quinta-feira, 10 de abril de 2008

O Mestre


Joe Lovano Quartet
19 de Outubro de 2007 – 21.30h
Aula Magna – Lisboa
Uguru
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Na Aula Magna da Universidade de Lisboa o Professor Joe Lovano compareceu sorridente e bem disposto, com o à-vontade de quem já correu o mundo com o seu sax, tocou nas mais prestigiadas salas, com os mais célebres mestres, já experimentou tudo o que havia para experimentar e pode hoje, com toda a sabedoria acumulada, dar-se ao luxo de tocar o que lhe vai na alma, com prazer e por puro prazer, sem ter nada a provar a ninguém, tantos são os prémios e reconhecimentos recolhidos ao longo da sua vasta carreira.
A acompanhá-lo dois outros mestres, compagnons de route, também eles enciclopédias vivas do jazz norte-americano: James Weidman no piano e Dennis Irwin no contrabaixo; bem como um menino-prodígio do jazz cubano na percussão, Francisco Mela.
O resultado era previsível. O mestre abriu o livro em forma de saxofone e deu uma daquelas lições inesquecíveis de que os afortunados ouvintes vão falar por muitos e longos anos, legando a experiência aos netos abismados. Do free-jazz sessentista, em estado puro ou elevado ao supremo estado de suite, ao afro-cuban, passando pelas baladas de cinquenta e pelos blues renascidos de noventa, houve até tempo para originais incursões pelos ritmos nativo-americanos, mostrando bem que as fronteiras do jazz são aquelas que a inspiração e o talento dos músicos quiserem traçar.
Na prédica foi acolitado com parcimónia pelos dois doutores que o acompanhavam, e nervo pelo jovem assistente caribenho. Os primeiros falaram de cátedra com toda a pompa e circunstância que a sua respeitosa posição lhes permite. O segundo gritou bem alto os seus méritos, provando que a sua escolha pelos mestres não é fruto do acaso, mas uma justíssima conquista totalmente creditável ao seu enorme talento.
No final ficou a gratificante sensação de ter vivido um momento único. A consagração “honoris causa” de um grande mestre. Daqueles que a posteridade vai lembrar e que os discípulos não vão esquecer.
Nesta noite, na sala enorme e fria da Aula Magna, fomos mais de mil discípulos, rendidos às belas frases musicais do mestre. E seremos outros tantos a lembrá-las em nome do jazz… e da Música, a sublime arte de transmitir emoções.

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