sábado, 12 de abril de 2008

André Fernandes - Cubo


com Mário Laginha, Nelson Cascais e Alexandre Frazão
TOAP 2007
15/20

André Fernandes é um jovem guitarrista português, formado pela escola de jazz do Hot Club de Portugal (mas também pelo Berklee College of Music, onde foi bolsista em 1996). Desde então tem sido uma das figuras mais activas do panorama jazzistico nacional quer pelos discos que lançou desde 2002 (este é já o quarto, todos pela TOAP), quer pelos projectos em que se envolveu como sideman (onde se destacam o Lee Konitz Nonet, o Quarteto de Perico Sambeat, ou projectos com Maria João e a Orquestra Jazz de Matosinhos, entre outros), quer ainda pelos discos que ajudou a lançar, através da editora que fundou, a Tone of a Pitch, que tem tido um papel relevante na edição de obras de jovens músicos de jazz nacionais, como Bruno Santos, Demian Cabaud, Nelson Cascais, Nuno Ferreira ou Mário Franco, entre outros.
Este seu quarto disco, denominado Cubo, é um projecto ambicioso gravado no estúdio de Mário Barreiros, em Vila Nova de Gaia, mas misturado e masterizado em Nova Iorque, respectivamente por Pete Rende e Michael Perez, com produção do próprio André Fernandes. Conta com a colaboração de dois dos mais categorizados músicos nacionais, Mário Laginha no piano e rhodes e Alexandre Frazão na bateria, para além do jovem Nelson Cascais no baixo e contrabaixo e da participação ocasional de Tiago Maia na guitarra de 12 cordas e na voz.
É composto exclusivamente por originais, sete da autoria do próprio André Fernandes e um de Tiago Maia, o tema Foi-se Embora, que fecha o disco.
É uma obra que revela maturidade e onde, além das influências próprias do guitarrista e dos excelentes músicos que o acompanham, se sente a vontade criativa de um músico experiente e capaz de inovar.
Uma das faixas mais conseguidas é, em minha opinião, a balada acústica Perto, desenvolvida ao piano por Mário Laginha num crescendo criativo onde se vão juntando os restantes instrumentos, com destaque para um bom solo de contrabaixo de Nelson Cascais e claro, para o solo de guitarra acústica de André Fernandes, onde esporadicamente se vislumbram influências orientais, talvez indianas.
Também em Sal o disco atinge um dos seus pontos mais altos. Um tema longo e com uma apelativa cadência que abre caminho para um prolongado e belo solo de guitarra, bem marcado pelo piano e bateria, seguido de um espectacular solo de piano de Mário Laginha, que começa intimista (quase romântico) mas se desenvolve, salmodicamente, até atingir uma crescente complexidade onde os dotes técnicos do pianista são postos à prova de modo brilhante. Um solo que quase se diria que começa clássico, desenvolve-se contemporâneo, para terminar em blues…
Aliás existe um manifesto lado romântico neste disco, não apenas proveniente da pureza acústica do piano nestes dois temas (e da guitarra em Perto), mas também pelos laivos impressionistas expressos nos ambientes negros e algo conceptuais que se vislumbram em temas como Belzebu is in the Building e o próprio Sal.
Por outro lado os temas Not the Vibe, Dog Speak ou Trinta Dias fazem apelo a valores mais clássicos do jazz, onde o excelente trabalho de Alexandre Frazão na bateria e de Mário Laginha no Rhodes (em Not the Vibe e Trinta Dias) e no piano (em Dog Speak) servem de pretexto para o desenvolvimento por André Fernandes de solos inspirados carregados de efeitos, como é seu apanágio. Em Dog Speak são mesmo notórias algumas influências methenianas.
Em Vibes André Fernandes regressa à guitarra acústica, mostrando talento no desenvolvimento sozinho do tema ou acompanhado apenas pela bateria de Alexandre Frazão, antes de este se intensificar (e electrificar) pela adição do Rhodes, do baixo e da guitarra eléctrica (e até pelo uso do tambor insuflado por Alex Frazão).
O álbum fecha com Foi-se Embora de Tiago Maia, um tema interessante se bem que algo deslocado do resto do disco. Uma balada cantada por Tiago Maia em ritmo pop em que, apesar de alguma irreverência estrutural (que assegura apelatividade a um tema melodicamente limitado), o jazz está quase sempre ausente, se exceptuarmos o solo blues de André Fernandes.
No entanto este é seguramente um trabalho maduro de um excelente guitarrista de jazz.

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