segunda-feira, 12 de maio de 2008

Olhando as Estrelas


Jacob Young
Sideways
ECM 2007
17/20

Segundo disco pela ECM do guitarrista nascido em Lillehammer na Noruega em 1970, mas filho de pai norte-americano, que o introduziu ao universo musical do jazz. Auto didacta a princípio (começou a tocar guitarra aos 12 anos de idade), acabou por ingressar no Conservatório de Oslo e mais tarde na New School for Jazz and Contemporary Music em Manhattan, como bolsista, onde foi aluno de Jim Hall e de John Abercrombie. Após terminar os seus estudos iniciou uma carreira como sideman em Nova Iorque onde, durante dois anos, actuou, entre outros, com Rashied Ali, Marc Copland, Arnie Lawrence, Junior Mance e Larry Goldings.
De regresso à Noruega gravou três discos de originais para editoras locais com um conjunto de músicos que incluiu Nils Petter Molvaer, Trygve Seim, Arve Henriksen, Bendik Hofseth, Vigleik Storaas, Christian Wallumrød e Jarle Vespestad. O seu talento atraiu a atenção da cantora Karin Krog e formaram um duo que já correu mundo em inúmeras apresentações e gravou um disco de standards em 2002, produzido por John Surman, denominado Where Flamingos Fly.
A sua colaboração com Surman levou-o à ECM de Manfred Eicher para quem gravou, no mesmo ano e já com o seu grupo (composto por Mathias Eick, no trompete, Mats Eilertsen, no contrabaixo, Vidar Johansen no clarinete baixo e saxofone tenor e o veterano Jon Christensen na bateria, embora o trabalho só tenha sido lançado em 2004) Evening Falls, o seu primeiro disco para a prestigiada editora alemã.
O universo musical de Young é marcado por duas influências notórias: o fraseado calmo, redondo, rendilhado e perfeccionista de Jim Hall na guitarra e os ambientes largos, melódicos e nostálgicos do jazz norueguês, tão bem representados pelo grupo (particularmente pelo excelente trabalho do jovem trompetista, de 28 anos de idade, Mathias Eick, para além do próprio guitarrista) e que fazem lembrar o lirismo de Trygve Seim.
As suas composições, longe de buscarem o protagonismo exibicionista da guitarra, antes servem o colectivo, desdobrando-se em duos e trios melódicos, com o comando geralmente assumido pela guitarra e/ou trompete (ocasionalmente pelo saxofone) e onde as funções melódicas e harmónicas são repartidas equitativamente pelos solistas. Apenas Jon Christensen é relegado geralmente para funções exclusivamente rítmicas, o que faz de modo consentâneo com o intimismo da obra, recorrendo frequentemente a uma estética textural.
Este Sideways é um trabalho profundamente sedutor. Tecnicamente perfeito e buscando influências tanto no ambiente clássico como no jazzístico (sem esquecer pequenas referências ao flamenco e à bossanova) Jacob Young conquista facilmente o ouvinte como intérprete e como compositor através de sucessivos temas líricos e nostálgicos (seis deles em guitarra acústica e quatro na eléctrica com caixa de ressonância), melodicamente apelativos mas estruturalmente complexos e elaborados. Estes encontram no trompete de Eick outro intérprete de excelência, que partilha integralmente o protagonismo interpretativo do disco. Ocasionalmente também o contrabaixo de Mats Eilertsen e o saxofone (esporadicamente o clarinete baixo) de Vidar Johansen se intrometem, com apurada pertinência, nas tarefas melódicas, donde resultam elaboradas polifonias, por vezes em ambiências quase barrocas (como com a introdução pelo contrabaixo arqueado em Out of Night).
Também se sentem ocasionais influências folk e blues (lembrando os trabalhos de Bill Frisell) em temas como Near South End ou no solo de guitarra de Wide Asleep.
O disco termina em pleno com uma pequena pérola exclusivamente à guitarra acústica (mais precisamente em duas guitarras acústicas, ambas tocadas por Young) chamada Gazing at Stars.
Um disco extraordinário de um grande guitarrista norueguês cuja música assenta como uma luva no catálogo da ECM. Quase diria que o personifica.

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