sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Pintando com os Dedos



Fingerpainting: The Music of Herbie Hancock
Christian McBride, Nicholas Payton & Mark Whitfield
Verve 1997

Herbie Hancock vai estar de novo entre nós. Depois da sua presença este Verão no Cool Jazz Fest de Oeiras e no Festival Allgarve em Loulé, é a vez do Angra Jazz, na capital açoriana, acolher este grande mestre do jazz, cuja carreira decorre já há mais de 4 décadas. No ano da sua consagração nos Grammys com o álbum River, de homenagem à obra da canadiana Joni Mitchell, Portugal parece ter ficado definitivamente na rota do genial pianista norte-americano.
Mas Hancock nem precisava do Grammy de melhor álbum do ano (num registo que muitos acusam de demasiado discreto, para o incontornável talento do pianista) para entrar nos anais do jazz… Desde 1962 que assina uma carreira notável, com 54 registos como líder, colaborações com músicos como Miles Davis, Wayne Shorter, Grant Green, Lee Morgan, Joni Mitchell, Jaco Pastorius, Ron Carter ou Quincy Jones, entre dezenas de outros e 12 Grammys conquistados! Um músico verdadeiramente ímpar e uma referência incontornável da música norte-americana dos últimos 35 anos.
Os seus temas há muito se transformaram em jazz standards e a sua obra é de tal modo referencial para os amantes do jazz que os discos de homenagens têm-se sucedido ao longo dos anos a um ritmo alucinante.
Um dos mais originais exemplos é este Fingerpainting, The Music of Herbie Hancock, em que a obra do pianista é revisitada por um original trio composto por contrabaixo, guitarra e trompete. Os músicos envolvidos são Christian McBride, Nicholas Payton e Mark Whitfield, os quais gravaram em 1997, sob a chancela da Verve, esta preciosa compilação de 14 temas escritos por Hancock, entre 1962 e 1979. Ao invés de buscarem apenas os mais conhecidos temas do pianista, optaram por injectar juventude a alguns temas imerecidamente mais obscuros na sua longa carreira, tais como Sly ou Fingerpainting, que dá nome ao disco. Entre as composições injustamente esquecidas está o magnífico Driftin’, cujo vídeo (com fotos de Guenter Eh, extraídas do seu trabalho London Street Art) poderão apreciar um pouco adiante.
Christian McBride é um dos mais extraordinários contrabaixistas da sua geração, facto que ressalta, com evidência, na presente gravação e particularmente no tema Driftin’. Nicholas Payton, trompetista de New Orleans e admirador confesso do mestre Louis Armstrong, rubrica aqui também uma notável gravação, plena de técnica e criatividade. Quanto a Whitfield, a figura menos mediática do trio apesar de também ele pertencer à geração dos young lions e ter acompanhado nos anos 80 cantoras tão importantes quanto Betty Carter e Carmen McRae, aparece rejuvenescido e com uma admirável capacidade para manter coeso este estranho trio (sem prejuízo de rubricar também solos de grande valia, como em Tell Me A Bedtime Story), que serve precisamente para demonstrar o valor de um bom desafio à capacidade de improvisação de músicos deste gabarito, sobretudo quanto têm ao seu dispor material da qualidade do produzido por Herbie Hancock.
Uma verdadeira jóia a descobrir.

Sem comentários: