quinta-feira, 10 de abril de 2008

Sereia Crioula


Mayra Andrade
24 de Fevereiro de 2008 – 21.00h
São Luiz Teatro Municipal – Lisboa
UGURU
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A nova diva da música cabo-verdeana presenteou os portugueses com uma digressão nacional que incluiu este concerto no São Luiz, no qual se apresentou acompanhada de José Luís Nascimento, na bateria e percussão, Ricardo Feijão, na viola baixo, Nelson Ferreira e Tarcísio Gondim, nas violas, cavaquinhos e guitarra portuguesa e ainda da convidada Celina de Piedade, no acordeão.
O repertório incidiu sobretudo nos temas constantes do seu único disco, Navega, aos quais se juntaram alguns originais, porventura em ante estreia do previsível lançamento para breve do novo disco e ainda de um belíssimo fado original, em jeito de homenagem à cidade de Lisboa, e de uma velha morna, no primeiro encore, que trouxe a nostalgia atlante até à antiga sala lisboeta.
Seguríssima na voz e na presença, belíssima como poucas, Mayra soube encantar a plateia lisboeta com o seu canto melodioso de sereia crioula, ao qual juntou, sempre que pôde, um toquezinho de swing, proveniente da sua apreciável capacidade de improvisação e scat singing, à volta dos temas originais mas profundamente enraizados na cultura cabo-verdiana, que compõem o seu reportório, parcialmente composto por si.
Os músicos estiveram bem a acompanhá-la, apesar de alguns pequenos problemas técnicos terem impedido, sobretudo durante os temas iniciais do espectáculo, a percussão, bem entregue a José Luís Nascimento, de brilhar ao nível que merecia. Felizmente foram paulatinamente sendo resolvidos, a tempo de este brindar o público com um excelente solo de percussão, pleno de sensibilidade e bom gosto. Também as guitarras estiveram bem entregues, alternando os seus intérpretes em solos que enriqueceram o universo musical de Mayra Andrade com um sabor tropical que a sua deslumbrante imagem, só por si, já inspira. Em bom nível esteve também a viola baixo acústica (a fidelidade às origens assim obriga) e ocasionalmente a eléctrica entregues a Ricardo Feijão e bem assim a participação ocasional da sempre bem disposta Celina da Piedade, que até cantou com Mayra, fazendo coro nos temas mais emblemáticos da jovem cantora, nascida em Cuba, mas profundamente cabo-verdiana no sentimento expresso pelas suas músicas.
Foi mais uma belíssima noite musical de Cabo Verde, servida por uma das suas mais jovens, mais belas, mas também mais expressivas intérpretes, num São Luiz esgotado e rendido aos encantos da bela Mayra. Eu pelo menos rendi-me…

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