domingo, 27 de julho de 2008

Noites Cubanas



Charlie Haden
Nocturne
Verve 2001

O interesse de Charlie Haden pela música latina já vem de longe quando, em 1969, fundou a Liberation Music Orchestra, cuja obra fundia o jazz vanguardista com influências cubanas e espanholas. Este Nocturne é uma pérola produzida pelo próprio Charlie Haden e pelo pianista cubano Gonzalo Rubalcaba, integralmente dedicado ao bolero e aos seus grandes compositores como Arturo Castro, Cesar Portillo de La Luz, Marta Valdés, Martin Rojas e Maria Teresa Lara, a que juntou três originais, dois seus, Moonlight e Nighfall e um de Rubalcaba, Transparence. Foi gravado em Miami em Agosto de 2000 e lançado em 2001 pela Verve. Venceu o Grammy para o melhor álbum de jazz latino em 2002.
Nesta aventura cubana Haden reuniu uma equipa de luxo, composta por ele próprio no contrabaixo, os seus compatriotas Joe Lovano no sax e Pat Metheny na guitarra e ainda os cubanos Gonzalo Rubalcaba no piano, Federico Britos Ruiz no violino, Ignacio Berroa na percussão e David Sanchez no saxofone.



Charlie Haden nasceu em Shenandoah, uma pequena povoação com 5000 habitantes, no Estado norte-americano de Iowa, em Agosto de 1937. Ainda nos anos 50 mudou-se para Los Angeles e trabalhou como sideman para músicos como o saxofonista Art Pepper e o pianista Hampton Hawes. Em 1959 juntou-se a Ornette Coleman, um dos mais controversos e inovadores músicos de jazz, tendo integrado o seu quarteto (com o baterista Billy Higgins e o trompetista Don Cherry) até 1961. Tempo suficiente para lhe granjear a fama de um dos mais originais e revolucionários contrabaixistas da sua geração.
Em 1969 funda a Liberation Music Orchestra, um projecto que fundia a música e o activismo político, gravando temas revolucionários da Guerra Civil de Espanha ou de homenagem ao herói da Revolução Cubana, Che Guevara. Foi o inicio do seu período latino que o levou a memoráveis colaborações com o brasileiro Egberto Gismonti, o argentino Dino Saluzzi e o português Carlos Paredes e lhe construiu uma reputação internacional como músico de intervenção e o respeito e admiração dos muitos músicos latinos que, à época, cantavam a Revolução.
Nos anos 80 contudo, Charlie Haden acalmou. Fundou o Quartet West em 1986, com Billy Higgins, Alan Broadbent e Ernie Watts, e a sua música tornou-se nostálgica e evocativa das grandes orquestras norte-americanas e do bop dos anos 40.

Charlie Haden e Gonzalo Rubalcaba conheceram-se em 1986 em Havana quando ambos participavam no Jazz Plaza Festival, Haden com a sua Liberation Music Orchestra e Rubalcaba com o Grupo Proyecto, de que era pianista. Apesar de ter apenas 23 anos na altura, impressionou de tal forma Charlie Haden que este não resistiu, após assistir extasiado à sua apresentação, a ir visitá-lo aos bastidores e convidá-lo a integrar os seus projectos musicais nos Estados Unidos. Tal não foi possível de imediato devido ao embargo norte-americano. Porém Haden tornou-se um dos principais impulsionadores da carreira de Rubalcaba, conseguindo levá-lo ao Festival de Jazz de Montreal em 1989 e que este assinasse um contrato com a Blue Note no princípio dos anos 90. Foi Haden quem produziu o primeiro disco de Rubalcaba nos Estados Unidos, Discovery: Live at the Montreaux Jazz Festival, e chamou o cubano a integrar a formação que gravaria o seu disco The Blessing, em 1991.
O tema En La Orilla del Mundo é um original de Arturo Castro, compositor, guitarrista e pianista mexicano dos anos 50 do séc. XX, e conta com a participação de Haden, Rubalcaba, Lovano, Britos Ruiz e Berroa. As soberbas fotos de Cuba que o acompanham são da autoria de Claudio Viezzoli. Um dos muitos temas deliciosos que preenchem este fantástico disco de Charlie Haden e Gonzalo Rubalcaba, imprescindível em qualquer colecção que se preze. Especialmente indicado para ouvir à noite, de preferência com um bom rum velho e um charuto. Cubanos, claro está!

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