quarta-feira, 21 de maio de 2008

Brisa Contagiante



Franco Ambrosetti + Uri Caine Trio
The Wind
Enja 2007
17/20

Franco Ambrosetti nasceu em Lugano em 1941, filho do saxofonista Flavio Ambrosetti. Estudou piano entre 1952 e 1959 antes de enveredar pelo trompete como auto-didacta. Durante os anos 60 formou um grupo em Zurique enquanto se licenciava em Economia pela Universidade de Basileia. Tocou ainda com George Gruntz e Gato Barbieri. Em 1967 estreou-se nos EUA com o quinteto do pai no Festival de Jazz de Monterey, mantendo-se no quinteto (com George Gruntz e Daniel Humair) até ao presente. Contudo e durante os anos 70 tocou como freelancer com músicos como Phil Woods, Dexter Gordon, Cannonball Adderley, Joe Henderson, Michael Brecker, Mike Stern, Hal Galper ou Kenny Clarke. Gravou ainda com Kenny Kirkland, John Scofield, Ron Carter, Bennie Wallace, Dave Holland, Kenny Barron, Victor Lewis e Seamus Blacke para além de músicos italianos como Alfredo Golino, Antonio Faraó e Dado Moroni. Dele afirmou Miles Davis ser o único trompetista branco que tocava como um negro…
Passou por Portugal e pelo Hot Club nos anos 60 integrando o quinteto do pai.
Acompanham-no neste projecto os norte-americanos Uri Caine, no piano (o homem que converteu Mahler ao jazz), Drew Gress no contrabaixo e Clarence Penn na bateria.
The Wind é antes de mais um disco de uma enorme homogeneidade. Vivo, alegre, contagiante mesmo. Pela mão de Ambrosetti e do Uri Caine Trio o jazz (ou o bop, pois é disso essencialmente que se trata) adquire contornos de um verdadeiro ditirambo!
Integrando originais de Ambrosetti (Frasi, Mike On Wings e African Breeze) e de Caine (Otello e Stilletto) não deixa de revisitar standards como The Wind (original de Russ Freeman gravado por Chet Baker em 1952), Doxy de Sonny Rollins e I’ve Never Been In Love Before de Frank Loesser, para além de um original de Gianluca Ambrosetti (Lyrical Sketches) filho do trompetista que abraçou a carreira de saxofonista (como o avô) e acompanha frequentemente o pai em diversas formações.
Dono de um fraseado limpído e suave (de um lirismo tipicamente latino) é fácil encontrar no seu estilo ecos do cool jazz sessentista e de Miles Davis, embora a comparação com Kenny Wheeler surja também como pertinente e inevitável. A complementá-lo aparece um inspirado Uri Caine no piano que ora acompanha a toada viva e contagiante do trompete ora incute algum dramatismo aos temas (sobretudo aos seus, de que Otello será o melhor exemplo) que nunca consegue tornar-se demasiado sério face à toada viva e de inspiração latino-americana introduzida pelo contrabaixo de Gress e pela bateria de Penn. Os temas sucedem-se com um apurado sentido melódico, soberbamente interpretados e carregados de swing.
Ambrosetti não mostra grande apetência pela experiência (a única excepção será African Breeze, fantasia africanista partilhada com Clarence Penn e que encerra o disco) mas o seu jazz mostra-se de uma inquestionável classe. Um free bop com um swing capaz de nos transportar até aos já longínquos anos 60, quando Miles Davis, John Coltrane ou Sonny Rollins edificavam um estilo que haveria de mudar o mundo do jazz.
Um disco de uma pureza estética impressionante.
Como eu julgava que já não se faziam…

Franco Ambrosetti na televisão italiana.

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