchestra
21.30h – Museu do Oriente (Lisboa) - Kimmo Pohjonen Kluster
22.00h – Centro Cultural Vila Flor (Guimarães) – Vinicius Cantuária e Couple Coffee
22.00h – Teatro São Luiz (Lisboa) – Bernardo Sassetti solo
22.00h - Auditório da Escola Secundária P. António Macedo (Santo André) – Vânia Fernandes & Júlio Resende
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Paula Oliveira e João Paulo
23.00h – Seixal Jazz Clube – The Fringe
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – Patrícia S.A. & The Shortcuts
00.00h – ACERT (Tondela) - Bukowski Blues Trio

Domingo, 2 de Novembro
21.00h – CCB (Lisboa) – Bill Frisell

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Melos



Melos
Vassilis Tsabropoulos, Anja Lechner & U.T.Gandhi
ECM, 2008

Há cerca de 4 anos atrás o pianista grego Vassilis Tsabropoulos juntou-se à violoncelista alemã Anja Lechner e elaboraram juntos uma feliz incursão pelo místico universo musical do compositor e filósofo arménio Georges Ivanovitch Gurdjieff, no disco Chants, Hymns And Dances (ECM, 2004).
Tsabropoulos é um pianista formado pelo Conservatório de Atenas e com passagens como bolsista pelos Conservatório de Paris, Academia de Salzburgo e Julliard School, portanto com uma reputada formação clássica. Teve contudo duas frutuosas experiências no campo do jazz, ambas na companhia do contrabaixista norueguês Arild Andersen e do baterista inglês John Marshall (os discos Achirana e The Triangle, ambos editados pela ECM respectivamente em 2000 e 2004).
A alemã Anja Lechner é co-fundadora do Rasamunde Quartet e também ela já assinou trabalhos fora do ambiente estritamente clássico, como Kultrum, uma homenagem ao Tango Nuevo, elaborada a meias entre o Rosamunde Quartet e o bandaneonista argentino Dino Saluzzi, e colaborações em trio, com o pianista russo Misha Alperin ou com o trio Abaton, composto pela pianista suíça Sylvie Courvoisier e o violinista norte-americano Mark Feldman.
O disco pautou-se por um rotundo e surpreendente sucesso, alcançando destaque nas tabelas de vendas de música clássica, um pouco por todo o mundo.
Já vários músicos tinham abordado o exótico universo musical de Gurdjieff e Thomas de Hartmann (o ucraniano colaborador e pupilo do compositor arménio, responsável pela transposição para piano da maioria das suas obras, muitas compostas em colaboração entre os dois músicos). Estou-me a lembrar por exemplo de um álbum de Keith Jarrett lançado no já longínquo ano de 1980, entre muitos outros. No entanto a abordagem protagonizada pelo duo Tsabropoulos/Lechner mostrou-se original e particularmente apelativa, aí residindo porventura a principal razão para o seu sucesso. Na verdade a originalidade começa logo no arranjo para piano e violoncelo de obras até então só ouvidas em piano. Mas Tsabropoulos e Lechner não se limitaram a arranjar as obras de Gurdjieff. Fruto talvez das suas experiências jazzísticas construíram um álbum em que os temas do místico arménio foram livremente desenvolvidos pelos músicos, juntando-lhe originais do pianista grego inspirados na tradição musical bizantina, designadamente nos hinos religiosos da Igreja Oriental, também eles fortemente inspiradores do universo musical de Gurdjieff.
O resultado foi um fascinante cruzamento de culturas musicais. Um disco onde Bizâncio aparece musicalmente como o centro confluente das produções musicais ocidental, russa e oriental. Melódico, inspirador, superiormente arranjado e interpretado, Chants, Hymns & Dances foi um marco na carreira musical dos dois músicos envolvidos e da própria ECM, apesar de habituada a estes surpreendentes sucessos.
Impunha-se pois dar seguimento a este fascinante projecto.
Gravado em 2007 em Lugano, no Auditório da Rádio Svizzera Italiana, Melos é a esperada continuação do projecto Chants, Hymns & Dances. O princípio é o mesmo: pegar no repertório de Gurdjieff e desenvolvê-lo criativamente. Mas desta feita foi levado mais longe. Dos 15 temas do disco apenas três são da dupla Gurdjieff-de Hartmann, os restantes doze são originais de Vassilis Tsabropoulos (ainda que porventura inspirados no cancioneiro bizantino e nas obras místicas de Gurdjieff). O alargamento do conceito abrange igualmente o recurso mais frequente à improvisação modal, quer do piano quer do violoncelo, a que se junta agora a percussão do italiano U.T. Gandhi (nascido Umberto Trombetta), ex-colaborador de Dino Saluzzi (“Juan Condori”, 2005) de Enrico Rava, Gianluigi Trovesi, Lee Konitz e Miroslav Vitous e aluno de Jimmy Cobb e Peter Erskine, adicionando ao duo interessantes texturas e pulsações que aumentam o dramatismo e expressividade da sua música.
Temos pois um disco que se aproxima um pouco mais do universo jazz do que Chants, Hymns & Dances, embora chamar-lhe um disco de jazz resulte num manifesto exagero! É acima de tudo uma obra de fusão onde os rigores do universo musical erudito se cruzam com as liberdades criativas do jazz e onde o molde tonal ocidental é posto à prova pela submissão dos músicos a uma exótica linguagem modal que nos permite respirar, com prazer, os odores musicais do oriente, russos, bizantinos ou até tibetanos!
Finalizo como habitualmente com um vídeo, Tibetan Dance, um dos três originais de Georges Ivanovitch Gurdjieff incluídos no disco. Esta é uma dança triste, inspirada pelo folclore do tecto do mundo. Tristeza de um povo invadido em 1950 e cuja revolta foi esmagada sem piedade em 1959 pelo exército chinês, brilhantemente captada pela lente do fotógrafo dinamarquês Henrik Wilche (podem admirar as suas fotos em http://www.pbase.com/wilche/tibet).

Vassilis Tsabropoulos, Anja Lechner & U. T. Gandhi
Tibetan Dance

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Nils Petter Molvaer & Terje Rypdal na Casa da Música


Domingo, 26 de Outubro
22.00h – Casa da Música (Porto) - Nils Petter Molvaer & Terje Rypdal

Nils Petter Molvaer nasceu em 18 de Setembro de 1960 e é um trompetista, compositor e produtor norueguês, um dos pioneiros no movimento Nu Jazz e da fusão do jazz com a música electrónica. Vai apresentar-se neste concerto no Porto ao lado de outro norueguês, o guitarrista, compositor e colega da ECM, Terje Rypdal. Veterano destas andanças Rypdal aparece ligado ao jazz desde 1968, altura em que integrou a grupo de Jan Garbarek e mais tarde o sexteto e orquestra de George Russell. Em 1969 participou no festival de free jazz de Baden Baden, na Alemanha, ao lado de Lester Bowie. Com uma carreira abrangendo o jazz e a música clássica, sempre ligado à ECM, registou ainda colaborações com o seu compatriota Ketil Bjornstad e com o norte-americano David Darling.
Duas das mais respeitadas e arrojadas figuras do jazz norueguês, para ouvir ao vivo na Casa da Música da cidade do Porto.


Nils Petter Molvaer - Song of Sand


Trio Rypdal Vitous Gurtu - The Return of Per Ulv

Joachim Kuhn em Ponta Delgada



Domingo, 26 de Outubro
21.30h – Teatro Micaelense (Ponta Delgada) - Joachim Kuhn Piano Solo

Este pianista prodigioso, nascido na RDA em 15 de Março de 1944, tornou-se músico profissional em 1961, sendo responsável (através do seu trio, fundado em 1964) pela primeira apresentação de jazz na República Democrática Alemã. Saiu da RDA em 1966 e estabeleceu-se primeiro em Hamburgo. Juntamente com o irmão, o clarinetista Rolf Kühn, apresentou-se no Newport Jazz Festival e gravou com Jimmy Garrison para a Impulse! Records. Em 1968 estabeleceu-se em Paris, período em que trabalhou com Don Cherry, Karl Berger, Slide Hampton, Phil Woods, Michel Portal, Barre Phillips, Eje Thelin e Jean-Luc Ponty. Fez parte da Association P.C. de Pierre Courbouis, período em que se dedicou aos sintetizadores. Já durante a segunda metade dos anos 70 mudou-se para a Califórnia e juntou-se ao movimento de fusão da Costa Oeste, gravando com Alphonse Mouzon, Billy Cobham, Michael Brecker, e Eddie Gomez.
De regresso a Paris nos anos 80 formou um trio acústico com Jean-François Jenny Clark e Daniel Humair, e nos anos 90 colaborou com Ornette Coleman. A sua parceria mais recente, já apresentada entre nós no Grande Auditório da Culturgest, é com o libanês Rabih Abou-Khalil e com o percussionista norte-americano Jarred Cagwin.
Um pianista fabuloso para ouvir a solo no Festival de Jazz de Ponta Delgada.

Com Jarrod Cagwin e Rabih Abou-Khalil (Sines, 2006)


Com Niels Henning Pedersen e Al Foster

Joel Xavier no Teatro da Trindade



6ª feira, 24 de Outubro de 2008
21.30h – Teatro da Trindade (Lisboa) – Joel Xavier

Joel Xavier apareceu nos anos 80 como miúdo prodígio da guitarra. Ligado inicialmente ao rock, aparece mais recentemente associado ao jazz, após colaborações com músicos como Larry Coryell, Bireli Lagrene ou Tomatito (Palabra de Guitarra Latina, 1997), Arturo Sandoval, Paquito D`Rivera, Michel Camilo e Larry Coryell (Latin Groove, 1999), Richard Galliano e Yuri Daniel (Lusitano, 2001), Toots Thielemans, Carlos do Carmo, Marino Freitas, Ricardo Dias e André Sousa Machado (Lisboa, 2003) e Ron Carter (Joel Xavier & Ron Carter In New York, 2004).
No seu mais recente trabalho, Saravá, gravado ao vivo em 2007 no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz em Lisboa, Joel Xavier regressa ao ambiente latino na companhia dos brasileiros Milton Batera, na bateria e Gustavo Roriz no baixo.
Um dos mais virtuosos guitarristas nacionais ao vivo no Teatro da Trindade na próxima sexta feira.

Saravá


Mach The Knife (com Ron Carter)

Mário Laginha a solo no São Luiz



5ª feira, 23 de Outubro e
6ª feira, 24 de Outubro
22.00h – Teatro São Luiz (Lisboa) – Mário Laginha Solo

Nascido em Lisboa, a 25 de Abril de 1960, Mário Laginha é hoje reconhecidamente um dos maiores talentos do piano e do jazz português. A sua ligação ao jazz nasce no início dos anos 80 ao integrar-se no quinteto da cantora Maria João, inicialmente chamado Maria João & Friends. Com esta formação gravou dois discos em 1983 e 1985. Paralelamente fundou o Sexteto de Jazz de Lisboa, com Carlos Martins, Tomás Pimentel, Edgar Caramelo e os irmãos Pedro e Mário Barreiros, com quem grava o disco “Ao Encontro” em 1988. Em 1987 estreou no Festival de Jazz em Agosto, da Gulbenkian, o decateto de Mário Laginha, para quem assinou todas as composições a arranjos. Nos anos 90 começou a colaboração a dois pianos com Pedro Burmester, que se mantém até hoje, com vários discos e DVD gravados. Datam também do início dos anos 90 os projectos “Cal Viva” (com Carlos Bica, José Peixoto, José Salgueiro e Maria João), “Almas & Danças”, com João Paulo Esteves da Silva, e os Quarteto e Quinteto de Mário Laginha, com músicos como Julian Arguelles, Bernardo Moreira, Alexandre Frazão e Sérgio Pelágio.
Em 1994 inicia aquela que seria a mais frutuosa e bem sucedida colaboração da sua carreira: o duo com Maria João que se mantém até hoje (no próximo mês sairá mais um disco do duo, denominado Chocolate e com concertos de apresentação marcados para a Casa da Música, no Porto, a 30 de Outubro, para o Teatro Académico Gil Vicente em Coimbra, a 25 de Novembro e para o CCB, em Lisboa, para 5 de Dezembro).
Os seus mais recentes projectos incluem o seu Trio, com Bernardo Moreira e Alexandre Frazão e o Duo a dois pianos com Bernardo Sassetti, tal como um projecto a solo, Canções e Fugas, de 2005.
Seguramente um dos melhores músicos e compositores nacionais, para ouvir nos dias 23 e 24 de Outubro no Teatro São Luiz em Lisboa

Fado


Mário Laginha Trio - Tanto Espaço

Lee Konitz em Ponta Delgada



5ª feira 23 de Outubro
21.30h – Teatro Micaelense (Ponta Delgada) – Lee Konitz

Nascido em Chicago em 13 de Outubro de 1927, Lee Konitz é um dos mais influentes saxofonistas do jazz norte-americano da segunda metade do século XX. Iniciou a carreira ainda nos anos 40, na banda de Teddy Powell. É apontado como uma das forças por detrás do movimento cool, influenciando fortemente músicos tão importantes quanto Paul Desmond (o saxofonista de Dave Brubeck) ou Art Pepper. Colaborou com Miles Davis em Birth of the Cool, em 1950, e com Lennie Tristano, ainda em 1946. A lista de colaborações de Konitz é infindável e abrange muitos dos maiores músicos da história do jazz, tais como Gil Evans, Gerry Mulligan, Benny Goodman, Stan Kenton, Louis Armstrong, Jim Hall, Dave Brubeck, Ornette Coleman, Charlie Mingus ou Elvin Jones, entre muitos outros.
Gravou recentemente em Portugal “Portology” com a Ohad Talmor Big Band e a Orquestra de Jazz de Matosinhos.
Uma lenda viva do jazz para abrir a X edição do Festival de Jazz de Ponta Delgada.


Lee Konitz & the WDR big band - Lover Man


Lee Konitz & the WDR big band - Lazy Afternoon

X Festival de Jazz de Ponta Delgada



Um programa ecléctico e audacioso na comemoração da décima edição do Festival de Jazz de Ponta Delgada, onde se destacam a realização de uma conferência/concerto, 4 concertos, uma exposição de fotografia e, como vem sendo habitual, uma feira de discos com novidades e alguns clássicos.

Programa

22 Out 21h30
Conferência “Uma História do Jazz”
Concerto Septeto do Hot Clube de Portugal João Moreira (trompete), Pedro Moreira (saxofone), Claus Nymark (trombone), Rodrigo Gonçalves (piano), Bruno Santos (guitarra), Bernardo Moreira (contrabaixo), André Sousa Machado (bateria) e Paula Oliveira (voz) , comentado pelo Eng. Bernardo Moreira Inauguração da Exposição de fotografia "Prelúdio para um Museu - 60 anos do Hot Clube Portugal" www.hcp.pt

23 Out 21h30
Lee Konitz

24 Out 21h30
Demian Richardson, John Blum, Federico Ughi, Daniel Carter

25 Out 21h30
The Marty Ehrlich Rites Quartet

26 Out 21h30
Joachim Kühn Piano Solo (Ciclo Piano Jazz)


22 a 26 Out (todos os dias do festival no foyer do Teatro Micaelense a partir das 21h00)
Feira de Discos com a Trem Azul - Jazz Store

A Trem Azul é uma empresa, com sede em Lisboa, na Rua do Alecrim, 21-A em Lisboa, que tem quatro actividades principais (Distribuição, Lojas, Edição e Organização de concertos), todas elas dedicadas ao Jazz e á Música Improvisada. www.tremazul.com

Bilheteira € 12.50 1 Dia € 50 5 Dias (oferta de 1 dia)
Entrada gratuita Portadores cartão Interjovem (mediante a apresentação do mesmo)

Co-Produção Jazzacores/Teatro Micaelense

Agenda 20 a 26 de Outubro


2ª feira, 20 de Outubro

18.30h – Fnac Chiado (Lisboa) – DEUS
23.30h – Catacumbas (Lisboa) – Quarteto Paulo Lopes

3ª feira, 21 de Outubro

21.00h – Teatro Sá da Bandeira (Porto) - dEUS
22.00h – Coliseu (Lisboa) – Ney Matogrosso
22.00h – Casa da Música (Porto) – Omara Portuondo
22.30h – Ondajazz (Lisboa) – Big Band Reunion
23.30h – Catacumbas (Lisboa) – Heritage Blues Band

4ª feira, 22 de Outubro

21.30h – Aula Magna (Lisboa) – Omara Portuondo
21.30h – Teatro Micaelense (Ponta Delgada) – A História do Jazz
22.00h – Coliseu (Lisboa) – Ney Matogrosso
22.00h – Hotfive (Porto) - Jam Session Porto AllStars
22.00h - Braço de Prata (Lisboa) - Trio Guanabara
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Alípio C. Neto Trio
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – Triângulo
23.30h – Catacumbas (Lisboa) – Carl Nevitt Trio

5ª feira, 23 de Outubro

19.00h – Espaço APAV e Cultura (Lisboa) - Woods
21.30h – Centro Cultural de Chaves - Quarteto Sofia Ribeiro & Gui Duvignau
21.30h – Teatro Micaelense (Ponta Delgada) – Lee Konitz
22.00h – Teatro São Luiz (Lisboa) – Mário Laginha Solo
23.00h – Seixal Jazz Clube - Escola Moderna de Jazz do Seixal
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Laurent Filipe “The Song Band”
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – El Fad

6ª feira, 24 de Outubro

19.00h – Casa da América Latina (Lisboa) - Patricio Sanhueza Barria
21.30h – Convento Capuchos (Almada) - Vienna Glass Armonica Duo
21.30h – Teatro da Figuras (Faro) – Ney Matogrosso
21.30h – Teatro da Trindade (Lisboa) – Joel Xavier
21.30h – Teatro Micaelense (Ponta Delgada) - Demian Richardson/ John Blum/ Federico Ughi/ Daniel Carter
22.00h – HotFive (Porto) – JB Ensemble
22.00h – Teatro São Luiz (Lisboa) – Mário Laginha Solo
23.00h – Seixal Jazz Clube - RIDD Quartet
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Laurent Filipe “The Song Band”
23.30h – Centro Cultural Vila Flor (Guimarães) - Kobanga-te Trio
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – Sofia Ribeiro

Sábado, 25 de Outubro

21.30h – Aula Magna (Lisboa) - Quarteto ARTEMSAX (Entre Paredes - tributo Carlos Paredes)
21.30h – Casa do Povo de Santo Estêvão (Tavira) - Quarteto Sofia Ribeiro & Gui Duvignau
21.30h – Teatro Micaelense (Ponta Delgada) - The Marty Ehrlich Rites Quartet
22.00h – Hotfive (Porto) – JB Ensemble
23.00h – Casa das Artes (Famalicão) - Lilian Raquel Quarteto
23.00h – Centro São Mamede (Guimarães) - Jazzanova & Clara Hill
23.00h – Seixal Jazz Clube – RIDD Quartet
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Laurent Filipe “The Song Band”
23.00h – BeJazz café (Barreiro) - The Tree At The Top Of The Hill
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – Quarteto Jorge Moniz

Domingo, 26 de Outubro

21.30h – Centro de Artes e Espectáculos (Figueira da Foz) – Ney Matogrosso
21.30h – Teatro Micaelense (Ponta Delgada) - Joachim Kuhn Piano Solo
22.00h – Casa da Música (Porto) - Nils Petter Molvaer & Terje Rypdal

sábado, 18 de outubro de 2008

River Woman



Marta Hugon Quarteto
17 de Outubro de 2008, 23.00h
Seixal Jazz Clube
****

Coube a Marta Hugon e ao seu quarteto, formado por Filipe Melo no piano e na maioria dos arranjos, por Bernardo Moreira no contrabaixo e André Sousa Machado na bateria, a honra de abrir a edição 2008 do Seixal Jazz, festival que desde 1996 pôs a simpática vila da margem sul do Tejo na rota internacional do jazz.
No Seixal Jazz Clube, espaço atraente e acolhedor instalado nos antigos refeitórios da Mundet, na bonita avenida marginal da vila, lado a lado com exposições de arte dedicadas ao jazz (como a de Vítor Ribeiro que já dei conta nestas páginas), Marta Hugon e os seus pares apresentaram o disco Storyteller, lançado em Abril deste ano (ver crítica) no seguimento do primeiro trabalho do quarteto, Tender Trap, editado em 2006, e do qual pudemos também ouvir dois temas, além de um novo arranjo, ainda não lançado em disco, de uma composição de Tom Jobim (depois de Suburbano Coração de Chico Buarque, numa bela versão incluída em Storyteller, mas inexplicavelmente esquecida nesta apresentação, Marta Hugon parece estar a desenvolver uma especial atenção aos compositores brasileiros).
Apesar de anunciado no programa, André Fernandes não esteve presente (nem João Moreira, que igualmente participa num dos temas do disco Storyteller, The Trouble With Me Is You). Até aqui nada de especial…
O curioso foi que a Câmara Municipal do Seixal, através do site do Festival, lançou durante os dois dias anteriores um concurso no qual oferecia um CD single do tema Crash Into Me, original de Dave Matthews incluído no disco Storyteller de Marta Hugon, a quem adivinhasse o nome do convidado especial do quarteto, para esta apresentação… André Fernandes não apareceu, mas ao que parece ganhou um disco da Marta Hugon, por ter adivinhado que era o convidado especial do concerto! E eu ganhei outro…
Episódios burlescos à parte, devo reconhecer que o quarteto mostrou excelente forma, mesmo sem o convidado especial.
Filipe Melo e Bernardo Moreira estão num momento excepcional, com o pianista a desenvolver a sua paixão pelo blues de uma forma cada vez mais exímia e o contrabaixista mais solto que nunca, a rubricar solos de enorme valia e a imprimir o seu cunho pessoal em tudo o que toca, de um modo só acessível aos mais dotados. Mas também André Machado esteve como gosta, exuberante e tecnicamente irrepreensível, também ele uma enorme mais valia neste quarteto.
Falta apenas falar de Marta Hugon. Esta jovem cantora tem uma voz afinadíssima, uma criteriosa gestão dos tempos e uma rara capacidade para swingar, quando tal vem a propósito. O que não a impede de imprimir o necessário dramatismo em temas como Crash Into Me, River Man de Nick Drake ou Still Crazy After All These Years de Paul Simon, mais ou menos estranhos ao cancioneiro do jazz, mas brilhantemente adaptados por Filipe Melo e cantados com uma superior propriedade por Marta Hugon. Além disso esta jovem directora do Hot Club e professora na escola de jazz Luís Villas-Boas é lindíssima e de uma simpatia inexcedível.
Estão pois todos de parabéns por esta abertura, com chave de ouro, do Seixal Jazz 2008.
Relembro que esta noite há novo concerto do quarteto de Marta Hugon no Seixal Jazz Clube e que, quem não puder ir ao Seixal, pode sempre deslocar-se ao Hot Club nos próximos dias 11, 12 e 13 de Dezembro onde, aí sim, é provável que André Fernandes se junte ao grupo, com o merecido single de Marta Hugon, gentilmente oferecido pela Câmara Municipal do Seixal, no bolso!
Enquanto não surge o novo video de Marta Hugon deixo-vos com a minha interpretação do tema River Man de Nick Drake, incluído no disco Story Teller de Marta Hugon, com belas fotos da canadiana Christine P. Newman. Podem ver os seus trabalhos em http://www.pbase.com/christinepnewman.

Marta Hugon - River Man

Sons e Tons do Jazz



O Jazz, por Vitor Ribeiro
17 de Outubro a 1 de Novembro, Refeitórios da Mundet, Seixal

Victor A. Ribeiro nasceu em Lisboa em 1938. Formado pela Escola de Artes Decorativas António Arroio colaborou com vários mestres, como Manuel Lima, Lino António, Mário Costa e Fausto Rocha, antes de iniciar actividade como ilustrador nos jornais Diário Popular, Diário Ilustrado e Diário de Lisboa. Como ilustrador colaborou ainda com editoras como as Publicações Europa-América e a Ulisseia. Mas desde há 40 anos que se dedica sobretudo à publicidade e design gráfico. Foi também o autor de várias colecções de selos para os CTT. Expõe regularmente desde 1990.
Nesta mostra, patente de 17 de Outubro a 1 de Novembro nos refeitórios da Mundet, no Seixal, integrada no programa do Seixal Jazz 2008, Vítor Ribeiro procurou captar (e posso acrescentar que o fez com sucesso) o colorido do ritmo, a paleta harmónica, a expressão e a liberdade dos gestos e sons do jazz, que são comuns à pintura.
Um namoro entre as duas formas de arte, pautado pelo improviso espontâneo, pela liberdade de interpretação dos sons e dos tons do jazz.
Uma exposição a não perder, de preferência acompanhada por um dos muitos e excelentes concertos gratuitos que a Câmara Municipal do Seixal proporciona no mesmo espaço, durante a edição de 2008 do Seixal Jazz.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Free Chamber Music



Bobo Stenson Trio
Cantando
ECM 2008

Bo Gustav Stenson, conhecido pelo nome artístico de Bobo Stenson, é um pianista sueco nascido em 1944. Apareceu na cena jazzística de Estocolmo no início dos anos 60, frequentemente acompanhando músicos norte-americanos como Sonny Rollins, Stan Getz ou Gary Burton. Trabalhou ainda com Don Cherry quando este foi residir na Escandinávia. No início dos anos 70 assinou pela recém formada ECM com a qual gravou trabalhos com a banda Rena Rama (com Palle Daniellsson) e com o trio formado por ele próprio no piano, Arild Andersen no contrabaixo e Jon Christensen na bateria. Colaborou ainda com o saxofonista norueguês Jan Garbarek. Além dos seus próprios projectos fez parte do quarteto de Charles Lloyd nos anos 80 e do sexteto e septeto do trompetista polaco Tomasz Stanko durante os anos 90, sempre sob a chancela da editora alemã ECM.
Este disco apresenta uma nova formação do trio de Bobo Stenson, em que o seu piano aparece acompanhado pelo contrabaixo de Anders Jormin (cuja colaboração remonta aos anos 80) e pela bateria do jovem Jon Faelt (nascido em 1979 e que faz aqui a sua estreia pela ECM, sucedendo aos veteranos Paul Motian e Jon Christensen, utilizados em gravações anteriores do trio). Foi gravado em Dezembro de 2007 no Auditorium Radio Svizzera Italiana, em Lugano, local onde a ECM tem intensificado o seu trabalho, depois de também aí gravar “The Third Man” de Enrico Rava e Stefano Bollani, “Le Voyage de Sahar” de Anouar Brahem, “Vignettes” da pianista Marilyn Crispell, e “Nostalghia” de François Couturier. O material gravado compõe-se de originais do pianista e do contrabaixista (alguns improvisados durante a gravação como o tema Pages) mas também versões de compositores tão diversos quanto o checo Petr Eben (“Song of Ruth”), o austríaco Alban Berg (“Liebesode”, composto em 1907), os norte-americanos Ornette Coleman (“A Fixed Goal” tema resultante da colaboração deste com o alemão Joachim Kuhn) e Don Cherry, o argentino Astor Piazzolla (“Chiqulin de Bachin”) ou o cubano Silvio Rodriguez (“Olivia”).
Numa linha muito querida à editora, “Cantando” insere-se numa tradição de fusão do jazz contemporâneo marcadamente europeu com elementos dispersos oriundos da música clássica e da world music, tentando dessa forma criar uma nova linguagem musical, tão inovadora quanto devedora da tradição europeia. Manfred Eicher chama-lhe música de câmara livre (free chamber music).
O interesse de Bobo Stenson pela música clássica e popular não é aliás novo, várias peças clássicas foram já objecto de adaptação ao universo jazz em trabalhos anteriores (no disco “Serenity” de 1999 incluíu temas de Alban Berg, Charles Ives e Hanns Eisler e em Goodbye de 2004 de Henry Purcell) o mesmo sucedendo a temas populares latino americanos (de Silvio Rodriguez ou Ariel Ramírez), suecos (de Lorens Brolin) ou russos (de Vladimir Vyotsky).
Mas as influências da música popular não se limitam ao nuevo tango ou à música de intervenção cubana, também há ecos da África subsaariana em “Don’s Kora Song”, música da autoria de Stenson influenciada pelo folclore do Mali e que fez parte do repertório apresentado pelo pianista juntamente com o trompetista Don Cherry, com quem igualmente explorou o universo musical vanguardista de Ornette Coleman.
Este novo jazz de fusão de Stenson tem-lhe garantido a aclamação da crítica, que o elegeu Músico de Jazz do ano 2006 (European Jazz Prize as Musician of the Year). A apresentação púbica do disco aconteceu em Setembro passado no Barcelona Auditorium, juntamente com o trio de Norma Winstone, e vai continuar com uma tournée europeia que incluiu recentemente uma passagem pelo Angra Jazz, nos Açores.
Um jazz assumidamente delicado que usa o contrabaixo e a bateria mais para o contraponto melódico do que para marcar o ritmo, enquanto o piano garante uma acentuada dose de lirismo, ainda que por vezes de uma forma negra, tão tipicamente escandinava.

A ilustrar este novo disco de Bobo Stenson aqui fica um vídeo do tema Don's Kora Song, com magníficas fotos de Manuel Libres Librodo Jr e do seu trabalho triBaLISm.

Don's Kora Song

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Tom Waits



Tom Alan Waits é o nome de um dos mais originais músicos e compositores norte-americanos desde que, em 1973, se apresentou ao público com o álbum “Closing Time”, editado pela Asylum. Nascido a 7 de Dezembro de 1949, em Pomona, na Califórnia, filho de dois professores, Jesse Frank Waits, descendente de escoceses e irlandeses, e Alma Johnson McMurray, de origem norueguesa.
Músico auto didacta (Tom Waits afirma que aprendeu música no piano de um vizinho, enquanto ouvia rancheras mexicanas na rádio) é possuidor de uma voz única, definida pelo crítico Daniel Durchholz como se tivesse sido ensopada em whisky, pendurada no fumeiro durante alguns meses e finalmente levada para a rua a atropelada por um carro.
Mas é sobretudo como compositor que Tom Waits imprimiu já uma marca profunda na música norte-americana (como o demonstram os 19 álbuns de tributo que já consegui contabilizar, oriundos da Suécia, da Alemanha, do Canadá, da Eslovénia, da Holanda, da Itália, da Polónia e claro está, dos Estados Unidos). A sua música incorpora elementos oriundos dos mais variados géneros, antigos como o blues, o jazz ou o vaudeville, ou modernos e experimentais como o rock industrial. As suas canções falam de personagens bizarros, atmosferas opressivas e surrealistas.
Personagem única, que o cinema já aproveitou em filmes como Bram Stoker’s Dracula, The Fisher King ou Short Cuts, de realizadores tão importantes como Francis Ford Coppola (que trabalhou igualmente com Waits em One From the Heart, entre outros projectos), Terry Gilliam (dos Monty Python) e Robert Altman, a sua obra tem sido igualmente objecto de inúmeros covers, alguns deles alcançando um sucesso ainda maior do que o original, como sucedeu com a gravação de Jersey Girl por Bruce Springsteen ou de Ol’55 pelos Eagles.
Foi nomeado para o Óscar de melhor banda sonora pelo filme One From The Heart de 1982 e recebeu dois Grammys, em 1992 pelo álbum Bone Machine e em 1999 pelo álbum Mule Variations.
São também notáveis as suas colaborações com o realizador independente norte-americano Jim Jarmusch, designadamente nos filmes Night on Earth (1992) e Coffee & Cigarettes (2003).
Tom Waits é também famoso pela sua recusa em autorizar o uso da sua música em campanhas publicitárias. Várias empresas tentaram, de forma sub-reptícia, aproveitar a sua imagem para fazer publicidade, mas todas foram processadas por Waits, que já recebeu vários milhões de dólares de indemnizações da Frito Lay, Levi’s, Audi e Opel por uso indevido da sua obra em campanhas publicitárias. Alguns deles foram doados posteriormente por Waits a instituições de solidariedade.
Sou um admirador confesso de Tom Waits. Por isso não resisto a prestar-lhe aqui uma pequena homenagem, através de alguns vídeos das suas canções mais emblemáticas.
Espero que gostem.

God’s Away on Business


Hold On


Singapore


Ol’55 (1999)


Tom Traubert’s Blues (1977)

domingo, 12 de outubro de 2008

Samuel Quinto no Douro Jazz


Cine-Teatro São João da Pesqueira – 4ª feira, 15 – 21.30h
Teatro Ribeiro Conceição, Lamego – 6ª feira, 17 – 21.30h


Samuel Quinto nasceu no Brasil, em Belém do Pará, há 34 anos, mas está radicado em Portugal, mais concretamente na cidade do Porto, desde 2004. Auto-didacta, dedica-se de forma apaixonada ao jazz latino, onde as influências brasileiras e caribenhas se fundem, muitas vezes com uma ajuda vinda dos Estados Unidos. Na verdade fazem parte do repertório do músico vários temas da autoria de Chick Corea (Armando’s Rhumba, La Fiesta ou Spain) e de Duke Ellington (Caravan), já nascidos no universo musical latino-americano, mas constam igualmente outros que foram devidamente traduzidos por Samuel Quinto, como Night And Day de Cole Porter e Summertime ou Wandering on You de George Gershwin.
O seu único trabalho discográfico foi editado em 2007 pela Numérica e chama-se Latin Jazz Thrill, onde aparece acompanhado pelo contrabaixista Edamir Costa e pelo baterista Gil Batera, ambos seus compatriotas radicados em Portugal e com responsabilidades docentes nas Escolas de Jazz do norte do país. Dele dei já conta entusiasmada nas presentes páginas. Ver Nota.
Pianista brilhante, fortemente influenciado pelo génio dominicano Michel Camilo, compositor talentoso e exímio “tradutor” de vários géneros musicais para o seu jazz latino, Samuel Quinto é hoje um caso raro no que concerne à produção deste tipo específico de jazz de qualidade no nosso país.
Vai estar presente em dois concertos integrados no Douro Jazz, seguramente a não perder pelos muitos apreciadores do jazz imortalizado pelo lendário filme Calle 54, realizado por Fernando Trueba e que promoveu mundialmente nomes como Paquito d’Rivera, Michel Camilo, Eliane Elias, Bebo e Chucho Valdés ou Chano Dominguez.

To Peter (original de Samuel Quinto)


Armando’s Rhumba (de Chick Corea)

Marta Hugon na Abertura do Seixal Jazz


Seixal Jazz Club (Refeitórios da Mundet) – 6ª feira, 17 e Sábado, 18, 23.00h

Começa também esta semana o Seixal Jazz, com dois concertos do Quarteto de Marta Hugon (formado pela Marta Hugon na voz, Bernardo Moreira no contrabaixo, Filipe Melo no piano e André Sousa Machado na bateria) a que se junta como convidado o guitarrista André Fernandes.
Marta Hugon nasceu em Lisboa e começou por cantar repertório clássico na adolescência. Surgiu então a paixão pelo jazz que a levou inevitavelmente à escola de jazz do Hot Club de Portugal. Antes porém passou pelo Conservatório de Amesterdão e por aulas com a cantora britânica Norma Winstone.
O seu quarteto é integralmente formado por músicos, como ela, oriundos do Hot Club e com responsabilidades docentes na escola de jazz Luís Villas-Boas, e com ele Marta Hugon gravou já dois discos: Tender Trap em 2006 e Stoyteller em 2008.
Apesar do seu repertório assentar em standards, há uma notória preocupação de fuga ao óbvio e ao evidente e de enveredar por caminhos qualitativamente exigentes, para o que muito ajudam a magnífica voz de Marta Hugon, os superiores arranjos de Filipe Melo, com todo o swing que os caracteriza e que a cantora aproveita com mestria, e claro está a enorme experiência e capacidade técnica de Bernardo Moreira (o contrabaixista do trio de Mário Laginha e líder de diversos projectos) e também de André Sousa Machado, um baterista extremamente versátil e que se sente particularmente à-vontade nestes ambientes swingados.
Em suma, uma jovem mas grande voz, que já se afirmou entre as melhores do nosso jazz, acompanhada por alguns dos nossos melhores músicos. O resultado só pode ser a excelência!


Too Close For Confort

Vicente Amigo em Vila Real



Teatro de Vila Real - Sábado, 18 de Outubro, 22.00h

Vicente Amigo Girol (nascido em Guadalcanal, Sevilha em 1967) é um dos mais importantes guitarristas espanhóis de flamenco da actualidade, apontado por muitos como o herdeiro natural de Paco de Lucia. Cresceu em Córdoba onde teve as primeiras lições de guitarra, com mestres como El Tomate e Merengue de Córdoba. Mais tarde, trabalhou durante 10 anos com Manolo Sanlúcar. Começou a carreira acompanhando cantores como El Pele e Camarón de la Isla, assim como Vicente Soto e Luís de Córdoba. O seu primeiro disco como líder data de 1991, De Mi Corazón al Aire. Um admirador confesso de Paco de Lucia, teve oportunidade de tocar ao lado do seu ídolo de infância na Expo 92, em Sevilha, num concerto onde também actuaram Bob Dylan, Steve Vai, Joe Satriani, Nuno Bettencourt e Phil Manzanera, entre outros.
Ainda em 1992 compõe, juntamente com Leo Brouwer ”Concierto Para Un Marinero en Tierra”, em homenagem a Rafael Alberti, poeta da geração de 27, galardoado com o prémio Cervantes em 1983.
Em 1995 lança o disco Vivencias Imaginadas a que se seguiu Poeta (1997) onde a sua obra dedicada a Alberti é incluída. Editou apenas mais dois discos: Ciudad de las Ideas em 2000 (galardoado com um Grammy) e Un Momento en el Sonido (2005).
Vicente Amigo é um guitarrista aberto à experiência e à partilha do flamenco com músicos das mais variadas proveniências, como o provam as suas colaborações com o franco-argelino Khaled, com o britânico Sting ou o brasileiro Milton Nascimento. Na área do jazz tocou também com guitarristas como Al di Meola, Stanley Jordan ou John McLaughlin. Mas é no flamenco que Amigo melhor brilha, o que o levou a colaborações com os mais importantes músicos do género, como Cármen Linares, Manolo Sanlúcar, Paco de Lucia, Camaron de la Isla, Rosário, Nacho Cano, Alejandro Sanz, Vicente Soto ou Luís de Córdoba. Foi também produtor de discos de Remedios Amaya e José Mercé.
Um dos maiores guitarristas da actualidade para ver e ouvir em Vila Real, a fechar a edição de este ano do Douro Jazz. Eu fui vê-lo ao CCB, e como poderão constatar das notas do aludido concerto, recomendo vivamente.

Tio Arango (Soleá) - TVE


Callejon De La Luna (Taranta) - TVE


Tres Notas Para Decir Te Quiero (Ao vivo em Córdoba)

Agenda Jazz, 13 a 19 de Outubro


2ª feira, 13 de Outubro

23.00h – Café Concerto (Vila Real) - Joaquim Carvalho

3ª feira, 14 de Outubro

10.00h – Museu do Chiado (Lisboa) - The Blues Quartet
21.30h – Casa da Música (Porto) - Juliette Gréco
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – SCORE Some Cats of Reunion
23.00h – Café Concerto (Vila Real) - Sandro Norton

4ª feira, 15 de Outubro

21.30h – Cine Teatro S. João da Pesqueira - Quarteto de Samuel Quinto
22.00h – HotFive (Porto) - Jam Session Porto AllStars
22.30h – Braço de Prata (Lisboa) – Pocket Trio
23.00h – HotClub (Lisboa) - Dead Combo
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – Triângulo
23.00h – Café Concerto (Vila Real) - Duo Jazz

5ª feira, 16 de Outubro

10.00h – Museu do Chiado (Lisboa) - The Blues Quartet
21.00h – CCB (Lisboa) - Juliette Gréco
21.30h – Auditório do Centro Cultural de Chaves - Quarteto Saffron
22.30h – Braço de Prata (Lisboa) – Júlio Resende Trio
23.00h – Zé dos Bois (Lisboa) - Tora Tora Big Band
23.00h – HotClub (Lisboa) - Miguel Fernández Trio
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – Septeto do Hot Club de Portugal
23.00h – Café Concerto (Vila Real) - Alex Liberali e Budda

6ª feira, 17 de Outubro

10.00h – Museu do Chiado (Lisboa) - The Blues Quartet
21.30h – Teatro Lethes (Faro) - Miguel Martins “Kaleidoscópio”
21.30h – Teatro Municipal de Bragança - Fátima Serro/ Paulo Gomes Quarteto
21.30h – Teatro Ribeio Conceição (Lamego) - Quarteto de Samuel Quinto
22.00h – Crew Hassan (Lisboa) - Farra Fanfarra.
23.00h – Zé dos Bois (Lisboa) - Paul Metzger + Tiago Sousa & João Correia
23.00h – Refeitórios da Mundet (Seixal) - Marta Hugon Quarteto
23.00h – HotClub (Lisboa) - Miguel Fernández Trio
23.00h – Braço de Prata (Lisboa) – Marta Plantier & Luís Barrigas
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – Ficções
23.30h – Braço de Prata (Lisboa) – Tangos com Daniel Schvetz

Sábado, 18 de Outubro

10.00h – Museu do Chiado (Lisboa) - The Blues Quartet
11.00h – Centro Histórico de Vila Real - Douro Jazz Marching Band
12.00h – Casa da Música (Porto) - Nova Blue Duet
21.00h – Coliseu (Lisboa) – Aimée Mann
21.30h – Centro Cultural de Cascais - Big Band Jorge Costa Pinto + Rão Kyao
22.00h – HotFive (Porto) - Budda Power Blues
22.00h – Plano B (Porto) - Murdering Tripping Blues
22.00h – Teatro de Vila Real – Vicente Amigo
23.00h – Refeitórios da Mundet (Seixal) - Marta Hugon Quarteto
23.00h – HotClub (Lisboa) - Miguel Fernández Trio + André Fernandes
23.00h – Centro Cultural o Século (Lisboa) – Alípio C. Neto Trio
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – Gustavo Roriz
00.00h – Braço de Prata (Lisboa) – Paula Sousa & Sofia Vitória

Domingo, 19 de Outubro

18.00h – Centro Cultural de Cascais - Kirk Lightsey e Carlos Barretto + Maria Viana
21.00h – Coliseu (Porto) – Thievery Corporation
22.00h – Bacalhoeiro (Lisboa) - Alípio C. Neto Trio

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Sheila Jordan no Hot Club



Sheila Jordan
Hot Club de Portugal (Lisboa)
8 de Outubro de 2008 - 23.00h
*****

Ontem foi dia de festa no Hot. Não por se comemorar alguma efeméride especial (apesar das comemorações dos 60 anos do Clube se prolongarem até ao final do ano) mas simplesmente porque assim aconteceu. Espontaneamente.
A razão foi simples, dá pelo nome de Sheila Jordan e faz 80 anos de idade no mês que vem. A sua presença foi suficiente para fazer confluir à velha cave da Praça da Alegria, numa quarta-feira à noite, centenas de melómanos sedentos do seu ancorado saber, de rever amigos e passar uma noite inesquecível na companhia de uma grande senhora do jazz.
Uma concentração de músicos, de produtores, de críticos e de candidatos a tal pouco usual, mesmo para um espaço tão especial como o Hot Club de Portugal.
E que noite! Sheila Jordan brindou o público com uma exibição de mais de três horas de concerto (esta mulher tem uma resistência aos 80, capaz de empalidecer de vergonha o mais robusto dos quarentões), plena de presença, de sabedoria, de boa disposição, de capacidade de improviso e de comunicação e sobretudo carregada de swing.
Uma lenda viva que vive ainda e sempre para a música. Como ela própria afirma, é a música que a mantém viva, que lhe dá energia para cantar, para puxar pelos músicos como poucas (a naturalidade com que o swing brota daquela voz é verdadeiramente única e proporciona um amplo espaço de improviso aos afortunados músicos que a acompanham – a cantora, terror do músico inexperiente, sedento do brilho efémero do improviso, dá lugar à instrumentista da voz, que completa com o seu instrumento, sem nunca se sobrepor, o quarteto de jazz em palco).
Num ambiente típico de clube, que a cantora comparou por inúmeras ocasiões aos seus bem conhecidos clubes novaiorquinos, sobretudo ao Village Vanguard onde actuou anos a fio, assistimos a um desfilar apurado do repertório da cantora que acompanhou Charlie Parker nos anos 40 em ritmo de tal modo descontraído e bem humorado que dir-se-ia estarmos perante uma jam session de músicos que se conhecem há décadas. E no entanto Sheila Jordan chegou a Portugal há menos de uma semana!
Os felizes contemplados com o privilégio de acompanhar esta grande senhora do jazz foram os irmãos Bernardo e João Moreira, respectivamente no contrabaixo e no fliscórnio (num dos temas, o medley Song for Miles/It Never Entered My Mind, usou o trompete), o mais bluesy dos pianistas nacionais, Filipe Melo, e Bruno Pedroso na bateria.
E foram verdadeiramente felizes pela escolha, porquanto Sheila Jordan soube puxar por eles até aos limites e todos, sem excepção, rubricaram exibições de altíssimo gabarito. Bernardo Moreira esteve majestático, com uma técnica que roçou a perfeição, solos fenomenais no seu estilo perfeccionista e uma notável capacidade de liderança do quarteto que proporcionou a Sheila Jordan um acompanhamento verdadeiramente à altura dos seus pergaminhos. Muito bem esteve também João Moreira, uma presença surpresa (face ao constante do programa) e que se mostrou de enorme pertinência. Com o fliscórnio evocou os fantasmas de Clifford Brown e Louis Armstrong, quando os temas puxavam ao blues, e com o trompete o de Miles Davis, quando o cool invadiu a apresentação. E sobretudo cotou-se como uma enorme mais valia, complementando com a expressividade dos seus solos quer o intimismo quer a exuberância debitada pela voz experiente de Sheila Jordan. Filipe Melo no piano esteve como gosta de estar: liberto sempre que possível das pautas para se lançar desenfreado aos seus inconfundíveis riffs de blues. Possuidor de um admirável swing e uma personalidade exuberante, também ele soube evocar os mestres do blues-jazz e rubricar uma notável apresentação.
Falta falar de Bruno Pedroso que, conhecedor profundo dos músicos em palco e dos segredos dos ritmos do swing, fez com Bernardo Moreira uma dupla memorável na assunção das despesas rítmicas do concerto, sem perder várias oportunidades para se apresentar em solo, onde o seu estilo contido e perfeccionista lhe permitiu demonstrar com mestria porque é um dos mais reputados bateristas nacionais da actualidade.
E assim se fez jazz no Hot, demonstrando porque razão este club conquistou, desde há 60 anos, um lugar muito especial no coração dos músicos e melómanos deste país.

The Cole Porter Mix



A pianista e cantora norte-americana Patricia Barber tem um novo disco, dedicado à obra de Cole Porter, e vai deslocar-se uma vez mais a Portugal, para a sua apresentação ao público nacional. Com concerto marcado para o próximo dia 3 de Novembro, pelas 21.30h no Teatro Camões, em Lisboa, a compositora nascida em Chicago, em 1956, vai trazer-nos a sua visão, necessariamente cool, do repertório do genial compositor de Hollywood, ao qual juntará três originais seus, inspirados em Porter.
O disco, 11º registo como líder de Barber (a que acresce um DVD gravado ao vivo em França, em 2004), é editado pela Blue Note e conta com Patricia Barber no piano, voz e melódica, Chris Potter no sax tenor, Neal Alger nas guitarras, Michael Arnopol no baixo, enquanto a percussão é repartida entre Eric Montzka e Nate Smith.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Simmons, Few e Kamaguchi em Portugal



Sonny Simmons e Bobby Few juntam-se ao contrabaixista Masa Kamaguchi para duas apresentações únicas em Portugal. Sexta, 10 de Outubro pelas 22h00 no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra (primeira parte a cargo dos portugueses RED trio) e Sábado, 11 de Outubro pelas 23h00 na Zé dos Bois, em Lisboa. Uma oportunidade única para escutar duas figuras que fazem parte da história do jazz.

Sonny Simmons / Bobby Few / Masa Kamaguchi
Sonny Simmons - saxofone alto
Bobby Few - piano
Masa Kamaguchi - contrabaixo

Sonny Simmons liderou uma série de sessões marcantes na década de 60. Nascido em 1933, só em 1963 obteve a atenção merecida. A sua aparição ao lado de Sonny Rollins e de Eric Dolphy fizeram o resto para construir a sua reputação. Embora não se deva incluir nos vanguardistas irredutíveis, Simmons manteve uma perspectiva provocadora em relação à tradição, tendo marcado uma época. Com as dificuldades da "cena jazz" na Costa Oeste, no final da década 70, a sua carreira estagnou. Se o eclipse foi repentino, o regresso assumiu contornos espectaculares. Desde 1994 gravou dois discos pela Warner, outros dois pela CIMP, fundou os Cosmosamatics com Michael Marcus e tem mantido associações com Jeff Haydem e Bradon Evans, além de uma participação no sexteto de Anthony Braxton.

A trajectória de Bobby Few é indissociável da sua mudança para França, em 1969. Nascido em 1935, estudou música clássica no Cleveland Music Institute. Companheiro de infância de Albert Ayler, foi com este que rumou a Nova Iorque, no início da década de 60. Aí gravou com Booker Ervin. Com Ayler, participou nas gravações de Music is the Healing Force of the Universe. Já em Paris, encontrou o ambiente artístico propício para o desenvolvimento da sua arte. Logo após a sua chegada foi requisitado pelo resto do contingente americano, trabalhando com Archie Shepp, Frank Wrigth, Noah Howard, Alan Silva e Steve Lacy (com quem gravou dezenas de discos). Desde a década de 70 que Few desenvolve uma concepção única, bebendo de fontes como Errol Garner, Thelonius Monk, McCoy Tyner ou Cecil Taylor.

RED trio [1ª parte]
Rodrigo Pinheiro - piano
Hernâni Faustino - contrabaixo
Gabriel Ferrandini - bateria

"Para nós, jazz é sinónimo de improvisação e esta é a nossa forma de tocar, livre e que nada tem que ver com a tradição do trio de piano jazz, em que o piano tem sempre um papel preponderante, suportado por uma secção rítmica que raramente ganha o mesmo destaque. No nosso trio procuramos fazer uma improvisação simbiótica em que todos os elementos tenham uma participação forte, o que faz com que o nosso som se revele bastante equilibrado, sem haver a predominância de um instrumento sobre outro. [...] [A] nossa abordagem é muito depurada, com influências do jazz, sim, mas também da improvisação europeia e da música contemporânea."
Hernâni Faustino in jazz.pt #20 (Set/Out 2008)

Co-produção
Zé dos Bois
JACC - Jazz ao Centro Clube

Apoio
Teatro Académico de Gil Vicente
Rádio Universidade de Coimbra

Mais informação em www.jacc.pt (JACC - Jazz ao Centro Clube)

domingo, 5 de outubro de 2008

Jean-Jacques Milteau



Jean-Jacques Milteau
Fragile
Emarcy – Universal, 2006

Jean-Jacques Milteau nasceu em 1950, em Paris, e interessou-se pela harmónica nos anos 60, ao ouvir os grandes nomes de então do folk e do rock, como Bob Dylan ou os Rolling Stones. Acompanhou vários músicos franceses de diversos estilos, como Yves Montand, Eddy Mitchell, Jean-Jacques Goldman ou Charles Aznavour, mas o seu primeiro disco como líder surge apenas em 1989. Chamou-se Blues Harp e veio consagrar Milteau como músico de blues. Depois desse disco de estreia seguiram-se mais uma dúzia de álbuns, o mais recente dos quais editado em 2007 com o título Live, hot n'blues (Universal) com Demi Evans e Andrew Jones.
A sua paixão pela harmónica e pelo blues levaram-no em 2001 até Memphis, onde gravou o disco homónimo com Little Milton e Mighty Sam McClain. No seu trabalho seguinte, Blue 3rd, contou com Gil Scott-Heron, Terry Callier, N’Dambi e Howard Johnson e neste Fragile, editado em 2006, conta com as poderosas vozes de Michelle Shocked e Demi Evans.
Milteau é hoje um dos mais reputados músicos neste instrumento, com vasta obra técnica publicada sobre o mesmo.
Fragile é um hino ao blues acústico, com Milteau brilhante na harmónica e as vozes negras de Michelle Shocked e Demi Evans a ajudarem à festa. Nota muito positiva também para a guitarra de Manu Galvin e para o Hammond, que cria um belíssimo ambiente delta blues, por vezes com ecos de gospel, que serve perfeitamente os propósitos do disco.
O blues de Milteau ora soa nostálgico e solitário, como em Fragile, ora surge vivo e contagiante, como em Jack the Man, onde um solo fantástico de harmónica e a voz grave e visceral de Evans, nos põem facilmente a dançar. Mas também há espaços para surpresas, como em Obok, que evoca sons marcadamente caribenhos ou em L’Internationale que fecha o disco. Poucos se lembrariam de transformar o carismático hino da primeira internacional socialista num blues… e menos ainda o conseguiriam interpretar de forma tão conseguida. Uma delícia!
Um grande disco de blues a provar que, apesar de ter nascido negro e americano, o género também pode ser tocado, com enorme talento e propriedade, por um francês branco!
Deixo-vos com o teledisco oficial do tema Jack the Man e com um vídeo elaborado a partir da balada Fragile, com fotos da cidade polaca de Lodz, da autoria de Anna Kruszewska (afinal de contas se o blues pode ser francês, também pode ser polaco. E se há nação cuja história recente merece um blues, é seguramente a polaca!).

Jack the Man (com Demi Evans & Manu Galvin)


Fragile (fotos de Anna Kruszewska)

Noa em Portugal


A cantora israelita Noa vai iniciar esta semana uma digressão entre nós, com concertos marcados para Faro, Lisboa e Braga.
Foi com entusiasmo que ouvi pela primeira vez a sua voz maravilhosa, há mais de uma dúzia de anos, num especial que lhe foi dedicado pelo canal francófono TV5. Uma voz extraordinária, das mais belas que tenho ouvido!
É certo que nem sempre o seu repertório faz justiça a essa voz invulgar. No entanto a sua amplitude, segurança e os inconfundíveis jeitos orientais que imprime em tudo o que canta (Noa é de ascendência iemenita), permitem-lhe apropriar-se da música com uma personalidade invulgar.
De então para cá tem levado o seu talento um pouco por todo o mundo, registando colaborações notáveis com músicos como o maestro italiano Nicola Piovanni, o galego Carlos Nuñez ou a palestiniana Mira Awad além de bandas sonoras como a do filme Joan of Arc, da autoria do francês Eric Serra.

Beautiful That Way (La Vita é Bella)


A Lavandeira da Noite (com Carlos Nuñez)


Em Família a Cantar um Tema Tradicional Iemenita

sábado, 4 de outubro de 2008

Agenda, 6 a 12 de Outubro


2ª feira, 6 de Outubro

21.30h – Centro Cultural e Congressos das Caldas da Rainha – Sheila Jordan Trio
23.00h – Café Concerto (Vila Real) - Uriel e João Mortágua

3ª feira, 7 de Outubro

22.30h – Ondajazz (Lisboa) - Hipster 6tet
23.00h – Café Concerto (Vila Real) - Silvério Duo

4ª feira, 8 de Outubro

21.30h – Cine Teatro S. João da Pesqueira - Proyecto Entrecuerdas
22.00h – Jazz ao Norte (Porto) - Quarteto César Latorre
22.30h – Ondajazz (Lisboa) - Triângulo
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Sheila Jordan Trio
23.00h – Café Concerto (Vila Real) - Elegance Duo

5ª feira, 9 de Outubro

21.30h – Teatro das Figuras (Faro) – Noa
21.30h – Auditório do Centro Cultural de Chaves - Proyecto Entrecuerdas
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Septeto do Hot Club de Portugal
23.00h – Ondajazz (Lisboa) – Cantos de Contos
23.00h – Café Concerto (Vila Real) - Carlos Azevedo

6ª feira, 10 de Outubro

21.00h – CCB (Lisboa) – Noa
21.30h – Teatro Municipal de Bragança - Quarteto de Samuel Quinto
21.30h – Museu do Douro (Régua) - Proyecto Entrecuerdas
22.00h – Galeria do Desassossego (Beja) - Quinteto Nuno Costa
22.00h – Centro de Artes (Sines) – Sheila Jordan
22.00h – Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra) - Sonny Simmons/ Bobby Few/ Masa Kamaguchi + Red Trio
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Septeto do Hot Club de Portugal
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – João Paulo Trio

Sábado, 11 de Outubro

11.00h – Centro Histórico de Vila Real - Douro Jazz Marching Band
21.30h – Convento dos Capuchos (Almada) - Zé Eduardo Unit
21.30h – Theatro Circo (Braga) – Noa
21.30h – Teatro Ribeiro Conceição (Lamego) - Proyecto Entrecuerdas
22.00h – Casa das Artes (Famalicão) - The New Mastersounds & Dionne Charles
22.00h – Teatro de Vila Real - Christian Brewer/ Alex Garnett Quintet
22.00h – HotFive (Porto) - Minneman Blues Band
23.00h – Centro de Artes e Espectáculo (Portalegre) - Jorge Ferraz Trio
23.00h – Hot Club (Lisboa) – Septeto do Hot Club de Portugal
23.00h – Zé dos Bois (Lisboa) - Sonny Simmons/ Bobby Few/ Masa Kamaguchi
23.00h - Salão Brazil (Coimbra) - Woods
23.30h – Ondajazz (Lisboa) – João Paulo Trio

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Santiago de Murcia



Ensemble Kapsberger & Rolf Lislevand
Santiago de Murcia Codex
Astrée, 2000

De Santiago de Múrcia pouco se sabe. Guitarrista e compositor espanhol do séc. XVIII, terá integrado a corte da rainha Maria Luísa Gabriela de Sabóia, primeira mulher do rei Filipe V de Bourbon, neto do rei francês Luís XIV que inaugurou aquela dinastia na coroa espanhola, sucedendo ao infeliz Carlos II (de acordo com alguns historiadores, através de um testamento falsificado a mando do rei sol). Quis a ironia do destino que os Bourbon ainda hoje reinem em Espanha, enquanto em França caíram às mãos de “madame da guillotine”…
A sua obra permaneceu esquecida durante séculos até reaparecer no México, há algumas décadas atrás. Há quem creia que o guitarrista terá passado parte da sua vida no Novo Mundo, aí compondo, entre outras obras, o seu Codex nº 4, de onde foram extraídos os temas deste disco. Porém a hipótese mais provável é que a obra tenha sido levada posteriormente (recentemente outra obra desconhecida de Santiago de Múrcia foi descoberta no Chile).
Rolf Lislevand nasceu em Oslo, na Noruega, em 1961, onde estudou guitarra clássica na Academia Musical estatal. Posteriormente estudou na Suiça, na Schola Cantorum Basiliensis, em Basileia, com mestres como Hopkinson Smith e Eugéne Dubois. Tocou em vários grupos de Jordi Savall, durante os anos 80, e actualmente é professor na Staatliche Musikhochschule em Trossingen, na Alemanha.
O Ensemble Kapsberger é uma original formação que deve o seu nome ao compositor seiscentista Hieronymus Kapsberger, um dos pioneiros do barroco italiano, filho de um militar austríaco colocado em Veneza.
O grupo combina a pesquisa e a musicologia com a criatividade e espontaneidade das suas interpretações, procurando dessa forma recriar as condições autênticas em que as obras foram compostas e apresentadas, rejeitando o rito cerimonial tradicional da música de câmara pós-novecentista. O barroco e o pré-barroco do Ensemble Kapsberger surgem assim vivos, populares, imprevisíveis. O grupo apela à subjectividade dos seus intérpretes e não hesita em integrar elementos improvisados nas suas apresentações, revestidas de uma inusitada teatralidade.
Não admira pois que esta obra, editada em 2000 pela francesa Astrée, denote uma frescura rara para uma obra de guitarra barroca. Longe da eloquência e previsibilidade características das obras deste período (cerca de 1730), este Codex nº 4 de Santiago de Múrcia surge recheado de elementos populares, oriundos da guitarra flamenca, da música sefardita, do oud árabe e da percussão norte-africana e caribenha. Um cocktail pouco habitual mas que imprime uma enorme frescura e vitalidade à música do compositor espanhol, colocando a nu as raízes históricas do flamenco e o seu enorme contributo para o desenvolvimento dos géneros populares latino-americanos, construídos a partir do legado colonial e dos ritmos levados para a América pelos escravos africanos.
Uma obra notável onde o virtuosismo de Lislevand na guitarra barroca é brilhantemente acompanhado pelo órgão entregue às mãos competentes de Guido Morini e pela percussão ao cuidado de Pedro Esteván, Michéle Claude e Katherina Dustman. Acompanham-no ainda Bjorn Kjellemyt no colascione (um instrumento de corda italiano, da família do alaúde, semelhante ao saz turco), Beatrice Pornon na segunda guitarra barroca e Eduardo Eguez na chitarra batentte (guitarra de fole originária do sul de Itália).
Um disco fascinante que proporciona uma apaixonante e autêntica viagem musical pela Espanha imperial setecentista.
A ilustrar esta viagem deixo um vídeo com o tema Fandango e fotos de arte nicaraguense da autoria de Dan Polley.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Festival Expresso Oriente


Festival Expresso Oriente
Música de Este a Oeste
OrchestrUtopica – Drumming
Sheng - Wu Wei
Maestro - Jean-Sebastien Béreau
30 de Setembro de 2008, 21.30h
Grande Auditório da Culturgest
***

Se há algo que eu gostaria que transparecesse destas linhas que escrevo é a partilha de uma visão transversal da música e da arte enquanto fenómenos estéticos. A recusa de compartimentos e o derrube de convenções é cada vez mais uma preocupação dos músicos e deve, na minha opinião, ser igualmente um objectivo, senão uma exigência, do esteta, onde modestamente me incluo.
Nesse contexto a OrchestrUtopica aparece como uma referência rara no nosso panorama musical. Pela originalidade da formação e repertório. Pela ousadia na escolha das obras que apresenta. Pela disponibilidade demonstrada para colaborar com músicos oriundos de universos estéticos diversos e distantes, expressão máxima dessa exigida transversalidade.
A música dita erudita sempre foi credora das emanações artísticas ditas populares, do mesmo modo que a música popular sempre bebeu inspiração e buscou referências na erudição musical. A criação artística não vive de modelos fechados sobre si mesmos, autistas, mas antes da partilha de experiências, da busca incessante do novo.
Assim os contornos daquilo que é hoje a música são manifestamente ténues e recorrentemente revistos, à luz de novos contributos oriundos dos mais variados quadrantes estéticos e geográficos. O processo ultrapassa a mera discussão de estilos e atinge o próprio âmago do conceito musical.
Nesta apresentação na Culturgest procurou mostrar-se diferentes modos de pensar a música tendo como mote o cruzamento e confronto das abordagens ocidental e oriental.
No entanto, e com uma única excepção, não se fez um verdadeiro cheque ao molde ocidental que, de forma globalizada, estabelece há muito o padrão dominante no que respeita à erudição musical.
Apresentou-se compositores (alguns em estreia nacional) que ousaram estabelecer uma ponte entre o ocidente e o oriente musicais. Mas essa ponte, fruto de uma educação musical marcadamente ocidental (mesmo no caso dos compositores de origem oriental), foi edificada com recurso aos instrumentos, técnicas de composição, linguagens e pensamento estético-musical característicos do molde ocidental, o que de algum modo compromete o objectivo.
É certo que na nova música a descoberta de diferenças específicas entre os vários modos geográficos de racionalizar a música aparece mais esbatida, senão mesmo invisível. Mas se assim é o objectivo nasce impossível e a ponte não conduz a nenhum outro lugar, senão ao ponto de partida.
Mais do que um confronto entre Ocidente e Oriente as obras tocadas manifestaram uma reflexão profunda sobre as bases conceptuais da música em geral e da música erudita em particular. Quando um compositor como Naresh Sohal, na sua obra Hexad, deixa o valor do tempo inteiramente aos instrumentistas, ou quando a compositora coreana Unsuk Chin constrói Fantaisie Méchanique com base em dois conceitos opostos, a improvisação e as estruturas pré-determinadas, não é tanto com a lógica oriental que a música se confronta, mas consigo mesma, com os seus pressupostos teóricos e históricos! Sendo essa, a meu ver, a principal reflexão suscitada pela apresentação.
Mas eu mencionei uma excepção. O momento mais interessante do concerto, e aquele onde além das contradições conceptuais se sentiu verdadeiramente a presença de uma lógica completamente estranha ao molde ocidental, foi protagonizado pela obra Water Music do chinês Tan Dun, interpretada pelos percussionistas do grupo Drumming. Aqui a música brotou espontânea, inesperada e organicamente de uma exploração ritualística da água e de outros materiais (como o papel, o metal ou o plástico), numa evocação zen da cultura oriental. Claro que também aqui as provocações conceptuais surgiram fulgurantemente. Não obstante foi o momento em que o Oriente manifestamente irrompeu na sala de forma marcante e mais fortemente aplaudida.