quinta-feira, 10 de abril de 2008

Julian Argüelles


Julian Argüelles Quarteto
21 de Março de 2008 – 23.00h
Hot Club de Portugal – Lisboa
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Afinal este quarteto de Julian Argüelles foi um quinteto, pela adição de última hora da guitarra de André Fernandes ao conjunto… Deste modo seria de antecipar uma reedição do memorável concerto de Novembro de 2007, com a particularidade do piano estar entregue a Bernardo Sassetti ao invés de Mário Laginha. Se nalguns temas o paralelismo foi evidente, particularmente nos mais fortes que encerraram cada um dos sets (5th & Broadway no primeiro e Evan’s Freedom Pass no segundo) onde a banda puxou dos galões e rubricou impressionantes apresentações plenas de virtuosismo e entrega (com Alexandre Frazão a puxar pelos restantes em solos carregados de classe), já a inclusão de dois originais lusitanos, Smoke de André Fernandes e um tema de Bernardo Sassetti, deram um toque de novidade à apresentação. Por outro lado a presença deconstrutiva do piano de Sassetti foi suficiente, só por si, para imprimir um toque de originalidade contemporânea à música deste improvisado quinteto. Onde Laginha é virtuosismo e swing, Sassetti é irreverência e ousadia interpretativa. Os seus solos são intimistas, rebuscados e fortemente influenciados pela música clássica e contemporânea. O resultado é um som novo e ousado que tem em Alexandre Frazão um intérprete de excepção (ou não fosse ele o baterista do trio de Sassetti, uma das mais originais formações de jazz lusitanas) e que os restantes músicos acompanharam com assinalável talento e capacidade de entrosamento. A guitarra de André Fernandes acompanhou a irreverência interpretativa de Sassetti e Frazão com riffs e solos capazes de enriquecer o som mais minimalista que a caracteriza. Julian Argüelles casou de forma superior o seu universo musical com essa contemporaneidade, alternando baladas inspiradas, onde a sua superior técnica instrumental e criativa se mostraram em pleno com temas arrojados de free jazz, geralmente impulsionados pelas poderosas arrancadas de Frazão na bateria, bem acompanhadas por um inspirado Bernardo Moreira no contrabaixo. O resultado foi um concerto de enorme qualidade, com uma entrega e virtuosismo assinaláveis, como bem constatou e aplaudiu o exigente público do Hot (hoje, com uma das maiores enchentes que já presenciei), que bem merecia ser imortalizado em disco. Quem sabe, agora que a iconográfica sala da Praça da Alegria se prepara para lançar a sua marca no mercado discográfico, numa colecção “Ao vivo no Hot” que legará seguramente registos notáveis à posteridade, talvez este quinteto de Julian Argüelles seja um dos primeiros projectos a alcançar os escaparates das Fnac deste país… Bem o merecia.

Rever o video Broadway Blues

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