quinta-feira, 10 de abril de 2008
Aka Moon
Aka Moon
12 de Fevereiro de 2008 – 21.30h
Grande Auditório da Culturgest – Lisboa
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Confesso que não sou um grande apreciador do fenómeno musical em tempos denominado por jazz/rock e que atraiu músicos tão importantes e influentes quanto Miles Davis e Chick Corea. Porém estes belgas puseram-me a reconsiderar os pressupostos dessa minha antiga antipatia… Na verdade eles já ultrapassaram há muito o conceito de jazz/rock, embrenhando-se por caminhos de fusão nunca dantes trilhados e que vão buscar elementos tão dispares quanto os ritmos tradicionais africanos, objecto de intenso estudo e execução pelo trio, durante uma longa estadia com os pigmeus da selva equatorial africana que deram o nome ao grupo, Aka, a capacidade de improvisação do jazz e a força de comunicação musical do rock sinfónico, quando bem interpretado, com paixão, como é indubitavelmente o caso. A música de Fabrizio Cassol, Michel Hatzigeorgiu e Stéphane Galland é directa e poderosa. Atinge-nos como um murro no estômago, logo aos primeiros acordes! Mas ao invés de doer, deixa-nos viciados e a pedir mais e mais, incapazes de resistir à enorme capacidade de encantar que estes druidas belgas (da escola africana…) não se cansam de demonstrar, tema após tema. A configuração em trio, com a bateria e o baixo eléctrico acompanhados de um único e aparente instrumento solista, o saxofone, antecipa alguma contenção polifónica, a qual é inteiramente desmentida assim que os músicos começam a tocar. Desde logo porque o saxofone de Fabrizio Cassol transmite tudo menos contenção. É um músico exuberante de amplos recursos interpretativos que usa de forma abundante, intensa e directa, incutindo uma enorme paixão a cada nota que sai do seu instrumento e demonstrando uma extraordinária integração com os outros membros do grupo. A sua música exprime força, virilidade de uma forma quase telúrica, de tão enraizada que está na tradição musical de várias paragens. Mas sem grandes subtilezas… é música em estado puro, forte, violenta mesmo, por vezes, embora executada primorosamente e com uma invejável capacidade interpretativa. A acompanhá-la está o baixo eléctrico de Michel Hatzigeorgiu, complemento directo de todos os predicados atrás enunciados. Este virtuoso do baixo toca-o como se de uma guitarra se tratasse, de tal modo consegue extrair-lhe sonoridades nos mais variados registos e acompanhar harmónica mas também melódica e ritmicamente os outros instrumentos. Este baixista é uma das principais razões pelas quais o saxofone de Cassol aparece tão forte e viril na música dos Aka Moon, contribuindo decisivamente para a identidade musical do grupo e para a originalidade do som por ele produzido. Resta falar de Stéphane Galland, enérgico e virtuoso baterista que, sempre de forma vigorosa e potente, imprime um cunho dinâmico ao som produzido pelo trio. Da sua bateria sai grande parte do envolvimento musical dos Aka Moon, seja pela variedade rítmica que o caracteriza seja pela fonte infindável de energia que a sua bateria confere à actuação. A música dos Aka Moon é verdadeiramente prodigiosa porque é autêntica, contagiante e soberbamente interpretada. Além do mais é profundamente original, coisa rara nos tempos que correm… Se Garbarek toca a mãe de todas a músicas, no sentido em que se inspira no que de mais autêntico e universal a música possui, então os Aka Moon tocam o pai! De tal modo a primordialidade da sua obra inspira força, poder e raça. Sem dúvida um grande espectáculo de um trio sensacional de músicos, injustamente desconhecidos das massas, mas reconhecidamente agraciados pelos seus pares.
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