segunda-feira, 29 de junho de 2009

As Mil e Uma Noites do São Luiz



José Peixoto “El Fad”
28 de Junho de 2009, 21.00h
São Luiz (Lisboa)
VII Festa do Jazz do São Luiz
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Atrevo-me a dizer que, só por este espectáculo, já valia a pena ter comprado o bilhete para a Festa do Jazz do São Luiz!
Formado pela Academia de Amadores de Música de Lisboa, onde foi igualmente docente, José Peixoto tornou-se sobretudo conhecido do grande público pela sua participação, entre 1993 e 2007, no grupo Madredeus, liderado pelo seu ex-colega dos Amadores de Música, Pedro Ayres Magalhães.
Mas Peixoto já tinha e manteve, mesmo depois do convite para integrar os Madredeus, uma extensa lista de projectos e colaborações, quer no âmbito da música popular (Janitá Salomé, José Mário Branco, Anamar, Filipa Pais, a espanhola Maria Berasarte ou o projecto Sal, com o seu ex-colega dos Madredeus Fernando Júdice e a fadista Ana Sofia Varela), quer no pop (Rui Veloso, Mafalda Veiga) quer ainda no jazz (os projectos Shish, Cal Viva, El Fad e Taifa, que contaram com a participação de músicos como Carlos Zíngaro, Maria João, Carlos Bica, Mário Laginha, José Salgueiro e Mário Delgado, entre outros).
Este projecto El Fad arrancou em 1988 com Martin Fredebeul, Klaus Nymark, Mário Laginha, Carlos Bica, José Martins e Mário Barreiros, tendo originado um disco, editado nesse mesmo ano.
Entretanto outros projectos se impuseram (Cal Viva, Taifa e claro, os Madredeus) que relegaram o El Fad para uma melhor oportunidade.
A oportunidade surgiu em 2007, coincidindo com a saída de Peixoto dos Madredeus, e o projecto foi retomado numa diferente formação, com o violinista Carlos Zíngaro, com quem Peixoto já tinha colaborado nos anos 80 no álbum Shish e recentemente no projecto Cactus, o contrabaixista Miguel Leiria Pereira e o percussionista Vicki.
O disco foi gravado em Dezembro desse mesmo ano, “Ao Vivo” no Auditório Fernando Lopes Graça, no Ondajazz e n’OTamborQfala, por Luís Delgado, e foi lançado em 2008 sob a chancela da nova editora Grão.
Este novo El Fad é um projecto maduro que funde o exotismo dos sons mediterrânicos, do flamenco e da música do Magreb, com a criatividade do jazz. A servi-lo possui grandes executantes, a começar pelo virtuoso Peixoto na guitarra (ou será um oud?) e pelo veterano Carlos Zíngaro no violino, a que se juntaram, nesta apresentação, outros dois virtuosos, Yuri Daniel no contrabaixo e José Salgueiro na percussão.
O resultado foi simplesmente fabuloso!
Uma hora de deslumbramento com um dos mais criativos e conseguidos projectos musicais nacionais da actualidade. Uma viagem às mil e uma noites da música mediterrânica, conduzida por quatro extraordinários tecnicistas e improvisadores, sob a direcção experiente de Peixoto.
Nem uma pequena falha no som, que limitou um pouco a contribuição de Zíngaro, nem tão pouco a menor participação do público (não me perguntem porquê, mas a “tribo” lusitana do jazz parece oferecer alguma resistência aos projectos de world jazz… não acham?) impediram o sucesso absoluto de uma apresentação que levantou, em peso, o público presente, com direito a encore e tudo, apesar do programa apertado da Festa!
Um projecto que não tem nem um décimo da visibilidade que merece!

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