quarta-feira, 9 de abril de 2008

Simplesmente... João


Maria João
João
Universal
Abril 2007
16/20

Um trabalho composto por 14 temas saídos do cancioneiro popular brasileiro, mas com a (enorme) particularidade de 9 deles serem cantados em português sem sotaque… É ainda o primeiro disco de Maria João, em muitos anos, sem Mário Laginha, e sem piano também! A substitui-lo aparece a harpa de Eleonor Picas, o que não deixa de ser uma originalidade no panorama jazz (ou pop) nacional (e internacional) …
O álbum conjuga registos muito diversos, desde os mais intimistas e sussurrantes como Meu Namorado (Edu Lobo/Chico Buarque) e A Outra (Marcelo Camelo), até ao explosivo ECT de Marisa Monte e Carlinhos Brown, ganhando assim em diversidade o que porventura perdera em homogeneidade.
Contando com a direcção musical de Mário Delgado, que igualmente se ocupa das guitarras (ocasionalmente ajudado por Cláudio Ribeiro, no violão de nylon), e conhecendo o carácter experimentalista do excelente guitarrista de jazz, seria de esperar um som muito mais eléctrico e distorcido do que aquele que a cantora nos habituou nas suas colaborações com Mário Laginha. Tal efectivamente sucede em temas como Partido Alto, de Chico Buarque, o já citado ECT ou Canto de Ossanha, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, mas a inclusão da harpa trouxe um novo universo acústico e harmónico ao disco, permitindo que em temas como Rosa, de Pexinguinha (talvez o tema mais belo e conseguido de toda a obra), Valsa Brasileira, de Edu Lobo e Chico Buarque ou os já citados A Outra e Meu Namorado, o som surja límpido, acústico e suave.
Outra característica dos arranjos de Mário Delgado foi o “puxar” para o blues de vários temas, aparentemente distantes no original desse género musical. Foi assim em Retrato em Branco e Preto, de Tom Jobim, que aqui aparece muito mais rápido no tempo com um belo trabalho na guitarra/blues de Mário Delgado, e sobretudo em Dor de Cotovelo, de Caetano Veloso, O Silêncio das Estrelas, de Lenine (outro dos temas mais conseguidos do álbum), e o já citado A Outra, de Marcelo Camelo.
Houve ainda espaço para dois choros, um mais tradicional, Escurinha (Geraldo Pereira/Arnaldo Passos) e outro mais tropicalista no arranjo, No Tabuleiro da Baiana (Ary Barroso), e para algumas experimentações, pela voz de Maria João em Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu) e na guitarra eléctrica de Mário Delgado em Choro Bandido (Edu Lobo/Chico Buarque).
Um belo trabalho de Maria João e Mário Delgado, que tive oportunidade de ver e ouvir ao vivo no Olga Cadaval, com destaque ainda para Alexandre Frazão na bateria, Yuri Daniel no contrabaixo, Filipe Deniz na percussão e Miguel Ferreira, no rhodes.
No ano de todas as colaborações musicais luso-brasileiras, esta ficará sem dúvida como uma das mais originais e conseguidas…

5 comentários:

Nuno Monteiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nuno Monteiro disse...

Estive presente neste magnifico conserto.

Após ler o comentário … no meu entender falta apenas referir a presença da Eleonor Picas na harpa esteve muito bem, ao tocar sons capazes de embalar uma criança por mais energética que se possa imaginar (passados alguns dias deste conserto estive a privar um pouco com a Eleonor numa apresentação de serviços musicais que ela presta um pouco diferentes do que é habitual)

Nuno Monteiro disse...

... os ouvintes são mas a razão dos ouvintes é que são outras

Nuno Monteiro disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Nuno Monteiro disse...

Está equivocado! os ouvintes são ouvintes ! o que pode por em causa é o motivo de serem ouvintes … ehehehe