sábado, 26 de julho de 2008
Origens na Alma
Lura
Origens na Alma
Centro Cultural Olga Cadaval (Sintra)
Auditório Jorge Sampaio
25 de Julho de 2008, 22.00h
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Lura nasceu em Lisboa em 1975, o ano da independência de Cabo Verde. Começou a sua carreira musical em 1996, aos 21 anos de idade, lançando o primeiro disco Nha Vida. O sucesso desse disco levou-a ao projecto Red Hot & Lisbon, que juntou grandes nomes da música lusófona. Em 1998 abriu o espectáculo de Cesária Évora na Expo 98 e acompanhou a diva de pé descalço a Paris onde participou numa série de concertos. Em 2002 lançou o seu segundo disco In Love. No ano seguinte participou no projecto Women of Cabo Verde, uma série de concertos realizados no Reino Unido que difundiram por aquele país os ritmos do arquipélago atlante das mornas e coladeras e lhe valeram inúmeros convites para actuar pelo mundo fora. 2005 foi um ano de viragem na carreira de Lura com o lançamento do disco Di Korpu Ku Alma, onde as hesitações estilísticas iniciais dos seus trabalhos, marcados por algumas influências soul e zouk, se desvanecem para dar lugar à Lura actual que se impôs como uma das mais importantes intérpretes da música tradicional de Cabo Verde, não apenas das famosas mornas e coladeras mas também dos ritmos menos conhecidos do arquipélago, como a Mazurca (de origem polaca e que por razões insondáveis se instalou há muito em terras criolas), o batuku de Orlando Pantera, o incontornável funaná (proibido nos tempos coloniais pela sensualidade bestial que supostamente exalaria) ou ainda os ritmos badíos importados da África continental. Valeu-lhe também o maior sucesso da sua carreira, o tema Na Ri Na, convertido rapidamente no ex-libris da cantora e ganhando um lugar no panteão das canções cabo-verdianas mais populares.
O álbum M’bem di Fora, lançado em 2006, consagra esta diva da música cabo-verdiana internacionalmente a afirma-a como um nome maior da World Music, admirada e aclamada pelas mais variadas plateias, de Portugal à China, sem esquecer os Estados Unidos e Canadá.
O enorme sucesso de Lura radica, em minha opinião, em dois factores essenciais: a enorme voz e presença em palco da cantora e os belíssimos arranjos de Toy Vieira, inspirados no repertório tradicional do arquipélago africano e que assenta nesta bela criola dividida entre Lisboa, Santiago e Boavista, como uma luva.
Poucos artistas demonstram uma entrega em palco como Lura. Dotada vocalmente como poucas resiste contudo a fazer das suas apresentações uma mera montra das suas invulgares capacidades vocais. Um concerto de Lura é festa, antes de mais. E se o público não se entrega à dança (nem todas as plateias têm sangue africano a correr nas veias…) Lura e os seus pares encarregam-se da despesa. O ritmo brota de cada movimento da cantora que, reiteradamente, se converte em dançarina, em percussionista ou simplesmente em entertainer, brincando e provocando o público, que rapidamente se entrega rendido aos encantos dos ritmos africanos. Há qualquer coisa de mágico e de profundamente contagiante na entrega desta mulher em palco! Algo que não se transmite pelos discos, por muito bem produzidos e interpretados que sejam. Que é necessário viver, in loco, para se sentir na alma, que se entranha e vicia!
Esta noite no Olga Cadaval Lura apresentou-se acompanhada de Toy Vieira ao piano, Guillaume Singer no violino, Vaiss Dias na guitarra, Jair na percussão (outro poço de energia africana, o único com verdadeira “pedalada” para acompanhar o fenómeno Lura), Carlos Paris na bateria e Russo no baixo, em mais uma viagem inesquecível aos ritmos quentes de Cabo Verde.
Não chegou propriamente ao deslumbramento do memorável concerto do Tivoli, em Novembro de 2007 (de que já dei nota nas presentes páginas), por várias razões, desde a configuração da sala ao som, passando pela substituição de Adérito por Vaiss na guitarra e pelo próprio público, mais frio em Sintra do que em Lisboa (a menor presença da comunidade Cabo-verdiana notou-se). Não obstante foi uma noite vibrante de ritmo e paixão pela música e pela vida, desta grande mulher africana que o acaso do destino fez nascer em Lisboa. Grande Lura!
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