segunda-feira, 29 de junho de 2009

Albinoni In-Éditos



Laurent Filipe “IN-éditos”
28 de Junho de 2009, 18.00h
Estúdio Mário Viegas (Lisboa)
VII Festa do Jazz do São Luiz
****,5

Também o trompetista luso-brasileiro Laurent Filipe se apresentou nesta Festa do Jazz com um quarteto dividindo as funções de solista com a guitarra eléctrica, desta feita entregue a Mário Delgado.
Em comum com o projecto UN Derpressure de Pedro Madaleno este In-Éditos de Laurent Filipe tem ainda o recurso aos samplers e ao baixo eléctrico, entregue ao italiano Massimo Cavalli.
Mas as semelhanças acabam aí.
Ao invés de recorrer a uma estética mainstream nos arranjos, Filipe optou antes pela composição mais elaborada de uma suite, partindo como mote do célebre Adagio do compositor do barroco italiano Tomaso Albinoni.
E pode afirmar-se que a ideia resultou em pleno. Os amplos recursos técnicos dos dois solistas aliados ao domínio demonstrado por ambos do uso dos samplers e bem assim à reconhecida competência de Laurent Filipe como compositor e arranjador, permitiram a construção de uma peça riquíssima, original, melódica e sedutora.
O contraste entre o tonalismo barroco da melodia e a irreverência contemporânea do arranjo proporcionou momentos de rara beleza, com especial destaque para o som limpo e etéreo do trompete de Filipe, a que Delgado soube responder harmónica e melodicamente com o virtuosismo que se lhe conhece.
Numa peça que se destacou sobretudo pela composição, foi menos exigente o trabalho da secção rítmica, embora Bruno Pedroso ainda tenha rubricado um solo muito interessante no seu habitual estilo contido, mas de batida forte.
Foi uma pena que as contingências de manter um programa apertado dentro do horário previsto tenham reduzido a apresentação de Laurent Filipe a pouco mais de meia-hora, pois este projecto In-Éditos mostrou seguramente ter pernas para andar.
Formado em composição pela Universidade do Kansas, pós-graduado em Música Para o Cinema pela Berklee College of Music de Boston e preparando um doutoramento em Ciências Sociais, Laurent Filipe afirma-se cada vez mais como uma referência na composição nacional, que no caso em análise ultrapassa claramente o âmbito mais restrito do jazz e entra mesmo no contexto da música erudita.
Resta pois aguardar por uma nova oportunidade para rever este In-Éditos com tempo… O trabalho desenvolvido pelo trompetista seguramente merece-o!

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