terça-feira, 30 de junho de 2009
Carta Aberta
Ricardo Pinheiro Quinteto, com Chris Cheek
28 de Junho de 2009, 22.30h
Teatro São Luiz (Lisboa)
VII Festa do Jazz do São Luiz
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Confesso que não conhecia Ricardo Futre Pinheiro. E no entanto este jovem guitarrista gravou em finais de 2008 um disco (lançado este mês pela Fresh Sound Records) como líder, ao lado de Mário Laginha, João Paulo Esteves da Silva, Alexandre Frazão, Demian Cabaud e do norte-americano Chris Cheek!
Foi este sexteto maravilha que subiu ao palco principal do São Luiz, apresentando o novo disco do guitarrista intitulado “Open Letter”.
O seu currículo é invejável: Doutorado em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa é ainda licenciado em Música pela Berklee College of Music e em Ciências da Psicologia pela Universidade de Lisboa. Bolseiro da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, Fundação Para a Ciência e Tecnologia, Centro Nacional de Cultura e Berklee College of Music, ganhou o prémio de investigação em Jazz Studies, "Morroe Berger - Benny Carter Jazz Research Fund", atribuído pela Rutgers University e o Institute of Jazz Studies, nos E.U.A.. Exerce presentemente funções docentes na Universidade Nova de Lisboa e na Universidade Lusíada.
Estudou com Mick Goodrick, George Garzone, Ed Tomassi, Ken Pullig, Wayne Krantz, John Damian, Ken Cervenka, Dan Morgenstern, Salwa Castelo-Branco e Christopher Washburne. Realizou workshops com Phil Markowitz, Aaron Goldberg, Peter Bernstein, David Liebman e Mark Turner, integrou ainda a Thad Jones/Mel Lewis Big Band e foi colocado na Dean's List da Berklee College of Music, como resultado do seu sucesso académico e musical.
Depois do brilhantismo desta longa carreira académica, é tempo de Ricardo Pinheiro mostrar ao público os seus dotes de músico e compositor. E vamos seguramente ouvir falar muito dele!
Como guitarrista Ricardo Pinheiro surpreendeu na utilização de uma guitarra eléctrica pura (sem caixa de ressonância) no contexto puramente acústico do seu luxuoso quinteto (o Fender Rhodes entregue a João Paulo só foi utilizado na segunda metade do concerto). No entanto o seu som é de tal forma suave e límpido que resultou numa ligação plenamente conseguida.
Tecnicamente mostrou-se soberbo, com um fraseado claríssimo e uma invejável capacidade de improvisação. Reservado como se impunha no protagonismo, atenta a enorme qualidade do ensemble que reuniu para o acompanhar.
Como compositor deixou bem clara a sua formação académica feita, sobretudo, em terras norte americanas. Mas se o repertório denotou algum academismo, a soberba qualidade da execução compensou-o amplamente.
Chris Cheek foi uma escolha perfeita para os saxofones. Também ele dono de um fraseado limpo e doce, casou-o exemplarmente com a guitarra suavíssima de Pinheiro. Assim, as maiores irreverências da noite ficaram a cargo de Mário Laginha. O pianista lisboeta está num momento assombroso da sua carreira e é sempre capaz de surpreender, mesmo quando não compõe e se limita a improvisar sobre temas alheios. Também João Paulo, quando entrou em cena, juntou um toque de irreverência à apresentação através dos seus solos, os quais se confundiam contudo frequentemente com os da guitarra de Pinheiro, de tal modo os timbres dos dois instrumentos estavam próximos.
Falta apenas falar da secção rítmica, a cargo do competentíssimo argentino Demian Cabaud, que se manteve discreto mas eficaz na retaguarda da apresentação (afinal com tantos e tão bons solistas não seria de esperar outra coisa…) e do exuberante Alexandre Frazão, desta feita mais contido mas mostrando igualmente uma notável capacidade de adaptação a quaisquer desafios rítmicos que lhe apresentem.
Nasceu um sexteto de luxo liderado por um jovem Doutor da guitarra, que ainda vai dar muito que falar…
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