terça-feira, 5 de agosto de 2008

Chano Domínguez, o Pai do Flamenco-Jazz



Sebastián Domínguez Lozano, conhecido musicalmente como Chano Domínguez, foi-me revelado pelo magnífico filme Calle 54, realizado em 2000 pelo espanhol Fernando Trueba (vivamente recomendado a quem ainda não tenha percorrido esta deslumbrante viagem pelo jazz latino).
Nascido em Cádiz, em 1960, não admira que os seus primeiros passos musicais tenham sido percorridos no flamenco e na guitarra, mas cedo se mudou para as teclas, primeiro numa banda rock (o grupo CAI, com quem gravou três discos entre 1978 e 1980) e mais tarde fundando o seu trio de jazz.
Chano Domínguez conseguiu fundir o jazz com o flamenco. Fernando Trueba afirma no filme que ele é o primeiro músico do mundo completamente bilingue no jazz e no flamenco. Mas para mim, mais importante do que o seu profundo conhecimento de ambos os géneros musicais, é a sua extraordinária e revolucionária capacidade para os fundir em algo novo e apelativo, o flamenco-jazz.
Chano foi o fundador do género que, desde então, tem atraído inúmeros músicos, não apenas do país vizinho mas de toda a América Latina, para as enormes potencialidades da aplicação da técnica jazzística à estética flamenca.
No seu piano ele toca tangos, tanguillos, alegrías, compás de bulerías, fandangos e soleás usando a tradicional estrutura do jazz, geralmente acompanhado por contrabaixo e caixa flamenca. Chegou mesmo à ousadia de acompanhar o bailarino Blás de Córdoba, no Festival de Flamenco de Sabadell, acompanhado ao piano, em vez da tradicional guitarra.
Esta e outras ousadias de Chano Domínguez valeram-lhe uma legião de seguidores, convites para trabalhar com os mais aclamados músicos de Espanha e de todo o mundo hispânico (como o dominicano Michel Camilo, o cubano Gonzalo Rubalcaba, o porto-riquenho Jerry González, os espanhóis Jorge Pardo, Carles Benavent, Tomatito e Paco de Lucia ou ainda os norte-americanos Herbie Hancock, Joe Lovano, Jack deJonhette ou Wynton Marsalis, entre muitos outros) e tornaram-no um dos músicos mais influentes da actual cultura hispânica.



Chano Domínguez
Hecho a Mano
SunnySide Records, 2002

A provar o que afirmo deixo-vos com um dos meus temas preferidos de Chano Domínguez, Alma de Mujer, extraído do seu disco Hecho A Mano (gravado pela Nuba Records em 1996 mas lançado apenas em 2002, pela Sunnyside Records) e em que o genial pianista andaluz é acompanhado por Javier Colina no contrabaixo, Guillermo McGuill na bateria, Tino di Geraldo na percussão, tablas, cajón, tamborim, etc e ainda com a participação em várias faixas do disco dos guitarristas Tomatito, Antonio Toledo, Nono Garcia e Tito Alcedo, bem como das vozes e palmas de Chonchi Heredia, Joaquin Grilo, Juan Diego e Lorenza Virseda. Um disco memorável e um verdadeiro ex-libris do talento deste invulgar pianista espanhol.
As fotos que acompanham o tema são de obras do genial arquitecto catalão, do início do séc XX, Antoni Gaudí, e foram tiradas por Roy Chen.

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