terça-feira, 16 de setembro de 2008
Al di Meola na Aula Magna
Al di Meola
Aula Magna (Lisboa)
15 de Setembro de 2008, 22.00h
*****
Um concerto absolutamente fantástico!
Confesso que quando me dirigia para a Aula Magna fervia de dúvidas, quanto ao espectáculo que me iria ser proporcionado por este extraordinário guitarrista, tão virtuoso quanto versátil.
Al di Meola é assim mesmo… Tanto pode tirar da cartola uma espantosa exibição de guitarra eléctrica, com pedal de distorção e tudo, capaz de seduzir os mais acérrimos seguidores da estética hard rock, como pode proporcionar uma noite totalmente acústica, de flamenco, tango ou guitarra clássica.
Aliás essa é, por vezes, a grande dificuldade de vários grandes e raros talentos na guitarra. Demasiado protagonistas (fruto frequente da mitificação a que são sujeitos), perdem-se em exibições gratuitas de técnica, incapazes de desenvolver uma estética própria e coerente.
Felizmente nada disso se passou nesta apresentação na Aula Magna, muito pelo contrário.
Al di Meola apresentou-se de forma simples, com uma única guitarra acústica, e acompanhado de três extraordinários músicos: Fausto Beccalossi no acordeão, Peo Alfonsi na segunda guitarra (que tarefa ingrata…) e Gumbi Ortiz na percussão (sobretudo cajón).
O repertório incidiu sobre a obra de Astor Piazzolla, complementada por vários originais do guitarrista e por dois temas italianos, Cinema Paradiso de Ennio Morricone e No Potho Reposare, tema tradicional sardo, com que Meola fechou o espectáculo, em segundo encore. No entanto o fantasma de Piazzolla pairou sobre toda a apresentação. Mesmo nos temas não compostos pelo mestre argentino, os arranjos, sobretudo assentes na guitarra de Meola e no acordeão de Beccalossi, puxaram sempre para o universo riquíssimo do “nuevo tango” argentino, maravilhosamente temperado pelo salero da guitarra gitana e pela nostalgia mediterrânica.
E estes dois fantásticos protagonistas entenderam-se às mil maravilhas. Um dueto senão improvável pelo menos raro, mas plenamente conseguido. O reconhecido virtuosismo de Meola encontrou um par notável no acordeão de Beccalossi (o norte-americano confessou mesmo ter sido esse o seu primeiro instrumento de eleição, que abandonou contudo por ser demasiado difícil…), originando uma maravilhosa sonoridade latina que funde o tango com o flamenco e com o folclore italiano, sempre com o jazz à espreita nos notáveis solos rubricados por ambos os músicos.
Mas o contributo dos restantes músicos não pode ser menosprezado. O menor protagonismo da segunda guitarra de Alfonsi escondeu todavia uma inegável competência na tarefa essencial de fornecer um cenário harmónico e rítmico às notáveis exibições de virtuosismo dos dois solistas, o mesmo sucedendo com a percussão, entregue a Ortiz, responsável por boa parte do universo flamenco que caracterizou a apresentação e pela força característica que o cajón introduz na mesma.
O resultado foi verdadeiramente notável. Em ambiente informal (dir-se-ia que estávamos numa alegre tertúlia de amigos, num qualquer bar andaluz ou de Buenos Aires), reforçado pela simpatia e acessibilidade de Meola (que não hesitou em cumprimentar o público no final do espectáculo e proporcionar uma descontraída sessão de autógrafos no lobby da Aula Magna), viajámos encantados pelo universo musical de Meola e seus pares, durante duas horas sublimes, que removeram quaisquer dúvidas quanto às enormes capacidades criativas deste grande guitarrista, que se afirmou como compositor e arranjador exímio, cuja valia supera amplamente o mero repositório das suas famosas capacidades técnicas e interpretativas da guitarra. E saí ainda com a convicção de ter presenciado a ascensão de uma nova estrela, que desconhecia por completo (mea culpa…): a do acordeonista italiano Fausto Beccalossi.
Um grande concerto de Al di Meola, que terminou em Lisboa o seu périplo europeu deste Verão, rumando agora aos Estados Unidos onde, provavelmente, novas apresentações deste notável trabalho estarão previstas.
Se entrei com dúvidas na Aula Magna, saí completamente esclarecido por uma exibição única de talento e musicalidade.
Não resisto a deixar-vos um vídeo-amador do tema com que Meola encerrou o espectáculo: No Potho Reposare, do cancioneiro tradicional sardo, com uma chapelada à colega bloguista Ana V. (aka A Mesa de Luz).
Al di Meola, Fausto Beccalossi & Peo Alfonsi - No Potho Reposare
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