sexta-feira, 18 de julho de 2008

Filipe Melo Trio



Filipe Melo Trio
Ondajazz (Lisboa)
17 de Julho de 2008, 23.00h
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Esta foi a primeira apresentação pública do novo trabalho de Filipe Melo, ainda sem data marcada para a gravação. Desta feita o jovem pianista (e cineasta), docente na escola de jazz do Hot Club de Portugal (onde é coordenador do departamento de piano) e bem assim no Conservatório do Funchal, voltou a apostar na formação em trio mas agora numa estrutura mais clássica, com a guitarra de Bruno Santos a dar lugar à bateria entregue a Bruno Pedroso. Já Bernardo Moreira continua no contrabaixo e com trabalho reforçado.
Apesar de se notar ainda alguma falta de rodagem no novo trio e repertório (os discos constroem-se na estrada, mais do que no estúdio…) é notória uma evolução no trabalho de Filipe Melo. Embora fiel ao seu inconfundível estilo swingado de tocar o blues (Filipe Melo é, indiscutivelmente, um dos músicos portugueses com mais swing!) o pianista arrisca mais neste seu segundo disco: nas composições (a maioria dos temas são originais seus), nos arranjos e na consolidação de um estilo, fruto da sua maior maturidade como músico.
O maior classicismo presente em Debut (Clean Feed, 2005) aparece agora temperado por alguns arrojos de free jazz e bem assim pela ousadia de integrar o blues quer em universos musicais mais eruditos, clássicos e contemporâneos, quer ainda em ritmos afro-cubanos, sem esquecer uma passagem pelo zydeco, já ouvida na digressão nacional com o saxofonista norte-americano Donald Harrison, natural da cidade berço do jazz, New Orleans, e por isso bem ambientado nestes exotismos cajun da Louisiana francófona.
Esta abertura a novos estilos de viver o jazz liberta igualmente os excelentes músicos que o acompanham neste novo trabalho para um maior, e merecido, protagonismo. Bernardo Moreira foi chamado por diversas ocasiões a trabalho de destaque, quer em solos brilhantemente desenvolvidos, que enriqueceram de forma assinalável a apresentação, quer ainda em frequentes contrapontos, num diálogo cativante com o piano, de que o tema Puzzle terá sido talvez o mais conseguido (e aplaudido) exemplo. Mas também Bruno Pedroso apareceu mais solto, assumindo um protagonismo pouco habitual (o seu estilo é habitualmente seguro e subtil), fruto do espaço aberto nos temas para as suas arrancadas na bateria. E tudo isto sem que a presença de Filipe Melo no piano saísse minimamente beliscada. O jovem e promissor pianista lisboeta aparece exuberante como sempre, sobretudo nos blues, mas com uma capacidade acrescida de criar espaços nos temas para os restantes instrumentos, não limitados a tarefas rítmicas mas antes alternando com o piano as despesas melódicas e harmónicas da apresentação.
Em suma, um trabalho que promete de um músico que é cada vez mais uma certeza do jazz nacional.
Recomenda-se vivamente e já agora, enquanto não sai o disco, vão usufruindo das apresentações pelo país fora que, oportunamente, darei conta nestas páginas.

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