Da tradição musical sefardita faz igualmente parte o romance.
Um dos mais famosos e deliciosos é este Três Hermanicas Eran, que ilustrei com pinturas de Marc Chagall.
Recuperado por Joaquin Diaz, musicólogo e académico espanhol fortemente empenhado na redescoberta do património tradicional (com mais de cinquenta livros e setenta discos editados, uma fundação com o seu nome dedicada à recuperação e valorização do património tradicional, é ainda Presidente da Real Academia de Bellas Artes de la Purísima Concepción e Titular Honorífico da Cátedra de Estudos sobre a Tradição, na Universidad de Valladolid).
Além de Joaquin Diaz vários outros músicos gravaram este maravilhoso romancero espanhol da tradição sefardita. Mas a versão que chegou até mim foi a dos gregos Primavera en Salonico.
Este grupo nasceu em Tessalónica, em 1993, sob direcção de Kostas Vomvolos, precisamente com o objectivo de gravar músicas populares sefarditas, cantadas pela bela voz de Savina Yannatou, cantora de formação clássica (adquirida no Conservatório Nacional Grego e mais tarde na Guildhall School of Music and Drama em Londres, onde foi bolseira) e que desde finais dos anos 80 se dedicou a um repertório medieval, renascentista e barroco.
O seu repertório evoluiria mais tarde para outras tradições musicais (música bizantina, tradicional grega e do médio oriente e até folclore corso, sardo e egípcio) mas o primeiro disco que deu nome ao grupo (Lyra, 1994), é exclusivamente dedicado ao cancioneiro medieval sefardita e cantado maioritariamente em Ladino (a língua judaica que mistura o castelhano com o português e o hebraico) e foi dele que extraí esta versão.
O grupo (quase totalmente amador, Kostas Vomvolos é médico de profissão) é composto por Savina Yannatou na voz, Kostas Vomvolos no Quanun e nos arranjos, Yannis Alexandris no Oud e guitarras, Michalis Siganidis no baixo acústico, Kyriakos Gouventas no violino e viola e Kostas Theodorou na percussão, e esteve em Lisboa em Outubro de 2006 para um memorável concerto na Culturgest do qual dei nota nas presentes páginas. Ver crítica.
Tres hermanicas eran,
Blancas de rosa y ramas de flor
tres hermanicas eran
tres hermanicas son.
Las dos están cazadas,
la chica en pedrición.
El padre, con vergüenza,
a Rodes la mandó.
En medio del camino,
castiyo le fraguó,
de piedra menudica,
corral al rededor;
ventanas por los mares,
que no suba varón.
El varón, que ya lo supo,
a nadar ya se echó.
Sus brasos hizo remos,
su puerpo navegó.
Nadando y navegando,
al lugar ya arrivó.
—Echame tus trensados
que arriba subo yo.
Echó sus entrensados,
arriba lo subió.
Le lavó piezes y manos,
l'agua se bebió.
Le quitó y a comeres
pexcado con limón.
Le quitó y a beberes
vino de treinta y dos.
Le quitó y mezeliques
almendricas de Estambol.
En medio de los comeres,
agua le demandó.
Agua no había en caza,
a la fuente la enbió.
Al son de los tres chorricos,
la niña se durmió.
Por ayí pasó un cabayero,
tres bezicos le dio;
uno de cara en cara
y otro de corasón.
Al bezico de al cabo,
la niña se espertó.
—¿Qué hizites, cabayero,
matada merezco yo,
matada con un puño,
que dos no quero yo.
—No t'espantes, mi querida,
que'l tu amor so yo.—
La tomó del brasico,
a casa se la yevó.
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