domingo, 19 de abril de 2009
Vórtice de Emoções
John Taylor Trio
Whirlpool
Cam Jazz, 2007
John Taylor nasceu em Manchester em 1942, revelando-se ao público em 1969, quando tocou com os saxofonistas Alam Skidmore e John Surman.
Na sua já longa carreira tem sido apontado por vários críticos como um dos mais importantes pianistas dos últimos 40 anos.
Depois das aludidas colaborações e de outras, já na década de 70, com Miroslav Vitous, Cleo Laine e Ronnie Scott, fundou o trio Azimuth, com Norma Winstone e Kenny Wheeler, um marco fundamental na sua carreira e no jazz que se produziu depois dele.
Já nas décadas de 80 e 90 Taylor colaborou com músicos como Jan Garbarek, Enrico Rava, Gil Evans, Lee Konitz e Charlie Mariano e compôs para o English Choir e para a Orquestra da Rádio de Hannover.
Os seus projectos actuais incluem, além de obras a solo, este trio com o sueco Palle Danielsson, antigo colaborador de Bil Evans, Jan Garbarek, Keith Jarrett e Charles Lloyd e o jovem baterista britânico Martin France, o quarteto de Kenny Wheeler, seu antigo companheiro dos Azimuth e referência fundamental da obra de Taylor, o quarteto de John Surman e ainda o trio do baterista Peter Erskine.
Este disco, gravado em 2005 no Bauer Studios em Ludwigsburg, na Alemanha, denota bem a influência de Wheeler na música de John Taylor, contribuindo o americano com três temas, tantos quantos os compostos pelo pianista. A estes juntam-se dois oriundos do universo clássico: “I Loves You Porgy” da ópera Porgy And Bess, de George Gershwin, e “In The Bleak Midwinter”, um hino litúrgico anglicano composto pelo britânico Gustav Holst em 1905, para a compilação de “The English Hymnal”, encomendada ao seu amigo Ralph Vaughan Williams.
Três notas ressaltam de imediato desta magnífica obra: o estilo expressivo e inconfundível de Taylor no piano, a meticulosa e complexa construção estrutural dos temas, para o que contribui largamente não apenas a enorme experiência de Taylor e Danielsson (não esqueçamos que o sueco tocou com Bill Evans nos anos 60), mas também o seu brilhantismo nos arranjos e na técnica instrumental, no que são aliás muito bem acompanhados pelo jovem Martin France, uma estrela em ascensão do jazz britânico, como o provam as suas colaborações com músicos como Kenny Wheeler, Ralph Towner, Lee Konitz, Dave Holland e Maria Schneider, além deste trio de John Taylor, e finalmente o profundo respeito pela melodia, particularmente evidente nas adaptações já citadas de temas clássicos.
Fortemente melódico, por vezes quase romântico, o disco vai revelando uma rara mestria nos arranjos e uma perfeita interacção dos instrumentos. Pontuado ocasionalmente por influências rítmicas latinas, por exemplo em Consolation, Whirlpool e The Woodcocks, não deixa de viajar por outras importantes heranças do jazz como o bop, em Everybody’s Song But My Own, o free jazz, em The Woodcocks, e o blues, em For Ada e I Loves You Porgy.
Mas a nota dominante é sem dúvida o brilhantismo com que Taylor casa todas estas influências com o seu estilo melódico e estruturalmente complexo mas apelativo, de jazz de câmara. Elegante, sofisticado, por vezes erudito mesmo, mas sempre fiel aos princípios fundamentais do jazz: criatividade e ritmo.
Exemplar é o belíssimo tema com que fecha o álbum: In The Bleak Midwinter. O tratamento de Taylor é uma vez mais profundamente respeitador da melodia e do dramatismo que bem caracteriza os hinos litúrgicos britânicos. Porém a expressividade que marca o seu estilo e a complexidade do arranjo contribuem largamente para o revestir de uma enorme beleza, profunda e sedutora. Um tema verdadeiramente inspirador. Como outros aliás neste álbum genial.
Um dos mais apaixonantes registos em trio de piano que ouvi recentemente. Taylor é um pianista referencial, profundamente original e alcança, com Danielsson e France, uma das mais conseguidas abordagens do trio de piano, desde que o género foi reinventado por Bill Evans.
Um disco obrigatório!
Fiquem com “In The Bleak Midwinter” um hino litúrgico composto por Gustav Holst em 1905. Esta composição ligeira de Holst, um compositor que nunca enjeitou uma oportunidade de compor para as massas, surgiu no contexto da compilação do “The English Hymnal” uma vasta colectânea de hinos litúrgicos encomendada ao seu amigo Ralph Vaughan Williams em 1905, e para a qual Holst acabou por contribuir com três composições, baseadas em temas tradicionais. Este hino em particular recebeu um poema de Christina Rossetti e baseou-se na canção popular "Crantham”, denominada de acordo com a localidade onde foi recolhida. Crê-se que Holst compôs o tema durante uma curta estadia na povoação e numa quinta denominada precisamente “Midwinter Cottage”.
A acompanhá-lo estão belíssimas fotos do Inverno alsaciano, da autoria de Pascal, Podem ver a sua obra em http://www.pbase.com/pascal_s
John Taylor Trio – In The Bleak Midwinter
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