sexta-feira, 2 de maio de 2008

Institucional


Dianne Reeves
When You Know
Blue Note 2008
15,5/20

Dianne Reeves é já uma instituição do jazz vocal norte-americano (galardoada com quatro Grammys) pelo que o lançamento de um disco seu é sempre um acontecimento ímpar. Ainda para mais estando há cinco anos sem editar originais (em 2005 surgiu, no entanto, a banda sonora de Good Night And Good Luck).
Partindo do trabalho apresentado ao vivo com os guitarristas Romero Lubambo e Russell Malone (e que passou pelo CCB em Maio de 2006), ao qual juntou o sax soprano de Steve Wilson, os trompetes de Roy Hargrove e Gary Grant, o piano e rhodes entregues alternadamente a Billy Childs, George Duke e Geoffrey Keezer, o baixo acústico e eléctrico da responsabilidade de Reuben Rogers, Reginald Veal e Dave Carpenter, o contrabaixo de Susan Wulff, a bateria de Greg Hutchinson, António Sanchez e Oscar Seaton, a percussão de Lenny Castro e ainda uma secção de cordas composta por Karen Briggs e Sarah Thornblade nos violinos, Matthew Funes e Alma Fernandez nas violas e Giovanni Clayton no violoncelo, contou ainda com a presença do Children’s Choir no tema When You Know.
Produzido por George Duke, primo da cantora e responsável pela produção de dois dos seus discos galardoados com um Grammy, In the Moment em 2001 e The Calling em 2002 (para além de trabalhos com outras grandes intérpretes norte-americanas como Natalie Cole ou Anita Baker) não admira assim que o disco se revele fortemente influenciado pelo soul jazz, em temas como Just My Imagination (cover em estilo Motown do velho tema dos Temptations), Over the Weekend, Midnight Sun (um standard dos anos 50 da autoria de Lionel Hampton e Sonny Burke, com letra de Johnny Mercer) e When You Know (cover da balada country-folk da cantora e compositora Shawn Colvin, que dá nome ao álbum).
Mas estranho seria se, depois de dois anos em digressão com os guitarristas Russell Malone e Romero Lubambo e contando com a sua preciosa colaboração neste disco, não surgissem as baladas intimistas e carregadas de swing e de bossa que pudemos ouvir no seu espectáculo em Lisboa. Na verdade elas estão lá em temas como Lovin’ You (cover do hit de 1975 de Minnie Riperton, que Lubambo leva inevitavelmente para a bossanova, com resultados muito conseguidos), I’m In Love Again (um tema bipolar, onde o ritmo bossa de Lubambo contrasta com os permanentes riffs e solos da guitarra blues de Malone) e Once I Loved (um tema de Tom Jobim, que em português se chamou Amor em Paz, em ambiente acústico).
Mas os pontos mais altos do disco, para mim, estão nas duas originais (para o reportório de Dianne Reeves) incursões pelo universo blues. Em Social Call (canção escrita por Jon Hendricks para Betty Carter e gravada, com orquestra, por esta em 1980) pelas reminiscências ragtime e manouche, num tema muito swingado, claramente conduzido pela guitarra eléctrica de Malone. Mas sobretudo na supreendente e belíssima incursão pelo universo do delta blues (ainda por cima num original de Reeves dedicado à mãe) em Today Will Be a Good Day, o mais belo tema do álbum e em que Dianne Reeves revela uma faceta até agora desconhecida: a de cantautora de blues. Um tema admirável com Russell Malone igualmente a brilhar na guitarra.
Falta apenas falar no desgastado standard de Michel Legrand, Windmills of Your Mind, que com Dianne Reeves ganha nova vida com um arranjo, tenso e dramático, original e conseguido, capaz de o expurgar das tendências excessivamente melosas do estilo Legrand.
Pode não ser um disco de referência para os apaixonados do jazz… mas seguramente confirma Dianne Reeves como uma das mais importantes cantoras do panorama musical actual norte-americano.
Como se precisasse de confirmação…

Oiça Dianne Reeves no tema Today Will Be a Good Day, ao vivo na BBC, no programa Jools Holland

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