quarta-feira, 9 de abril de 2008

A Sereia


La Serena – Teresa Salgueiro & Lusitânia Ensemble
16 de Fevereiro de 2007, 22.00h
Centro Cultural Olga Cadaval – Auditório Jorge Sampaio - Sintra
Éter - ****,5

Numa noite chuvosa de Inverno, em Sintra, tivemos o privilégio de assistir à estreia mundial de um novo projecto musical que envolve a divina Teresa Salgueiro, a inconfundível voz dos Madredeus, e o grupo Lusitânia Ensemble, liderado pelo violinista Jorge Varrecoso, igualmente responsável pelos arranjos (excepto dois, aliás sublimes, do contrabaixista e pianista Duncan Fox: Avec le Temps de Léo Ferré e Vuevo al Sur de Astor Piazzola) e do qual fazem igualmente parte António Figueiredo (violino), Ventzislav Grigorov (viola), Luís Claude (violoncelo) e Ruca (percussão). Um projecto que não inclui ainda qualquer disco (embora seja previsível para breve) e que vai alicerçar-se na estrada com concertos já marcados até Junho em Espanha, Croácia, França, Brasil, Colômbia, Venezuela e Argentina entre outros.
Embora fosse perceptível a juventude do projecto (sobretudo na escolha e disposição do reportório, já que os arranjos, as interpretações e a sublime voz de Teresa Salgueiro estiveram absolutamente irrepreensíveis), é evidente que vai tornar-se um novo embaixador da música portuguesa no estrangeiro, de tal forma está talhado e vocacionado para o sucesso. Teresa está divinal no papel da sereia que viaja de costa em costa cantando (num sotaque invejável…) nas línguas dos portos onde acosta. Na memória ficam, para além das incursões no fado, os temas africanos (lindíssima na morna e arrebatadora na interpretação do tema “Amanhã” do Duo Ouro Negro – repetido aliás no terceiro e último encore), os arranjos de Duncan Fox ambos notáveis (Avec le Temps e Vuelvo al Sur), o tema Unforgettable de Nat King Cole (o primeiro encore) e as abordagens muito conseguidas de Tom Jobim e de Edith Piaf, entre outros. Mas também Jorge Varrecoso e o seu ensemble estão de parabéns. Se os arranjos de Duncan Fox se destacaram, os seus não lhe ficaram atrás, num estilo bem mais original até. Uma boa parte da alma do projecto vive precisamente do precioso trabalho deste violinista nos arranjos, que conseguiram pôr um quinteto de cordas a tocar fado, mornas, o tico-tico no fubá ou rancheras mexicanas. E com uma vivacidade invejável (o homem aliás é de uma exuberância contagiante, que muito contribuiu para a boa disposição do público e dos músicos em palco). Em suma, um projecto ganhador com momentos sublimes. Teresa Salgueiro esteve apaixonante. Jorge Varrecoso, Duncan Fox e companhia estão de parabéns, pelo primoroso trabalho de arranjos e interpretação. Faltou apenas a rodagem de mais alguns meses de espectáculos para tudo estar perfeito. Mas como compensação foi um privilégio estar lá… na estreia absoluta.

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