quinta-feira, 10 de abril de 2008

Enrico Rava


Quinteto Enrique Rava
16 de Fevereiro de 2008 – 21.00h
Grande Auditório do CCB – Lisboa
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Depois de uma carreira como sideman de alguns dos mais emblemáticos músicos da década de 60 e inicios de 70, tais como Gato Barbieri, Mal Waldron, Lee Konitz ou Steve Lacy, Enrico Rava é contratado por Manfred Eicher da ECM, na década de 70 e inicia uma brilhante carreira como solista que o transforma num dos mais emblemáticos jazzman da Europa, condição que mantém até hoje. Com um estilo muito personalizado, que alterna um ambiente cool próximo de Miles Davis, com uma notável capacidade de improvisação, própria do free jazz, Rava revela-se igualmente um compositor exímio em que o universo jazz se casa, de forma brilhante, com a música italiana da sua origem. Embora seja um autodidacta com uma confessada aversão ao ensino, o trompetista italiano tem servido assiduamente como trampolim para o lançamento de muitos jovens e talentosos músicos, seus compatriotas, como atesta a formação deste quinteto (o dos consagrados, pois Rava mantém outro composto por jovens promessas do jazz italiano) onde pontificam músicos, no mínimo, 25 anos mais jovens do que o trompetista.
Nesta apresentação do CCB, construída a partir do seu último trabalho para a ECM, The Words And The Days, integraram o quinteto Gianluca Petrella no trombone, Andrea Pozza no piano, Rosario Bonaccorso no contrabaixo e o português João Lobo na bateria, em substituição do ausente Roberto Gatto.
O destaque do grupo vai inteiramente para o jovem trombonista, senhor de uma presença notável, pela ousadia e originalidade interpretativa, que soube contrapor ao reconhecido virtuosismo do trompetista de modo notável e enriquecedor do trabalho de ambos. Um músico de extraodinária qualidade que tem seguramente muito ainda para dar ao jazz, tal a criatividade e capacidade de improvisação demonstrada. Em excelente plano esteve também o contrabaixo entregue a Bonaccorso, seguríssimo, criativo e responsável por grande parte da coesão e swing demonstrados pelo quinteto, sem desmerecer o excelente trabalho do jovem baterista português João Lobo, com uma oportunidade de ouro aproveitada com talento reconhecido pelo cabeça de cartaz da noite. Também Pozza rubricou desempenho à altura dos seus pares no piano, embora um pouco relegado para segundo plano, quer pelo maior protagonismo assumido pelos metais, quer pelo seu estilo mais conservador, um pouco deslocado face à ousadia dos solos de Petrella que Rava acompanhou de modo elegante e personalizado.
Nota menos positiva para o som, que esteve com um eco um pouco excessivo para o meu gosto… A sala e os intérpretes prestavam-se a um tratramento mais intimista que, seguramente, traria um interesse redobrado ao concerto. Não obstante foi uma noite memorável do CCB.

Oiçam o tema Spleen por Enrico Rava & Richard Galliano

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