quarta-feira, 21 de maio de 2008
Rambla's Jazz
Raynald Colom
Sketches Of Groove
Fresh Sound New Talent 2008
16/20
Com apenas 30 anos de idade, Raynald Colom é hoje um dos mais prestigiados músicos de jazz espanhóis. Ex-libris da movida jazzística catalã, assentou arraiais desde 2004 com o seu quinteto no café Royal, em Barcelona, onde toca habitualmente aos domingos.
Nasceu em Vincennes (França) em 1978 mas desde 1988 que vive em Barcelona. Os seus estudos musicais começaram aos quatro anos de idade no Conservatório de Creteill, onde aprendeu violino durante quatro anos. Barcelona fê-lo mudar de instrumento e deu-lhe a oportunidade de frequentar workshops com trompetistas tão importantes quanto Wynton Marsalis, Roy Hargrove ou Kenny Barron. Em 1999 consegue uma bolsa de estudo e muda-se para Boston e para o Berklee Music College. Foi o suficiente para iniciar uma carreira como sideman em Barcelona a partir de 2000. Manu Chao reparou nele e integrou-o na sua banda com quem correu mundo a promover o disco Clandestino. Em 2001 integrou a European Youth Orchestra em representação de Espanha e correu os principais festivais de jazz europeus. Em 2002 e 2003 integrou o sexteto de Perico Sambeat e correu Espanha e a América Latina ao lado do saxofonista. O ano de 2004 afirma-o definitivamente como um dos mais importantes instrumentistas actuais em Espanha, com colaborações com os mais prestigiados músicos daquele país e com o lançamento do seu primeiro disco como líder: My 51 Minutes, editado pela Fresh New Sound Talent.
Este Sketches Of Groove é assim o segundo disco como líder de Raynald Colom, gravado em 2007 na cidade de Girona e editado uma vez mais pela editora espanhola Fresh New Sound Talent. Acompanham-no neste trabalho o pianista Abe Rábade, Tom Warburton no contrabaixo, Marc Ayza na bateria, Roger Blauia na percussão (latina e flamenca), Martí Serra no sax tenor, Guim G. Balasch no sax alto e flauta, Raül Reverter no sax alto, Philippe Colom no clarinete baixo (com uma intervenção muito interessante em Lu’s Mood), David Soler na guitarra eléctrica (com um excelente trabalho em El Clandestino), Joan Díaz nos teclados e Antonio Serrano na harmónica (no tema Lu’s Mood).
Sketches Of Groove é um trabalho com uma maturidade rara num músico tão jovem. Não só Colom assume destemidamente o comando do grupo (bem apoiado pelo piano de Abe Rábade e pela percussão de Roger Blauia, os dois músicos que mais se destacam no conjunto dos temas) como ataca temerariamente os mais diversos géneros com uma inusitada fluência. Com alguma naturalidade o disco começa bopista, em The 12 hours effect. Mas este bop é complexo e agrega as mais variadas influências, sobretudo de índole latina. Horácio é um tema perturbador, digno dos Radiohead. Melódico mas nostálgico, assenta nos sons dos swing years mas filtrados por um manto negro e dramático… Quase parece um hino. Em Juanito’s Groove são os sons de setenta que se destacam num tema lento mas muito groovy. Melódico e apelativo. Latino e sensual. Como se Shaft tivesse sido filmado por Almodovar… QTP é pura irreverência. Colom casa o jazz com o flamenco e leva-o até às areias do Sahara, sem nunca perder o swing. Lu’s Mood é uma balada lindíssima em blues, magnificamente interpretada ao estilo retro de Wynton Marsalis e com um original solo de harmónica da autoria de Antonio Serrano. Para mim o mais belo tema do disco. Há ainda tempo para visitar o universo funky de John Scofield em El Clandestino (com a ajuda da guitarra eléctrica de David Soler) num tema de assumida fusão, enorme, complexo e monumental, com um belíssimo solo de piano a lembrar Chano Dominguez. O disco fecha com Come Sunday, um blues de fato e gravata, lento, coloquial e com ecos de Gershwin. Pelo meio ficam dois pequenos sketches, improvisos ambientais que servem de ponte entre os temas.
Um excelente trabalho deste jovem trompetista espanhol a demonstrar que o jazz também vive, carregado de talento e criatividade, nas ramblas da modernista Barcelona.
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