domingo, 5 de outubro de 2008

Jean-Jacques Milteau



Jean-Jacques Milteau
Fragile
Emarcy – Universal, 2006

Jean-Jacques Milteau nasceu em 1950, em Paris, e interessou-se pela harmónica nos anos 60, ao ouvir os grandes nomes de então do folk e do rock, como Bob Dylan ou os Rolling Stones. Acompanhou vários músicos franceses de diversos estilos, como Yves Montand, Eddy Mitchell, Jean-Jacques Goldman ou Charles Aznavour, mas o seu primeiro disco como líder surge apenas em 1989. Chamou-se Blues Harp e veio consagrar Milteau como músico de blues. Depois desse disco de estreia seguiram-se mais uma dúzia de álbuns, o mais recente dos quais editado em 2007 com o título Live, hot n'blues (Universal) com Demi Evans e Andrew Jones.
A sua paixão pela harmónica e pelo blues levaram-no em 2001 até Memphis, onde gravou o disco homónimo com Little Milton e Mighty Sam McClain. No seu trabalho seguinte, Blue 3rd, contou com Gil Scott-Heron, Terry Callier, N’Dambi e Howard Johnson e neste Fragile, editado em 2006, conta com as poderosas vozes de Michelle Shocked e Demi Evans.
Milteau é hoje um dos mais reputados músicos neste instrumento, com vasta obra técnica publicada sobre o mesmo.
Fragile é um hino ao blues acústico, com Milteau brilhante na harmónica e as vozes negras de Michelle Shocked e Demi Evans a ajudarem à festa. Nota muito positiva também para a guitarra de Manu Galvin e para o Hammond, que cria um belíssimo ambiente delta blues, por vezes com ecos de gospel, que serve perfeitamente os propósitos do disco.
O blues de Milteau ora soa nostálgico e solitário, como em Fragile, ora surge vivo e contagiante, como em Jack the Man, onde um solo fantástico de harmónica e a voz grave e visceral de Evans, nos põem facilmente a dançar. Mas também há espaços para surpresas, como em Obok, que evoca sons marcadamente caribenhos ou em L’Internationale que fecha o disco. Poucos se lembrariam de transformar o carismático hino da primeira internacional socialista num blues… e menos ainda o conseguiriam interpretar de forma tão conseguida. Uma delícia!
Um grande disco de blues a provar que, apesar de ter nascido negro e americano, o género também pode ser tocado, com enorme talento e propriedade, por um francês branco!
Deixo-vos com o teledisco oficial do tema Jack the Man e com um vídeo elaborado a partir da balada Fragile, com fotos da cidade polaca de Lodz, da autoria de Anna Kruszewska (afinal de contas se o blues pode ser francês, também pode ser polaco. E se há nação cuja história recente merece um blues, é seguramente a polaca!).

Jack the Man (com Demi Evans & Manu Galvin)


Fragile (fotos de Anna Kruszewska)

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