Finalmente o Disco

Cristina Branco
Abril
Universal France
Novembro 2007
18/20

Depois da inclusão de um tema de Zeca Afonso no seu álbum anterior (Era um redondo vocábulo) e do desejo expresso pela fadista de construir um trabalho unicamente à volta das canções do genial compositor de Abril, surgiu a oportunidade, aproveitando a efeméride dos 20 anos da morte de Zeca Afonso, para a apresentação de uma série de espectáculos, no início de 2007, no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, em Lisboa, dedicados exclusivamente à obra deste compositor.
Estive presente em 24 de Fevereiro num desses espectáculos e fiquei maravilhado, confesso, com a beleza dos arranjos de Ricardo Dias e com a fantástica adaptação da fadista ao universo musical de Zeca Afonso e aos excelentes músicos que a acompanharam: a fina flor do jazz nacional, Alexandre Frazão, na bateria, Mário Delgado nas guitarras, Bernardo Moreira no contrabaixo e o próprio arranjador Ricardo Dias, no piano e acordeão.
A pergunta que se impôs foi desde logo óbvia: para quando o disco?
Ao que parece foi para pouco depois, embora só tenha visto os escaparates das lojas em Novembro, contando ainda com a participação de João Moreira no trompete, de Quiné nas percussões e do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra na canção Coro da Primavera.
Em boa hora assim foi tal é a relevância e inspiração deste trabalho, para mim a melhor adaptação de temas do Zeca Afonso feita até hoje, de entre as muitas já realizadas…
Cristina Branco está sublime, contribuindo em muito para a beleza do resultado final com a sua voz límpida e perfeita. Os arranjos de Ricardo Dias estão fantásticos! Sem colocarem minimamente em risco a identidade dos temas, conseguem neles encontrar novas e ricas sonoridades, capazes de os transportar até outros públicos, nacionais e estrangeiros, e às gerações mais jovens. Os restantes músicos estão em perfeito uníssono com o espírito da obra, rubricando interpretações notáveis e contribuindo, de forma decisiva, cada um deles, para o êxito do projecto.
Um álbum fantástico para ouvir vezes sem conta, e um dos mais importantes e sérios trabalhos desenvolvidos sobre este compositor essencial do nosso património musical e memória colectiva.