sábado, 27 de setembro de 2008

Between Us And The Light



Leszek Mozdzer, Lars Danielsson & Zohar Fresco
Between Us And The Light
Outside Music, 2006

Já dei conta, nas presentes notas, do recente trabalho em duo do pianista polaco Leszek Mozdzer e do contrabaixista sueco Lars Danielsson, editado em 2007 pela ACT e denominado Pasodoble. Referi igualmente que essa primeira colaboração do duo sob a chancela da editora alemã ACT sucedia a duas outras colaborações anteriores, dessa feita em trio e com a participação do percussionista israelita Zohar Fresco, editadas na Polónia, ambas pela Outside Music.
É essa segunda obra, editada em 2006 e denominada Between Us And The Light, que vos trago agora.
Abstenho-me de tecer grandes considerações biográficas sobre os músicos, remetendo-vos antes para o artigo anteriormente publicado sob o título Pasodoble. Apenas o israelita Zohar Fresco é estreante nestas páginas.
Nascido em Israel, no ano de 1969 e descendente de judeus turcos, Fresco tornou-se conhecido como percussionista da cantora israelita de origem iemenita Noa. Virtuoso de muitos instrumentos, a sua técnica conjuga influências árabes, persas, indianas e turcas. Colaborou com vários ensembles, entre eles o Bustan Abraham, Ziryab Trio e Of Arabandi, e mostra-se à vontade nos mais variados ambientes musicais, do jazz à música erudita, passando naturalmente pelo pop e pela música tradicional do médio oriente. A sua versatilidade chamou a atenção de músicos de todo o mundo, resultando nas mais variadas colaborações de que são exemplo o Solis String Quartet de Itália, o grupo Efecto Mariposa e os músicos Alboka e Juan Mari Beltran de Espanha, o grupo Krotala da Grécia, o grupo italo-palestiniano Rádio Devish ou o israelita Eyal Sela, além de participações em bandas sonoras de filmes, tais como o 5º elemento e The Beautiful Country. Esta colaboração com Mozdzer e Danielsson sucede ao disco “The Time” gravado pelo trio em 2005.
Comparativamente a Pasodoble a presença de Fresco faz-se notar nesta obra. O universo nostálgico e contemporâneo do duo, surge aqui enriquecido pela composição, voz e percussão do israelita e temperado por um toque oriental que o torna, por vezes, muito sedutor.
Mas a abordagem de Mozdzer nesta obra é também muito diversa da de Pasodoble. Enquanto no disco de 2007 é o seu virtuosismo no piano e composição que se destacam, aqui surge um carácter experimentalista pontuado por frequentes incursões dos sintetizadores e dos samplers, os quais conjugados com a percussão de Fresco, imprimem um ar mais dub ou acid a esta obra.
Um compreensível piscar de olho à popularidade, que consegue em parte justificar o sucesso comercial da obra (vendeu mais de 20.000 exemplares, só nas duas primeiras semanas, após o lançamento!), mas não chega para lhe retirar a enorme valia técnica e artística.
Um disco ousado, que alterna ambientes clássicos e populares, electrónica e música árabe e indiana, tudo muito bem arrumado e servido com inegável maestria por três excelentes músicos de culturas e percursos muito diferentes.
Temos pois os elementos necessários para a criação de um grande disco de jazz, inovador, apelativo e com amplos espaços para o desenvolvimento das reconhecidas capacidades de improvisação dos músicos envolvidos.
Deixo-vos com o tema Psalmem, uma incursão do trio pelo universo salmódico escandinavo, talvez o mais nostálgico tema do disco, mas também um dos mais belos. As fotografias, da autoria de Juanjo Valverde, são da obra “La Vida en Albacete”.
Deixo também uma nova versão do tema “Pasodoble”, desta feita em trio.

Psalmem


Pasodoble

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