terça-feira, 20 de maio de 2008

Diversidade Auspiciosa



João Lencastre's Communion
One!
Fresh New Sound Talent 2007
15/20

João Lencastre é um jovem baterista português (com 28 anos de idade) formado pela escola do Hot Club (foi aluno de Bruno Pedroso e Carlos Vieira) e com duas passagens, em 2002 e 2007, por Nova Iorque, onde estudou com Ralph Peterson, Ari Hoenig, Billy Kilson e Dan Weiss.
Este Communion é o seu primeiro trabalho discográfico como líder e foi gravado parcialmente ao vivo no Hot Club de Lisboa e em estúdio para a editora espanhola Fresh Sound New Talent.
Para além do baterista conta com o guitarrista português André Matos e o contrabaixista argentino Demian Cabaud (que com ele trabalham habitualmente) mas também com dois convidados norte-americanos de peso: Bill Carrothers no piano e Phil Grenadier no trompete.
É um trabalho extremamente meritório mas em que se notam algumas arestas de juventude. Desde logo na entrega quase total do protagonismo aos dois norte-americanos, que claramente se apresentam como o verdadeiro motor do disco, sobretudo Carrothers com um trabalho notável no piano. Mas também na heterogeneidade do reportório que oscila entre o bop clássico de homenagem a Charlie Parker, em Byrdlike e o experimentalismo vanguardista puramente improvisado de 108, passando pelo impressionismo lírico e ambiental de Lonely Woman ou pelo free jazz improvisado dos temas Communion. Não acho a diversidade redutora, muito pelo contrário, mas por vezes, neste disco, ela parece resultar muito mais da fraca coesão do grupo do que propriamente de uma opção estética.
Não obstante Carrothers consegue, no piano, segurar com pulso firme a maioria dos temas, com um fraseado seguro e apelativo, uma notável capacidade de improvisação e um dramatismo que imprime coerência e veemência ao som do quinteto. Apesar disso o disco nunca soa melancólico ou nocturnal. É antes uma alegria, por vezes contagiante, que ecoa dos instrumentos, bem contrabalançada pela postura séria e mais coloquial do piano.
Já Phil Granadier mostra-se melhor nuns temas do que noutros. O seu estilo solto e metalizado no trompete encaixa perfeitamente em temas como Byrdlike ou nas aventuras improvisadas que dão título ao álbum, mas parece algo deslocado nos temas mais melódicos e impressionistas como Lonely Woman e sobretudo em New World…
Embora relegados, na maioria das vezes, para tarefas harmónicas e rítmicas, os restantes músicos mostram competência e à-vontade no desenrolar dos temas. André Matos consegue mesmo incutir algumas notas pessoais importantes no disco, sendo os contrapontos dissonantes que anunciam o seu solo em Lonely Woman disso um perfeito exemplo.
Este Communion resulta assim um disco muito prazenteiro e que não hesito em recomendar. Uma estreia como líder que prenuncia uma carreira brilhante para João Lencastre.

Bill Carrothers Trio, ao vivo em Monterrey, México, em Junho de 2006.

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