El Mirar de la Maja

No mundo globalizado em que vivemos as fronteiras da música são cada vez mais difíceis de definir.
E confesso que cada vez me interesso menos por essas fronteiras. Como disse Charles Lloyd, a música é a mais sublime forma de transmitir emoções. Por isso pouco importa que seja tonal ou modal, erudita ou popular, clássica ou contemporânea… O que verdadeiramente importa é a sua inigualável capacidade de nos tocar na alma.
Manfred Eicher fundou a ECM com o objectivo de gravar os mais belos sons, depois do silêncio. E nessa busca da perfeição fundiu o jazz com a música clássica e contemporânea, o folclore com a erudição musical.
Bons exemplos dessa panmusicalidade eicheriana são as gravações que fez com Kim Kashkashian. Brilhante violista norte-americana de origem arménia, coleccionou prémios e distinções e tocou nas mais prestigiadas orquestras do mundo. È docente no New England Conservatory of Music depois de leccionar nos conservatórios de Friburgo e de Berlim. Mas com Manfred Eicher passou da música de câmara para o jazz e para o folk contemporâneo, participando em discos com o saxofonista norueguês Jan Garbarek, interpretando o folclore siciliano de Luciano Beri ou grego de Eleni Karaindrou com a mesma naturalidade com que interpreta Brahms, Bach e Schumann, ou os contemporâneos Giya Kancheli, György Kurtág ou Tigran Mansurian.
No disco Asturiana (ECM, 2007) juntou-se ao pianista norte-americano Robert Levin, com quem leccionou no Hochschule für Musik em Friburgo (Levin, musicólogo reputado, é professor na universidade de Harvard, onde igualmente se doutorou em 1968 com um trabalho sobre as obras inacabadas de Mozart) e com quem toca já desde os anos 70, e redescobriu a música espanhola e argentina do século XX, tocando obras de Manuel de Falla (1876-1946), Enrique Granados (1867-1916), Carlos Guastavino (1912-2000), Alberto Ginastera (1916-1983), Xavier Montsalvatge (1912-2002) e Carlos López Buchardo (1891-1948), unindo o clássico com o contemporâneo e o erudito com o popular.
Deixo-vos com o tema El Mirar de la Maja, de Granados, interpretado por Kim Kashkashian na viola e Robert Levin no piano, com fotos solitárias da autoria do português Miguel Costa.