sábado, 25 de abril de 2009

Estreia Auspiciosa



César Cardoso Quinteto
23 de Abril de 2009, 23.00h
Hot Club de Portugal (Lisboa)
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César Cardoso é um jovem saxofonista de Leiria (nasceu em 1982) revelado ao público jazzístico através do grupo Desbundixie, agrupamento de Dixieland que editou em 2007 o seu primeiro disco Kick ‘n Blow e do qual faz igualmente parte o seu irmão, o clarinetista Flávio Cardoso.
Iniciado nas lides musicais através de uma filarmónica, passou depois pelo estudo clássico durante oito anos e mais recentemente pela escola do Hot Club de Portugal, através de cursos com os saxofonistas Jorge Reis e Pedro Moreira.
César Cardoso frequentou ainda workshops com músicos de referência, nacionais e estrangeiros, como Pedro Madaleno, João Moreira, Ricardo Pinheiro, Afonso Pais, José Menezes, Bernardo Moreira, Perico Sambeat, Dave Schnitter, Jesse Davis, David Binney, John Taylor e Chris Cheek.
Além do projecto Desbundixie, que se mantém bem activo e com apresentações marcadas para os próximos meses na região centro e também em Espanha, César Cardoso integra a Big Band do Hot Club de Portugal e o Ensemble de Saxofones da mesma instituição, depois de ter passados por projectos como a Big Band do Oeste, a Big Band Reunion de Claus Nymark e até a Orquestra de Herman José.
Apesar da sua inegável experiência, faltava um projecto marcadamente pessoal a César Cardoso, lacuna agora preenchida com este espectáculo de estreia do seu quinteto. E um quinteto de luxo, ainda por cima, composto por Filipe Melo no piano, Bruno Santos na guitarra, Bruno Pedroso na bateria e o argentino Demian Cabaud no contrabaixo, além do saxofonista obviamente.
Esta formação corresponde basicamente ao quarteto Filipe Melo/Bruno Santos, com Cabaud no lugar do indisponível Bernardo Moreira (agora entregue à invejável tarefa de acompanhar os mediáticos Flora Purim e Airto Moreira, num reconfortante reconhecimento internacional da valia do jazz nacional e dos seus músicos). Este quarteto, que já ouvimos recentemente acompanhar saxofonistas da craveira de Donald Harrison, Perico Sambeat, Herb Geller ou Jesse Davis (este último num concerto único no Hot que quebrou recordes de audiência da sexagenária sala da Praça da Alegria), serviu naturalmente como um enorme incentivo à estreia do saxofonista leiriense como líder. Estamos pois perante uma equipa de enorme categoria (todos eles docentes e responsáveis pelos respectivos departamentos na Escola Luís Villas Boas do HCP) e com uma “máquina” bem oleada pelo extenso conhecimento e cumplicidade desenvolvidos ao longo de centenas de concertos. A isto acresce a reconhecida competência da dupla Filipe Melo e Bruno Santos como compositores e arranjadores, tarefas que têm desenvolvido para a maioria dos ensembles saídos da escola do HCP e bem assim para muitos dos mais prestigiados músicos nacionais (Sinfonietta de Lisboa, Carlos do Carmo, Camané, GNR, Lena d’Água, entre muitos outros).
Pode pois dizer-se que César Cardoso preparou na perfeição esta sua estreia, escolhendo bem a equipa com que se rodeou.
Mas a nota mais saliente desta apresentação, considerando que os méritos do solista e quarteto eram já sobejamente conhecidos, acabou por ser a escrita musical do saxofonista. Na verdade os seus projectos musicais anteriores foram sempre baseados em standards ou em composições de terceiros. Pelo que esta foi verdadeiramente a primeira oportunidade de César Cardoso apresentar ao público as suas próprias composições. E fê-lo com inegável brilhantismo.
Um jazz melódico, que dispensou excessos de protagonismo do solista e deixou amplo espaço para a improvisação do quarteto que o acompanhou. E que soube, sobretudo, despertar o interesse dos músicos e do público. Na verdade as composições de César Cardoso revelaram-se apelativas, empolgantes mesmo, nalgumas ocasiões, evoluídas e ritmicamente contagiantes, contribuindo decisivamente para o sucesso da apresentação e para a prestação de elevadíssimo nível rubricada por Filipe Melo ou Bruno Pedroso, por vezes verdadeiramente endiabrados nos seus instrumentos. Mais tranquilo e remetido para funções rítmicas e harmónicas, Bruno Santos soube ainda seduzir com o intimismo característico dos seus solos (e também com um original seu), tal como Demian Cabaud que, apesar de chamado à formação à última hora, esteve à altura dos seus pergaminhos, entrando mesmo “a matar” com um notável solo com que praticamente abriu o concerto.
Já sabíamos que o jazz nacional podia contar com mais um bom saxofonista em César Cardoso. Ficámos agora igualmente a saber que ganhou um notável compositor!
Só falta o disco. Ficamos à espera.

Desbundixie - At The Jazz Band Ball
At The Jazz Band Ball

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