sexta-feira, 11 de abril de 2008

Carlos Martins no Hot


Quarteto Carlos Martins
10 de Abril de 2008 – 23.00h
Hot Club de Portugal – Lisboa
****

O alentejano Carlos Martins (nasceu em Grândola, em 1961) é hoje um dos mais importantes saxofonistas nacionais, fundador do Quinteto Maria João e do Sexteto de Jazz de Lisboa, com cinco discos gravados, desde 1995, como líder. Além de intérprete exímio do saxofone (tenor e soprano) Carlos Martins é um importante compositor com uma ampla obra gravada onde cruza, como poucos, o universo musical tradicional português com o jazz.
Frequentador assíduo do palco do Hot (desde há 25 anos, segundo o próprio) escolheu para acompanhá-lo neste concerto (o primeiro de três) o consagrado Alexandre Frazão na bateria, bem como os jovens Júlio Resende no piano e o argentino Demian Cabaud no contrabaixo, aos quais se juntou André Fernandes na guitarra, convidado de última hora que transformou o programado quarteto num quinteto.
O reportório incidiu só sobre temas originais de Carlos Martins aos quais foram dados novos arranjos pelo compositor, adaptando-os às especificidades da formação em palco.
Apesar de um início um pouco nervoso (parece que, afinal, 25 anos de carreira não chegam para eliminar o nervoso miudinho dos grandes músicos, na hora da verdade…) Carlos Martins agarrou bem nos temas e rubricou uma actuação notável, nos solos, inventivo e tecnicamente evoluído, nos arranjos, perfeitamente adaptados à sonoridade da sua obra musical e ao inegável talento dos músicos em palco, e bem assim na direcção musical, segura e sabendo dar protagonismo aos colegas de palco quando a ocasião assim o impunha.
Não posso porém deixar de realçar o extraordinário trabalho de Alexandre Frazão na bateria. Foi o pulmão da actuação desta noite, assinando nada menos de que três solos (um deles verdadeiramente fenomenal, no tema “O Infante”) numa actuação fantástica, daquelas só ao alcance de músicos de excepção. Parafraseando Fernando Trueba a propósito do pianista dominicano Michel Camilo, só posso dizer que, cada vez que vejo Alexandre Frazão actuar, tenho a sensação de ser testemunha de um prodígio, de tal modo este luso-brasileiro consegue encantar as audiências com a sua abordagem fenomenal da percussão. Um músico extraordinário.
Bem esteve também Demian Cabaud no contrabaixo. Seguro, fantasista quando era preciso, entendendo-se às mil maravilhas com Alex Frazão na bateria e assegurando com classe o comando rítmico da apresentação quando se impunha. Apesar de ainda jovem (editou recentemente o seu primeiro disco como líder), este argentino está um contrabaixista de mão cheia. Seguramente uma mais valia para o património musical e jazzistico nacional.
Mais discreto esteve Júlio Resende. Apesar de ser, indiscutivelmente, um dos maiores valores do piano que existem presentemente em Portugal (seguramente o melhor da sua geração), mostrou-se um pouco preso à pauta, talvez por não estar tão ambientado com o reportório de Carlos Martins, disso se ressentindo a sua actuação, sobretudo na criatividade e mesmo nalguma exuberância que a costumam caracterizar. Ainda assim exibiu mestria nalguns solos e mostrou uma incansável entreajuda nas harmonias, em prol do som do grupo, que resultou seguramente mais rico pela sua presença.
Falta apenas falar do convidado de última hora na guitarra, André Fernandes, que esteve como já nos habituou: seguro, personalizado, com uma presença inconfundível na guitarra que enriquece o som do grupo e uma invejável capacidade de improvisação nos solos. É notável a pertinência com que André Fernandes se integra nas mais variadas formações (por vezes à ultima hora, como parece ter sido o caso), com rigor, à-vontade e valor acrescentado. Outro grande músico da escola do Hot…
O som a cargo de Luís Hilário, esteve excelente, como é aliás costume no Hot.
Um excelente concerto.

Sem comentários: