quinta-feira, 10 de abril de 2008

Alucinante


Joel Xavier
13 de Dezembro de 2007, 22.00 h
Jardim de Inverno do Teatro São Luiz – Lisboa
***,5

Joel Xavier é, aos 33 anos, um reputado guitarrista internacional, ainda que pouco conhecido no nosso país, onde nasceu no preciso dia da revolução dos cravos. A demonstrá-lo esteve a pouca adesão do público a este concerto, o primeiro de uma série de três no Jardim de Inverno do São Luiz, que servirão de base à gravação de um disco e um DVD. No entanto esta primeira noite esteve um pouco fria, sobretudo no início… Não obstante, Joel Xavier “abriu o livro” e mostrou a sua exuberante forma de tocar e viver a guitarra! Este rapaz é um verdadeiro desafio às leis da física, produzindo o maior número de notas na guitarra por minuto que já tive ocasião de presenciar! A um ritmo verdadeiramente alucinante… Mas, será um grande guitarrista? Na música e particularmente na guitarra, será rapidez sinónimo de qualidade? Esta é a grande questão ao ouvir tocar Joel Xavier. Não há dúvida de que é um guitarrista prodigioso, mas será a música que produz consentânea com as suas infindáveis capacidades técnicas, cujo rigor aliás me sugerem um prognóstico reservado? Estou em crer que podia e devia, face à já longa carreira (apesar da juventude), mostrar mais! Mais definição num estilo pessoal de fazer música (afinal intitula-se guitarrista de jazz que já tocou e gravou com Ron Carter e Thoots Thielemans, entre outros, mas dificilmente a sua obra se pode inserir no jazz…); maior contenção na exibição de talento, que deverá refrear e dosear nas adequadas porções e de acordo com as exigências de cada tema; maior gosto e cuidado nos arranjos e nas composições que, na maioria dos casos, parecem simples veículos para desbobinar solos a um ritmo frenético, numa ânsia de conquistar rapidamente o público pela simples exibição de capacidades técnicas notáveis. Enfim, parece-me que falta em música, em sensibilidade, em gosto, o que sobra em técnica, que não me canso de repetir, é verdadeiramente invulgar. Falta sobretudo maturidade à música de Joel Xavier, porque talento, esse existe e em doses industriais… Espero sinceramente que este extraordinário musico português encontre o seu caminho no jazz, se não noutro género, mas que assente definitivamente num estilo pessoal e sincero de fazer música, nem que para isso recorra a terceiros para a composição e/ou arranjos, sob pena de se perder este enorme talento em puras exibições gratuitas de execução na guitarra, qual fenómeno de circo, ao invés de conquistar o público com as suas inegáveis qualidades. Mas essa maturidade parece tardar…
A acompanhá-lo estiveram Gustavo Roriz no baixo eléctrico e Milton Batera na bateria, melhor o primeiro do que o segundo, mas ainda assim demasiado ofuscados pelo sufocante protagonismo de Joel Xavier. O reportório assentou em originais, demasiado colados contudo a estereótipos brasileiros e africanos, simples veículos, como já disse, à exibição quase gratuita das capacidades técnicas de Joel Xavier na guitarra.

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