quinta-feira, 10 de abril de 2008

João


Maria João Apresenta “ João”
12 de Outubro de 2007 – 22.00h
Centro Cultural Olga Cadaval – Auditório Jorge Sampaio – Sintra
Sintra Quórum
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Concerto de apresentação do novo trabalho discográfico de Maria João no Olga Cadaval, em parceria com Mário Delgado nas guitarras (igualmente responsável pelos arranjos e direcção musical do projecto), com Alexandre Frazão na percussão, Damien Cabaud no contrabaixo e a surpresa da inclusão da harpa de Eleonor Picas, no disco e no espectáculo, talvez a compensar a exclusão do piano omnipresente na obra de Maria João, quase sempre entregue ao seu alter ego musical Mário Laginha. Este foi aliás o primeiro trabalho gravado por Maria João após a interrupção (talvez apenas temporária…) da colaboração com o brilhante pianista português.
Nem por isso deixa de ser uma obra de colaboração, agora com Mário Delgado e as suas guitarras a assumir o co-protagonismo que até aqui pertenceu ao piano e a Mário Laginha. No geral a mudança, embora evidente, não descaracteriza o trabalho de Maria João, uma cantora que consegue sempre, em quaisquer circunstâncias, impor a sua marca pessoal e genuinamente original em tudo o que faz.
Por outro lado, Mário Delgado é também um experimentalista, tecnicamente exuberante, que se enquadra perfeitamente no contexto musical de Maria João. O som ficou marcadamente mais eléctrico e distorcido, mas ainda assim reconhecível à distância pela personalidade forte da cantora.
A percussão ficou, como sempre, a cargo do brilhante Alexandre Frazão, colaborador antigo da cantora e do pianista Mário Laginha (fazendo parte integrante e fundamental do trio deste). Novidade foi Damien Cabaud no contrabaixo em substituição do habitual Yuri Daniel. Músico competente e seguro, o jovem argentino mostrou-se à altura do chamamento e esteve irrepreensível, mostrando mesmo, a espaços, competência alargada nos momentos de solo que lhe foram entregues.
Mas a maior surpresa foi a presença da harpa de Eleonor Picas, que tanto quanto me recordo, é novidade absoluta na obra da cantora. É certo que a ausência do piano abriu espaço para a presença de outro instrumento de cordas, mas a direcção musical de Mário Delgado poderia fazer crer que as cordas seriam apenas as guitarras e não a pouco usual harpa. Na verdade, a predilecção de Delgado pelo som eléctrico trabalhado torna a presença da harpa muito pertinente, pois assegura aquele ambiente de cordas acústico que a música de Maria João habitualmente contém (pelo piano). Mostra-se mesmo fundamental no acompanhamento de algumas baladas, garantindo a necessária riqueza harmónica que a ausência do piano poderia comprometer. Um aposta ganha sendo de retirar o chapéu a Eleonor Picas e ao seu talento, discreto mas extremamente eficaz, neste espectáculo.
Maria João como sempre foi exuberante. É uma mulher com as emoções à flor da pele, mas de uma autenticidade que tudo perdoa, tanto a cantar como a falar com o público ou com os músicos. A sua voz é um poderoso instrumento que ela usa de modo abundante e experimentado, na expressão de tudo o que lhe vai na alma. Sabe como poucas expressar-se musicalmente e ouvi-la ao vivo é uma experiência de partilha de emoções única e irrepetível.
Uma grande senhora da música portuguesa. Mesmo quando interpreta canções brasileiras (com sotaque nordestino), acompanhadas por ritmos africanos (ou não tivesse Moçambique a correr-lhe nas veias…).

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