sábado, 19 de abril de 2008

Para Que Conste


John Scofield & Horns
18 de Abril de 2008 – 21.00h
Aula Magna – Lisboa
*****

Há concertos bons.
Há até músicos capazes de nos levarem às lágrimas…
E há aqueles que transmitem emoções inesquecíveis. Marcas indeléveis nos espíritos, tão profundas que os anos não conseguem apagar.
John Scofield tem esse dom.
Perdoem-me a toada melodramática, mas acabei de chegar do espantoso concerto que este guitarrista realizou na Aula Magna e estou ainda fora de mim, sob o efeito hipnótico da sua guitarra.
Não é tanto pela técnica, que é fabulosa. Isso seria (pasme-se!) demasiado banal. Nem tão pouco pela invejável capacidade de inovar, de alargar os horizontes do jazz e do seu instrumento, como poucos. Nem sequer pela forma admirável como Scofield se consegue renovar após mais de 30 anos de carreira discográfica. Prova insofismável de juventude e inteligência.
É sobretudo pela entrega. Verdadeiramente única.
Durante o espectáculo a sua guitarra transformou-se em parte integrante e essencial do próprio guitarrista. Uma fusão do homem e instrumento numa sublime metamorfose.
O resultado foi genial. E olhem que eu não acredito em génios (dos que brotam de lâmpadas ou das penas apressadas de escribas, que como eu, tentam em vão lavrar autos de emoções).
Mas acredito na genialidade. Na capacidade única do artista se despir esporadicamente da banalidade do cidadão comum e elevar-se, nas salas de espectáculos ou em qualquer outro local onde a arte, nas suas variadas formas, se materialize, perante os sentidos atónitos dos espectadores.
Hoje pude presenciar este fenómeno (quase paranormal).
Rendi-me à genialidade da obra do grande John Scofield e seus pares. Matt Penman no contrabaixo esteve exuberante (o neo-zelandês substituiu primorosamente o ausente Steve Swallow). Bill Stewart na bateria, poderoso e incansável. Phil Grenadier no trompete e fluguelhorn, um líder nos metais que soube elevar a actuação de Scofield a níveis estratosféricos, bem ajudado por Tom Olin e Frank Vacin, nos saxofones.
E sinto uma obrigação imperiosa de o registar (que mais posso fazer?).
Para que conste.

Vejam o vídeo do John Scofield Trio no Blue Note, NYC - Green Tea

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