sábado, 10 de maio de 2008
Chão Firme
Mafalda Veiga – Chão
9 de Maio de 2008, 22.00h
Centro Cultural Olga Cadaval
Sala Jorge Sampaio, Sintra
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Como nem só de jazz vive o homem (sobretudo o homem casado…) desloquei-me ao Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, para assistir ao espectáculo de apresentação do novo trabalho de Mafalda Veiga, denominado Chão.
Desde logo não posso deixar de assinalar o enorme fenómeno de popularidade (sobretudo junto do público feminino) que gira à volta desta simpática cantora e autora, nascida há 42 anos, na véspera de Natal e em Lisboa e que, confesso (mea culpa), me tinha passado despercebido. Para além de uma inusitada enchente do Olga Cadaval, foi possível assistir a um conjunto de manifestações, tais como grupos de adolescentes a gritarem em coro o nome e atributos da cantora durante o espectáculo, a exibição de faixas de apoio à artista e de celebração dos seus 20 anos de carreira, o súbito aparecimento durante a apresentação (para desespero dos responsáveis da sala) de artefactos luminosos que acompanharam os temas mais emblemáticos da compositora, para além do mais comum trautear de cor pelo público de quase todos os seus temas, incluindo os do último disco, editado há pouco mais de duas semanas… Um fenómeno invulgar neste povo lusitano, de brandos costumes.
Mafalda Veiga apresentou-se acompanhada por Filipe Raposo no piano, Rhodes e Wurlitzer, com um trabalho assinalável (responsável também por parte dos arranjos), por João Barbosa na guitarra eléctrica (outros dos arranjadores deste seu último trabalho), por António Pinto na guitarra acústica, Paulo Jorge Ferreira na viola baixo e Vicky na bateria (rubricando uma actuação notável pelo modo como “puxou” pelos temas da cantora, através de um fraseado rítmico elaborado e apelativo que muito contribuiu para o sucesso da apresentação).
Mafalda Veiga é sobretudo uma poetisa da canção. Apesar de serem já muitos os temas de sucesso ao longo destes seus 21 anos de carreira é nos poemas que musica que radica a enorme popularidade da cantora. Através de uma abordagem directa mas sentida e autêntica, Mafalda comenta nas letras que escreve quase tudo o que a rodeia, desde os amores e desamores que viveu até à crise de valores da sociedade massificada em que vivemos, num lirismo marcadamente feminino com que é fácil identificar-se. Aí reside o segredo da sua enorme facilidade de comunicação com o público e das enormes legiões de fãs que arrasta atrás de si e que se estendem por várias gerações (fruto de mais de 20 anos de carreira, de uma coerência invejável).
A completar esta invulgar capacidade de conquistar o público está ainda um enorme profissionalismo que nesta noite no Olga Cadaval ficou demonstrado pelo rigor impressionante com que construiu a sua apresentação. Desde a voz aos arranjos, passando pelo trabalho dos músicos, do som, das luzes, do arranjo cénico, do timing de apresentação dos seus temas mais emblemáticos, dos dois encores com que brindou o público (cada um deles com três temas, para terminar com o seu incontornável hino ”Cada Lugar Teu”), nada foi deixado ao acaso ou ao improviso, antes obedecendo a uma lógica profissional apurada, pensada e aplicada na perfeição.
O único senão foi, para mim, a adição ocasional (em três temas, para ser mais preciso) de sons gravados (mais concretamente um violoncelo em duas canções e um trompete noutra). Parece-me que o rigor e profissionalismo amplamente demonstrado pela cantora ao longo do espectáculo exigiriam a comparência de músicos que os interpretassem ao vivo ou então, que se prescindisse da adição de tais instrumentos nas apresentações em palco, mediante a entrega aos instrumentos presentes das escassas intervenções por eles protagonizadas.
Foi, no entanto, uma noite para comemorar esta em Sintra. Vivida em festa pelos muitos e fiéis fans da cantora.
Mafalda Veiga em dueto com Jorge Palma, no tema Tatuagens.
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