quinta-feira, 10 de abril de 2008

Fados Roubados


Paula Oliveira & Bernardo Moreira
Fado Roubado
Universal
Novembro 2007
16/20

Este Fado Roubado é inquestionavelmente uma obra de continuidade relativamente ao trabalho anterior do duo (que é na verdade um quinteto), Lisboa Que Adormece, de 2005.
Mantendo exactamente a mesma equipa (segundo a máxima futebolística de que em equipa vencedora não se mexe…), Paula Oliveira na voz, Bernardo Moreira no contrabaixo, arranjos e direcção musical, Léo Tardin no piano, Bruno Pedroso na bateria e João Moreira no trompete e fluguelhorn, este álbum revisita temas clássicos da música portuguesa, juntando agora alguns originais, três deles da autoria de Paula Oliveira.
A primeira sensação é a de que o resultado final se apurou relativamente a 2005. Bernardo Moreira está mais experiente nos arranjos (facto a que talvez não seja alheia a sua colaboração noutros projectos similares, como o álbum Abril de Cristina Branco), mais apelativos e contagiantes, Paula Oliveira mais contida na sua excelente voz, assumindo assim o carácter de fusão da obra, Léo Tardin mais irreverente nos solos, com um toque contemporâneo nas suas interpretações que faz por vezes a diferença relativamente a outros projectos e até João Moreira consegue imprimir um cunho pessoal na obra, quer através de alguns solos muitos conseguidos, quer até pelos efeitos sonoros que introduziu no disco (os famosos sons das baleias… nas palavras de Paula Oliveira).
Por outro lado nota-se um ligeiro puxar para o fado, talvez em busca de uma internacionalização do projecto que a canção nacional parece garantir, que até não lhes fica nada mal… Paula Oliveira mostra-se fadista quanto baste e o tema Há Uma Música do Povo, de Mário Pacheco sob um poema de Fernando Pessoa, que conhecemos cantado por Mariza, é mesmo um dos mais conseguidos do álbum, sério candidato à promoção nacional e internacional do disco.
Mas o jazz também marca presença, com destaque para a belíssima versão de Outono do pianista João Paulo ou a versão minimalista, mas bela e nostálgica, do tema Horn Please de Mário Laginha.
Uma palavra ainda para os originais de Paula Oliveira, que acabam por se integrar muito bem no disco. A sua faceta de compositora revela-se muito próxima da já mostrada de cantora antologista, com composições fortemente informadas pelos sons de sessenta e setenta, pré e pós revolucionários, se bem que embalados e swingados pela escola do Hot! Destaco Ardora, composto por Paula Oliveira e João Paulo para um poema em galego de Quico Cadaval, que me pareceu o mais belo dos originais incluídos no disco.
E termino destacando o início. O clássico de Zeca Afonso Que Amor Não Me Engana, construído a partir do contrabaixo e do piano trabalhado (quero dizer, tocado directamente nas cordas e não na teclas) numa cadência crescente, qual pulsação contagiante (ou o arranjo não fosse de um contrabaixista…), que se revelou um dos melhores arranjos do disco e que já ouvi deste tema de Zeca Afonso, lembrando por vezes algumas obras de Cassandra Wilson ou de Holly Cole, tanto do meu agrado…
Parabéns aos artistas e cá ficamos à espera do terceiro volume.

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