sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Trioangular na Rentrée do Hot



Bruno Santos TrioAngular
Hot Club de Portugal – Lisboa
28 de Agosto de 2008, 23.00h
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Entre os vários guitarristas de enorme qualidade que povoam o actual panorama do jazz português, Bruno Santos destaca-se como um dos mais originais. Dono de uma técnica notável, a sua música conjuga uma estética fortemente abstracta com uma suavidade e rigor de execução francamente apelativas. Se a isto juntarmos a sua rara aptidão como compositor (esta apresentação foi integralmente constituída por originais do guitarrista, excepção feita ao tema “Think of One” de Thelonious Monk, que já se transformou num ex-libris do músico madeirense) percebemos porque razão o seu nome é insistentemente mencionado como um dos mais promissores guitarristas nacionais.
Nascido em 1976, no Funchal, inicia os seus estudos musicais aos 17 anos naquela cidade, através de aulas particulares com Humberto Fournier, professor do Conservatório do Funchal. Aos 19 anos passa a residir em Faro onde frequenta o Conservatório local e, paralelamente, aulas particulares com Zé Eduardo, contrabaixista e antigo director da escola do Hot Clube de Portugal. Ingressa nesta instituição em Fevereiro de 1998 e aí estuda guitarra com Mário Delgado, Vasco Agostinho, André Fernandes e Nuno Ferreira. Integra nesse mesmo ano a Big Villas Band (Orquestra do HCP) e participa em vários workshops de jazz. Em 1999 é destacado para representar o HCP no meeting anual da IASJ (International Association of Schools of Jazz), associação presidida pelo saxofonista David Liebman, e que teve lugar em Santiago de Compostela.
Em Fevereiro de 2000 começa a sua carreira docente, no Hot Club de Portugal e no Conservatório do Funchal, escolas onde ainda se mantém, com passagens também pela escola de jazz do Barreiro, Conservatório de Alhandra e Orfeão de Leiria, e por inúmeros workshops (o último dos quais este Verão no CCB). Além de manter o seu trio, com Bernardo Moreira no contrabaixo e Bruno Pedroso na bateria, toca regularmente nas seguintes formações musicais: 7teto do Hot Clube de Portugal (sendo presentemente o seu principal impulsionador), Ensemble de Saxofones HCP, Trio Filipe Melo, Claus Nymark Big Band, Laurent Filipe, Santos/Melo 5tet, 4teto de Marta Hugon, Paula Oliveira, Pedro Moreira 5teto e Lena D´Água.
Este espectáculo no Hot apresentava-se como uma previsível revisita ao seu último trabalho discográfico (editado em 2007 pela TOAP) denominado precisamente TrioAngular. Porém Bruno Santos aproveitou a oportunidade para tocar vários temas novos, na sua maioria em premiére, que lhe trouxe um especial destaque, permitindo levantar um pouco o véu sobre o seu actual percurso criativo e deixando antever o que poderá vir a ser o próximo trabalho discográfico do trio. Paralelamente foram igualmente apresentados alguns dos temas mais emblemáticos de Trioangular e bem assim originais de Bruno Santos que já tinham sido objecto de apresentação pública noutros contextos (pelo Septeto do HCP), agora rearranjados para o trio.
Se os novos temas, agora apresentados, são representativos da estética musical pretendida pelo guitarrista para os seus futuros trabalhos, direi que está seguramente no bom caminho. Nota-se um claro apuramento do estilo apresentado em Trioangular (por sua vez já bastante apurado quando comparado com o seu primeiro trabalho, Wrong Way, editado em 2005, também pela TOAP), mantendo Bruno Santos a predilecção pelos originais em detrimentos dos covers e revelando um rigor técnico e uma suavidade de execução na guitarra (por vezes soam ecos de bossanova nas complexas e abstractas improvisações do músico) em manifesto crescendo. A acompanhá-lo nesta rentrée do Hot (depois de duas semanas de férias) estiveram Bernardo Moreira e Bruno Pedroso particularmente inspirados, o primeiro proporcionando um permanente contraponto à guitarra de Bruno Santos que muito enriqueceu este universo musical intimista e feito de pequenas, mas deliciosas, subtilezas nas cordas, o segundo contribuindo, no seu modo expressionista de explorar as sonoridades da percussão, para o desenvolvimento da estética abstracta tão característica deste trio.
Em suma, um trabalho de grande mérito que deixa adivinhar novos projectos no horizonte próximo deste original trio.
Deixo-vos com um vídeo do tema Submerso, integrante do álbum TrioAngular, com fotos de Galarneau extraídas do seu trabalho The Gray Days of Rain.

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