quinta-feira, 17 de abril de 2008
TrioAngular
Bruno Santos
com Bernardo Moreira, Bruno Pedroso e Pedro Moreira
TOAP 2007
15/20
Bruno Santos é um jovem e talentoso guitarrista madeirense, uma das maiores promessas do jazz nacional actual. Nascido em 1976 no Funchal, iniciou os seus estudos no Conservatório local de onde transitou para o de Faro. Aí conheceu Zé Eduardo, o contrabaixista que já dirigiu a escola do Hot Club de Portugal, e começou a sua carreira ligada ao jazz. O passo seguinte foi naturalmente a escola de jazz Luís Villas-boas do HCP, em Lisboa, onde concluiu os estudos em 2000 e começou a leccionar em 2001.
Como líder, este é o segundo álbum que edita (depois de Wrong Way em 2005) ambos pela TOAP de André Fernandes (seu antigo professor na escola do Hot).
TrioAngular foi gravado entre o estúdio de Paulo Ferraz, no Funchal, a mítica sala do Hot Club na Praça da Alegria e o estúdio da TOAP, também em Lisboa, com produção do próprio Bruno Santos, mistura e masterização de André Fernandes. Conta com a participação de Bernardo Moreira no contrabaixo, Bruno Pedroso na bateria e ainda de Pedro Moreira no saxofone tenor em três temas: Glue, 343 e Soul Eyes.
Comparativamente a Wrong Way é um disco mais ambicioso, melhor produzido e nitidamente mais maduro. Desde logo porque Bruno Santos assina oito dos dez temas (os outros dois são Think of One de Thelonious Monk e Soul Eyes de Mal Waldron, com arranjos do próprio Bruno Santos). Mas também porque o guitarrista arrisca consideravelmente mais neste trabalho. Ao invés de buscar “protecção” num ensemble que, de alguma forma, assegure de forma distribuída a responsabilidade criativa e interpretativa do disco, aposta numa formação em trio (como referi apenas em três temas aparece o saxofone de Pedro Moreira) em que a guitarra assume total protagonismo e as maiores despesas melódicas e ocasionalmente harmónicas, bem secundada por uma secção rítmica composta pelo contrabaixo e a bateria. O resultado pode parecer por vezes minimalista, mas a guitarra de Bruno Santos soa maravilhosamente bem, como nunca conseguiu soar em Wrong Way.
Bruno Santos tem um fraseado musical muito próprio, rendilhado e sedutor, verdadeira filigrana na forma rica e delicada como se apropria dos temas. Ocasionalmente busca referências nos ritmos sul-americanos, particularmente na bossanova. Mas além de uma extraordinária técnica mostra ainda um assinalável talento como compositor e arranjador (é ele o pulmão por detrás dos recentes projectos do Septeto do Hot), sem contar com uma humildade e simpatia verdadeiramente ímpares.
Porém este TrioAngular não é um disco fácil. Longe disso. É uma obra de grande qualidade mas que exige tempo e paciência para se mostrar em toda a sua plenitude. Há temas que seduzem à primeira abordagem como Submerso (talvez o mais apelativo de todos), Aqui outra vez ou Hexágono. Mas na sua maioria, o carácter mais intimista e por vezes minimalista dos arranjos (quando comparado com os do quarteto Bruno Santos e Filipe Melo), dificulta a empatia imediata e exige do ouvinte um esforço adicional para conseguir penetrar no universo musical que lhe é proposto. Mas esse esforço é amplamente recompensado pelo brilhantismo dos solos, reforçado pelos contrapontos de Bernardo Moreira no contrabaixo e por vezes de Bruno Pedroso na bateria.
Uma pérola escondida este TrioAngular. Mas como sucede frequentemente nesses casos, são as que acabam por revelar maior pureza e brilho.
Á falta de vídeos deste TrioAngular, reveja-se e oiça-se o belíssimo trabalho do guitarrista madeirense no Angra Jazz, integrado no trio de Filipe Melo (com Bernardo Moreira no contrabaixo). Os temas são Moose the Mooche; When Lights Are Low e Kells & Blues
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