quarta-feira, 28 de maio de 2008
Armonitango
Antonio Serrano
Armonitango
Limón Records 2007
16,5/20
Antonio Serrano é reconhecido como um dos grandes músicos de jazz espanhóis (apesar dos seus ainda jovens 34 anos). Foi o pai quem lhe ensinou a tocar harmónica, logo aos 7 anos de idade. Complementou a aprendizagem musical nos Conservatórios de Madrid e Alicante com estudos de piano, violino, percussão, solfejo, harmonia, história da música e da arte, canto coral e estética. Começa muito jovem a destacar-se e a vencer concursos internacionais de harmónica, até ser chamado por Larry Adler para tocar em Paris, num concerto organizado pelas Nações Unidas, ao lado de músicos como Lorin Maazel, Salvatore Accardo, Barbara Hendricks ou Placido Domingo. Nessa vertente clássica da sua carreira tocou com as Orquestras Sinfónicas de Heidelberg, Kiel, Colónia, Istambul, Bélgica, Europeia, da TVE, de Granada, de Sevilla, de Las Palmas, tendo gravado com várias delas.
Mas o bichinho do jazz mordeu-lhe, ao ouvir gravações de Louis Armstrong e de Toots Thielemans, tendo iniciado, primeiro com Félix Santos e depois como auto-didacta, a abordagem ao jazz. Tocou já com os principais músicos espanhóis do género: Perico Sambeat, Chano Domínguez, Jorge Pardo, Carles Benavent, entre muitos outros, quer em espectáculos quer participando na gravação de inúmeros discos. Abordou também o universo flamenco com colaborações memoráveis com Paco de Lucia, Vicente Amigo, Diego Amador ("El Churri"), Juan Cortés, entre outros e bem assim com artistas reputados de outros géneros musicais como Pedro Guerra, Joaquín Sabina, Ana Belén, Presuntos Implicados, etc. Colaborou também nas bandas sonoras dos filmes "Carne Trémula" de Pedro Almodóvar, "Mamá es Boba" de Santiago Lorenzo, "Impulsos" de Miguel Alcantud, e "Tiempos de Azúcar" de Juan Luis Iborra.
Entre nós tocou já com o Trio de André Sarbib, com quem realizou uma série de concertos e gravou um disco, “Jazz Evening” que contou ainda com a participação de Paulo de Carvalho.
Apesar deste extenso reportório de colaborações este é apenas o seu segundo disco como líder, depois de "En el Central", gravado ao vivo no Café Central de Madrid com o Trio de Joshua Edelman.
Este trabalho, gravado e produzido por Javier Limón para a sua editora, é uma homenagem sentida a Astor Piazzola, cheia de ritmo, cor, melodia e emoção. Conta com a participação de muitos e reputados convidados como Jose Reinoso, ao piano (responsável pelos arranjos), Javier Colina e Yelsy Heredia, no contrabaixo, Jerry Gonzalez e Raynald Colom, no trompete, Jorge Pardo, na flauta, Horacio “El Negro” Hernandez, na percussão, Niño Josele e Paco Espinosa, na guitarra, Alain Perez, na viola baixo e o mestre Toots Thielemans que realiza alguns duetos de harmónica com António Serrano.
Trata-se de um obra extremamente consistente e homogénea, apesar da diversidade das influências e dos ensembles criados (que vão desde o simples dueto com o piano, como em Medley ou Años de Soledad, até complexas polifonias com três solistas e ampla secção rítmica, como em Adiós Nonino, Contrabajeando ou Libertango). Ao nuevo tango de Piazzola juntou Serrano as bulerías, fandangos, rumbas e tarantas do flamenco e bem assim os ritmos cubanos bem integrados por Horácio “El Negro” Hernandez. Construiu até uma balada blues, em Decarisismo, que permitiu a Jerry Gonzalez brilhar no trompete (antes já Raynald Colom o tinha feito em Contrabajeando).
Sendo ambos instrumentos de palheta livre, e portanto familiares próximos, não surpreende que a harmónica de Serrano soe perfeitamente integrada no universo musical de Piazzolla, fazendo, com toda a propriedade, a vez do ausente bandoneón. As maiores notas de originalidade vão assim para a percussão, flamenca e cubana, que imprimem uma nova personalidade aos tangos do mestre argentino, bem complementada pelos solistas, sobretudo pelos dois trompetes, pela guitarra de Niño Josele e pela flauta de Jorge Pardo, para além, obviamente, das harmónicas de Serrano e Thielemans.
O resultado é um disco nostálgico, evocativo do tango e de Piazzolla, num contexto mais amplo da latinidade musical, superiormente interpretado pelo grande músico que é António Serrano e brilhantemente acompanhado por muitos dos melhores intérpretes do jazz latino, oriundos do Espanha, de Cuba, de Porto Rico ou… da Bélgica.
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