domingo, 28 de junho de 2009

Puro Jazz!



James Carter Quinteto
26 de Junho de 2009, 21.30h
Centro de Congressos do Estoril
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Afirmar que James Carter é um músico excepcional, dotado de uma técnica absolutamente fabulosa e de uma versatilidade sempre surpreendente é quase um lugar-comum, de tal modo este saxofonista nascido em Detroit, a 3 de Janeiro de 1969, conquistou um merecido lugar de destaque na cena jazzística nova-iorquina, depois de passar por formações tão importantes como a Mingus Big Band e de acompanhar músicos de nomeada como Wynton Marsalis (que acompanhou quando contava apenas 17 anos de idade) ou Cyrus Chestnut, entre muitos outros.
Carter “brinca” com os saxofones (e a flauta e o clarinete) como se estes fossem a sua própria voz, um prolongamento físico de si mesmo que usa a seu bel-prazer. Quer melódica, quer ritmicamente, os saxofones nas mãos de Carter ganham um protagonismo inusitado, numa espectacular exibição de talento, quase narcisista.
E no entanto o seu repertório nunca remete para estéticas puramente livres, como poderia supor-se dessa postura algo egocêntrica. Carter tem a história do jazz bem enraizada dentro de si e não perde uma oportunidade de o demonstrar. Seja tocando blues, de forma arrojada mas essencialmente fiel ao espírito de New Orleans, seja evocando mestres do passado como Sidney Bechet ou Django Reinhardt, seja ainda acompanhando vozes como Madeleine Peyroux, que, com algum maneirismo, recria o mito de Lady Day.
A sua dispersão estilística e uma certa tendência para o exibicionismo são as principais críticas que se ouvem a este músico genial. Mas como poderia James Carter ser ele mesmo sem manifestar a enorme facilidade com que vive os saxofones? A raça com que rasga os temas, num estilo personalizado e inimitável? O swing contagiante que brota de cada nota e de cada frase dos seus saxofones P. Mauriat?
Essa é a essência da sua música, dotada de uma forte personalidade, imbuída no mais profundo sentimento da música negra norte-americana, que ele percorre transversalmente, sem preconceitos.
Como ele elucidativamente esclarece na sua página do Myspace: “It sounds like jazz, man!” – Esta é, resumidamente, a sua única e fundamental influência.
Como ele, os músicos que o acompanharam neste concerto de abertura do Estoril Jazz 2009, também transpiravam jazz por todos os poros. Seja pelo brilhantismo técnico evidenciado, seja pelo modo sem compromissos como o swing brotou incessantemente dos seus instrumentos, seja até pela descontracção de puro divertimento que assumiram, transformando o concerto numa “jam session” de mais de duas horas de duração. A batida forte de Leonard King na bateria e o fraseado fluente e fortemente ritmado de Ralphe Armstrong no contrabaixo davam o mote, que era brilhantemente complementado pelos riffs de Gerard Gibbs no piano e pelo virtuosismo nos metais de Corey Wilkes no trompete e claro, de James Carter nos saxofones e flauta.
Este quinteto anda longe do jazz erudito e de câmara, tão na moda neste século XXI. Toca puro jazz negro norte-americano, carregado de ritmo, de improvisação criativa e de prazer!
“It really sounds like jazz, man!”

James Carter Organ Trio
com Gerard Gibbs & Leonard King (2004)

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