quarta-feira, 9 de abril de 2008
A Moda da Fusão
Camané e a Orquestra Sinfónica Portuguesa - Outras Canções II
27 de Abril de 2007 – 21.00h
Teatro São Luiz - Lisboa
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Decididamente os projectos de fusão estão na moda. Depois de Teresa Salgueiro e de Cristina Branco eis Camané a apresentar um espectáculo em que o reportório foi inteiramente composto de versões de músicas celebrizadas por outros e pertencendo quase exclusivamente a géneros estranhos aos habitualmente interpretados pelo fadista. O sucesso ou insucesso destes projectos reside geralmente na capacidade de recriação dos temas interpretados, através da ousadia dos arranjos e da sua adaptação ao universo musical do intérprete, apropriando-se este daqueles como se tivessem sido compostos para si. Foi assim por exemplo com Teresa Salgueiro, mercê da sua enorme capacidade vocal e do extraordinário trabalho de arranjos levado a cabo por Jorge Varrecoso e Duncan Fox. Foi também assim com Cristina Branco, que se metamorfoseou em cantora de jazz e surpreendeu com os belos arranjos swingados de temas de Zeca Afonso da autoria de Ricardo Dias. Mas não foi assim infelizmente com este concerto de Camané. A presença da orquestra intimidou o fadista, que percorreu todo o espectáculo de forma tímida e até assustada, nitidamente como peixe fora de água, e abafou o quinteto de jazz (composto por músicos de altíssimo calibre: Alexandre Frazão na bateria, Mário Delgado na guitarra, Filipe Melo no piano, Bernardo Moreira no contrabaixo e João Moreira no trompete, contando ainda com a participação dos pianistas Mário Laginha e Bernardo Sassetti em dois temas) que teve presença discreta. Apesar da inegável qualidade do trabalho de Pedro Moreira (e também de Filipe Melo, Bernardo Sassetti e Mário Laginha, co-autores dos arranjos), os arranjos que fez para a orquestra, que também dirigiu, não ajudaram. Demasiado colados aos originais, negaram ao intérprete a capacidade de recriação dos temas que esta experiência exigia. Salvaram-se dois originais (muito belos) da autoria de Pedro Moreira e de Mário Laginha e um ou outro cover em que Camané se conseguiu soltar (o tema de Tony de Matos que Camané levou inevitavelmente para o fado e onde a sua alma fadista pôde brilhar e também Que C’Est Triste Venise de Charles Aznavour em que a semelhança vocal de Camané com o francês foi notória, ajudando assim a abrilhantar o tema, embora de forma totalmente colada ao original). Enfim, nota ainda assim positiva pela iniciativa (sem experiência não há inovação, pese embora algumas tenham forçosamente que falhar…) pelo trabalho dos excelentes músicos presentes em palco e por alguns temas que salvaram uma noite que, no geral, foi monótona…
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