quinta-feira, 10 de abril de 2008

Que Amor Não Me Engane


Paula Oliveira & Bernardo Moreira
18 de Outubro de 2007 – 23.00h
Hot Club _ Lisboa
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De regresso à “catedral” do jazz nacional, desta vez para assistir ao concerto de Paula Oliveira acompanhada pelo incontornável Bernardo Moreira.
Foi também uma oportunidade para ouvir, em primeira mão, algum do material incluído no próximo disco de Paula Oliveira (a editar já em Novembro), onde para além de dois temas de Zeca Afonso (Que Amor Não Me Engane e Os Índios da Meia-Praia), da Estrela da Tarde (que terá ficado de fora do último disco…) e de um fado popularizado por Mariza, Há Uma Música do Povo, ouvimos dois originais da cantora (um deles cantado em galego, Ardora) e vários temas incluídos no trabalho “Lisboa que adormece”.
O estilo de Paula Oliveira é inconfundível. Uma voz de grande amplitude, com uma rouquidão aplicada aos momentos que dela podem beneficiar e um vibrato sem exageros, é de uma limpidez e rigor técnico invejáveis. O som é marcadamente jazz, sendo aliás um dos projectos (dos vários actualmente em curso) que melhor consegue traduzir para a linguagem do jazz o património musical português dos anos 60 e 70, assim contribuindo para a preservação e divulgação dessa parte significativa da nossa memória colectiva.
A direcção musical é da responsabilidade de Bernardo Moreira, razão mais do que suficiente para justificar o sucesso da “tradução”. Por ele já passaram outros trabalhos semelhantes como o álbum “Ao Paredes Confesso” dedicado a Carlos Paredes ou ainda o projecto em curso com Cristina Branco dedicado a Zeca Afonso, e que terá para breve um disco editado, ambos igualmente conseguidos.
Destaque também para Léo Tardin no piano, com um estilo muito “contemporâneo”de interpretar o jazz, que imprimiu um cunho original ao projecto. Claramente de matriz europeia e afastado dos cânones norte-americanos, mostra-se mais influenciado pela música contemporânea francesa ou pelo jazz nórdico (que faz frequentemente com sucesso o casamento entre a música contemporânea e o jazz) do que por Thelonius Monk ou Oscar Peterson.
Destaco ainda a participação de João Moreira, o homem do som das baleias (como lhe chamou Paula Oliveira). Na verdade o uso de efeitos sonoros associados ao trompete e ao fluguel, que o mais jovem dos Moreiras trata com grande à-vontade, foi igualmente um contributo assinalável para o sucesso e originalidade do espectáculo e estamos em crer, do disco também.
Falta apenas falar de Bruno Pedroso que, uma vez mais, e sem primar pela exuberância, mostrou-se perfeitamente integrado com os restantes músicos, contribuindo pela solidez do seu trabalho para o total ambiente de confiança e conhecimento mútuo que o grupo apresentou, tendo mesmo terminado o concerto com um enorme e muito aclamado solo, também ele à imagem da sua actuação e personalidade musical: contido mas sólido e rigoroso, a mostrar que a discrição também pode ser uma virtude na música.
Fico ansiosamente à espera do disco…

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