domingo, 29 de março de 2009
Bobadela’s Story
LA Jumping Pulgas
28 de Março de 2009, 23.00h
Hot Club de Portugal (Lisboa)
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Lars Arens, trombone, eufónio
Mário Delgado, guitarra eléctrica
Bernardo Moreira, contrabaixo
Bruno Pedroso, bateria
Contrariamente ao que o nome poderia fazer supor, este bem-humorado grupo não vem da cidade dos anjos, na mediática Califórnia! Nem sequer da notável freguesia do concelho de Loures sugerida pelo título, protegida pelo orago de Nossa Senhora dos Remédios e banhada pelos rios Tejo e Trancão, que lhe guardam as fronteiras da sempre rival São João da Talha, da qual se desmembrou, em audaz acto emancipatório, no já longínquo ano de 1989!
Por LA deve ler-se Lars Arens, um exuberante alemão, líder desta formação, que toca trombone e um estranho instrumento chamado eufónio. E convém não esquecer, também os ferrinhos…
Sempre com a constante e inspiradora presença da novel freguesia da Bobadela, local eleito para os ensaios pelo trombonista (mais precisamente a “Dela”, porque para se ir para a “Boba” é preciso atravessar a linha de comboio, como toda a gente sabe!), (e não se admirem com a escolha, pois se já el-rei D. Manuel I, o Venturoso, aí passou largas temporadas, em busca de bons ares e das suas afamadas águas medicinais, aquando dos surtos periódicos de peste ocorridos na capital durante o seu reinado) Lars Arens construiu um mundo musical inspirado e inspirador. Pela enorme criatividade, pela originalidade do casamento do trombone e do eufónio com a guitarra eléctrica e distorcida de Mário Delgado, mas também pela ousadia da assumpção de um papel liderante com dois instrumentos pouco habituados a tais protagonismos, no jazz ou em qualquer outro género musical (excepção feita talvez aos subvalorizados brass ensembles, geral e injustamente associados a iniciativas, bem intencionadas mas musicalmente limitadas, promovidas pelo Exército de Salvação durante a quadra natalícia).
É verdade que já Sérgio Carolino tinha casado a tuba com a guitarra de Mário Delgado e a bateria de Alexandre Frazão, no premiado projecto TGB. Mas a tuba assume aí essencialmente (embora não exclusivamente) funções rítmicas, substituindo por assim dizer o contrabaixo na típica formação do trio de guitarra. Aqui a subversão vai mais longe… remete-se a guitarra para funções rítmicas e harmónicas e entrega-se a melodia aos aerofones! O resultado é tudo menos banal.
A reforçar o projecto temos ainda a invejável capacidade criativa do alemão na composição, assinando todos os temas do espectáculo.
Lars Arens nasceu na Alemanha em 1975 e começou por estudar bateria. Foi apenas aos 15 anos que mudou para o trombone estudando com o professor Ulrich Plettendorff. Passou por várias orquestras como a “Westfälische Wilhelmsuniversität” big band, a orquestra de Bob Lanese e a Bundesjugendjazzorchester (orquestra de jazz da juventude alemã). Passou depois pelo Hilversums Conservatorium, na Holanda e por workshops com nomes como Erik van Lier, Maria Schneider, Jim McNeely, Jiggs Wigham, John Clayton & Jeff Hamilton e Vince Mendoza.
Na Holanda conheceu a música Cabo Verdiana (Lars Arens integra igualmente a banda do compositor cabo-verdiano Tito Paris, com quem tem feito várias digressões por terras africanas) que o trouxe até Portugal.
Entre nós fundou a Tora Tora Big Band, o Duôkapi com o guitarrista brasileiro Virgílio Gomes e estes LA Jumping Pulgas, com Bernardo Moreira, Mário Delgado e Bruno Pedroso. Integra também a Big Band do Hot Club de Portugal, a European Jazz Youth Orchestra e a European Movement Jazz Orchestra, além de desempenhar funções docentes em escolas superiores de música de Lisboa e do Porto.
A sua música é irreverente e criativa, numa tentativa permanente de fuga aos clichés. Ritmicamente forte, por vezes mesmo exuberante (Bruno Pedroso e Bernardo Moreira têm aqui papel de relevo, também eles inusitados protagonistas deste ousado projecto musical), a música destas pulgas saltitantes não hesita em recorrer a onomatopias e mesmo ao humor como forma de comunicar com o público. Um vale tudo que começa por estranhar mas acaba por seduzir e mesmo entusiasmar, num dos mais originais e divertidos projectos musicais surgidos em Portugal, nos últimos tempos.
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2 comentários:
Em nome das pulgas muito obrigado! É a 1a crítica existente sobre nós!
Cumprimentos da Boba!
De nada Lars. Parabéns pelo concerto, pelo projecto e pela boa disposição.
É uma honra ser o primeiro. Ainda por cima foi positiva!
Um abraço.
Ricardo
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