quinta-feira, 10 de abril de 2008

Jazz do "Al-Andaluz"


Ficções – Rui Luís Pereira “Dudas”
21 de Fevereiro de 2008 – 23.00h
Hot Club de Portugal – Lisboa
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Um projecto que conta já com quase vinte anos de percurso (com três álbuns entretanto gravados) mas que permanece quase desconhecido do público. Com enorme injustiça refira-se. É lamentável o pouco interesse demonstrado pelas editoras (o último disco foi editado pelo autor e esgotou-se em poucos meses…), numa época em que o jazz conquista novos públicos, ano após ano, por este projecto de fusão, extremamente meritório, que alia o jazz aos sons mediterrânicos, sejam eles oriundos de Portugal, da Andaluzia ou do Magreb. Quase exclusivamente baseado em originais do guitarrista, líder do projecto, Rui Pereira “Dudas”, ouviu-se também uma bonita versão de um tema do libanês Rabih Abou-Khalil, mostrando a importância da música magrebina no universo musical destas “Ficções”. Alternando entre a guitarra de 12 cordas e a de 6, originalmente acústicas mas amplificadas, “Dudas” mostrou-se um exímio executante de ambas, com um gosto muito especial pela fusão, inspirando-se no universo musical tradicional ibérico, incluindo o do Al-Andaluz. Mais impressionante ainda foi a sua capacidade de composição traduzida numa dezena de temas que, de forma rica, expressiva e apelativa, nos transportaram até um mundo musical novo e original, que combina elementos tão dispersos quanto o folclore lusitano e norte-africano, o flamenco e claro está o jazz, sem esquecer algumas incursões por terras brasileiras de onde surgiram contagiantes ritmos de choro e de baião. A acompanhá-lo estiveram os brasileiros Guto Lucena, no saxofone alto e na flauta, em excelente plano quer técnico quer na capacidade de improvisação demonstrada, contribuindo decisivamente para a original sonoridade do grupo, e Alexandre Frazão, sempre fenomenal na bateria, aqui sentindo-se como peixe na água, com o caminho aberto para as suas extraordinárias e infindáveis capacidades criativas na percussão. No baixo eléctrico e contrabaixo ouviu-se o italiano Massimo Cavalli, mais discreto mas demonstrando segurança e boa integração neste universo musical de “Dudas”. Finalmente no piano mostrou talento Filipe Raposo em solos bem conseguidos e integrados neste projecto assumidamente de fusão, mais rigorosos do que exuberantes mas ainda assim bem providos da criatividade jazzistica que se impunha. Uma viagem às mil e uma noites do jazz al-andaluz, com paragens obrigatórias em terras de Vera Cruz, pela mão segura de Dudas e dos seus pares. E deixou saudades.

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